Finados
É uma antiquíssima tradição da Igreja
Católica rezar por todos os fiéis falecidos no dia 2 de novembro. A
todos os que morreram “no sinal da fé” a Igreja reserva um lugar
importante na Liturgia: há uma lembrança diária na Missa, com o Memento
(= lembrança) dos mortos, e no Ofício divino. No dia de Finados a Igreja
autoriza que cada sacerdote possa celebrar três Missas em sufrágio das
almas dos falecidos. Essa foi uma concessão do Papa Bento XV em 1915,
quando durante a Primeira Guerra Mundial, julgou oportuno estender a
toda Igreja este privilégio de que gozavam a Espanha, Portugal e a
América Latina desde o séc. XVIII.
Com
a lembrança dos falecidos a Igreja quer lembrar a grande verdade,
baseada na Revelação: a existência da Igreja triunfante no Céu;
padecente no Purgatório e a militante na terra. O Purgatório é o estado
intermediário, mas temporário “onde o espírito humano se purifica e se
torna apto ao céu”.
Os primeiros vestígios de uma comemoração
coletiva de todos os fiéis defuntos são encontrados em Sevilha
(Espanha) no séc. VII, em Fulda (Alemanha) no séc. IX. A comemