O frei Daniele Natale, capuchinho e amigo próximo do Padre Pio, voltou à
vida depois de passar pelo Purgatório e garante: nenhum sofrimento
desta vida se compara às penas do outro mundo.
O texto que publicamos a seguir é um testemunho direto do frei
Daniele Natale, frade capuchinho e amigo muito próximo do Padre Pio de
Pietrelcina, contando a sua experiência com o Purgatório. Ao fim de suas palavras, há uma conclusão — certamente de autoria do Padre Remigio Fiore, em cujo livro, “Fra Daniele racconta... le sue esperienze con Padre Pio”,
estão contidas estas linhas — revelando como este santo homem passou os
anos finais de sua vida, antes de partir deste mundo para o Pai, em
1994.
Trata-se de um testemunho muito edificante da vida eterna, e com
uma base teológica muito sólida, pois, como explicou o Pe. Paulo Ricardo
em homilia recente para o dia de Finados, a mais branda das penas do Purgatório é incomparavelmente superior ao mais terrível dos sofrimentos terrestres.
O texto que ora apresentamos foi traduzido do italiano, em grande parte, pelo site “Rainha Maria”, ao qual acrescentamos apenas alguns excertos que faltavam no original.
Sou um simples irmão capuchinho. Passei toda a minha vida fazendo o
trabalho que me correspondia: porteiro, sacristão, pedinte de esmolas,
cozinheiro. Frequentemente saia com uma bolsa às costas a pedir esmolas
de porta em porta. Todas as manhãs fazia compras para o convento.
Todos me conheciam e me queriam bem. Todas as vezes que ia comprar
alguma coisa, davam-me um desconto. As poucas liras que sobravam, em vez
de entregá-las ao superior, conservava-as comigo para despesas com
correspondência, para minhas pequenas necessidades e também para ajudar
os soldados que vinham bater à porta do convento.
Isso foi logo depois da guerra. Eu encontrava-me em San Giovanni Rotondo, minha cidade natal, no mesmo convento do Padre Pio.
Daí a pouco tempo, comecei a sentir algumas dores no aparelho
digestivo. Após uma consulta, o médico me diagnosticou uma doença
incurável: um tumor.
Pensando na iminência da morte, dirigi-me ao Padre Pio para
informá-lo de meu estado, e ele, depois de me ouvir, disse-me
prontamente: “Tu precisas ser operado!” Fiquei confuso e repliquei:
“Padre, não vale a pena! O médico não me deu nenhuma esperança. Agora
sei que vou morrer”. “Não importa o que disse o médico: tu tens de ser operado, mas em Roma, em tal clínica e com tal cirurgião”.
O Padre me disse isto com com tanta firmeza e convicção que eu
respondi: “Sim, Padre, o farei”. Ele então olhou-me com ternura e,
comovido, acrescentou: “Não tenhas medo; eu estarei sempre contigo”.
Na manhã seguinte parti de viagem a Roma. Sentado no trem, percebia ao meu lado uma presença misteriosa: era o Padre Pio cumprindo a promessa de estar comigo.
Quando cheguei a Roma, soube que a clínica se chamava Regina Elena e o
cirurgião, Ricardo Moretti. Fui internado ao entardecer. Todos pareciam estar à minha espera, como se alguém lhes houvesse anunciado a minha chegada. Acolheram-me imediatamente.
Logo depois da consulta, o diretor sanitário veio solicitar meu
consentimento para que a cirurgia fosse realizada no dia seguinte.
Assinei os papéis necessários. Às sete horas da manhã, já estava no
centro cirúrgico. Prepararam-me para a operação. Apesar da anestesia,
permaneci acordado e consciente, orando ao Senhor com as mesmas palavras
que Ele dirigira ao Pai antes de morrer: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”.
Os médicos deram início à operação, e eu podia entender tudo o que
diziam. Senti dores terríveis, mas não me queixava; pelo contrário,
estava feliz por suportar tanta dor, que eu oferecia a Jesus, e dei-me conta de como todos aqueles sofrimentos tornavam minha alma ainda mais pura dos meus pecados.
À certa altura, caí no sono. Quando voltei a mim, disseram-me que,
antes de morrer, estive três dias em coma. Apresentei-me diante do Trono
de Deus. Eu via a Deus, não como um juiz severo, mas como Pai afetuoso e
cheio de amor. Compreendi então que o Senhor fizera tudo por amor a
mim, que cuidara de mim desde o primeiro até o último instante de minha
vida, amando-me como se eu fosse a única criatura existente sobre esta terra. Mas percebi também que eu não só não tinha correspondido a este imenso amor divino, mas ainda o havia negligenciado por completo.
Fui condenado a duas ou três horas de Purgatório.
“Mas como?” — disse-me de mim para mim. — “Só duas ou três horas? E
depois estar para sempre junto de Deus, eterno Amor?” Dei um salto de
alegria, sentindo-me um filho predileto. A visão desapareceu e eu me
encontrei no Purgatório. Fui condenado a duas ou três de Purgatório sobretudo por ter faltado com o voto de pobreza, por ter conservado comigo aquelas poucas liras, como disse acima. As dores eram terríveis, e não se sabia donde vinham; eu, porém, sentia-as intensamente.
Os sentidos com os quais havia ofendido mais a Deus — os olhos, a
língua… — experimentavam uma dor ainda maior, o que era espantoso,
porque no Purgatório cada um sente como se tivesse corpo e conhece ou reconhece os demais, como acontece neste mundo.
Entretanto, embora não tivesse passado mais do que alguns momentos com tais penas, parecia-me estar ali há uma eternidade.
O que mais faz sofrer no Purgatório não é tanto o fogo, por mais
intenso que seja, mas o sentimento de estar afastado de Deus, e o que mais angustia é saber que tivemos todos os meios disponíveis para salvar-nos e não soubemos aproveitá-los bem.
Pensei então em ir pedir a um meu confrade do convento que rezasse
por mim, agora que me encontrava no Purgatório. Aquele irmão ficou
atônito, porque era capaz de ouvir a minha voz, mas não de me ver. Ele
perguntou: “Onde estás? Por que não te vejo?” Eu persistia e, vendo que
não havia meio de o alcançar, tentei tocá-lo; meus braços, contudo,
cruzavam-se sem tocar-se. Foi só então que me dei conta de que não tinha
mais corpo. Contentei-me, assim, em insistir com ele para que rezasse muito por mim, e por fim o deixei.
“Mas como?” — dizia a mim mesmo. — “Não deveriam ser somente duas ou três horas do Purgatório?... E já não se passaram trezentos anos?” — Ao menos assim me parecia.
De repente, apareceu-me a bem-aventurada Virgem Maria, e eu lhe
roguei, implorando e dizendo: “Ó Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus,
alcançai-me do Senhor a graça de voltar à terra para viver e trabalhar
apenas por amor a Deus!”
Notei também a presença do Padre Pio, a quem supliquei: “Por tuas dores atrozes, por tuas benditas chagas, ó meu Padre Pio, ora a Deus por mim para que me livre dessas chamas e me conceda a graça de continuar meu Purgatório na terra”.
Depois disso não vi mais nada, mas percebi que o Pai estava falando com
Nossa Senhora. Depois de alguns momentos, apareceu-me de novo a
bem-aventurada Virgem Maria: era Nossa Senhora das Graças, mas sem o
Menino Jesus. Ela acenou-me com a cabeça e sorriu. Naquele mesmo instante, tomei posse do meu corpo, abri meus olhos e estendi meus braços.
Então, com um movimento brusco, livrei-me do manto que me cobria.
Estava feliz, eu tinha recebido a graça! Nossa Senhora tinha me
escutado.
Logo em seguida, os que me assistiam e rezavam saíram,
espantadíssimos, da sala a ver se encontravam as enfermeiras e os
médicos. Dentro de poucos minutos, a clínica se converteu num caos. Todos achavam que eu era um fantasma e decidiram fechar bem a porta e ir embora, por certo medo aos espíritos.
Na manhã seguinte, levantei-me muito bem disposto e sentei-me em uma
poltrona. Apesar de a porta estar cuidadosamente vigiada, algumas
pessoas conseguiram entrar, pedindo-me explicações do que sucedera. Para
tranquilizá-las, disse que estava para chegar o médico de plantão, o
qual lhes contaria o que havia ocorrido.
Como de costume, os médicos não chegariam antes das dez horas. Mas
naquela manhã, embora não fossem ainda sete horas, eu disse aos
presentes: “O médico está para chegar, e agora está estacionando o carro
em tal posição”. Mas ninguém quis acreditar em mim. E eu continuava a
dizer-lhes: “Agora está atravessando a rua, levando o casaco sobre o
braço e passando a mão sobre a cabeça como se estivesse preocupado, não
sei o que será…”. No entanto, ninguém dava crédito às minhas palavras.
Então eu disse: “Para que vocês creiam que eu não estou mentindo, afirmo
que o médico está subindo pelo elevador e está prestes a chegar à
porta”. Mal terminara de falar, abriu-se a porta e entrou o médico,
surpreendendo todos os presentes. Com lágrimas nos olhos, o médico
disse: “Sim, agora eu creio em Deus, creio na Igreja e creio no Padre Pio...”.
Esse médico, que antes tinha pouca ou nenhuma fé, confessou que,
naquela noite, não conseguira conciliar o sono pensando na minha morte, que ele havia comprovado antes,
sem dar mais detalhes. Disse que, apesar do atestado de óbito que havia
escrito, voltara com o fim de certificar-se do que tinha acontecido
naquela noite, que tantos pesadelos lhe causara, pois aquele morto (que era eu) não era um morto como os outros. De fato, ele não estava enganado!
Conclusão
Após esta experiência, frei Daniele realmente viveu o Purgatório nesta terra,
purificando-se por meio de enfermidades, sofrimentos e dores,
conformando-se sempre e em tudo com a vontade de Deus. Recordamos aqui
algumas operações às quais ele posteriormente se submeteu: próstata,
colecistite, aneurisma da veia abdominal com uso de prótese, tumor na
vesícula, operação depois de um terrível acidente de trânsito perto de
Bolonha, sem contar outras hospitalizações e dores, não só físicas como
morais.
À irmã Felicetta, que lhe perguntou como se sentia de saúde, frei Daniele confidenciou: “Minha irmã, há mais de quarenta anos que já não me lembro o que significa estar bem”.
Frei Daniele morreu no dia 6 de julho de 1994.
Seus restos mortais foram depositados na capela da enfermaria do
Convento dos Capuchinhos em San Giovanni Rotondo e, durante a récita do
Rosário em sufrágio de sua alma, pareceu a muitos dos presentes que frei Daniele movia os lábios para acompanhar as Ave-Marias.
Sua voz propagou-se tão claramente que o superior, Pe. Livio de
Matteo, quis ter certeza de que não se tratava de morte aparente. Por
isso, trouxe ao local o dr. Nicholas Silvestri, assistente de Medicina
Legal, e o dr. José Pasanella, também assistente de Medicina Legal, que
procederam à realização de um eletrocardiograma em frei Daniele,
tomando-lhe também a temperatura do corpo, pelo que confirmaram
definitivamente sua morte.
Frei Daniele certamente goza da visão beatífica de Deus e, do céu, nos sorri, abençoa e nos protege a todos.
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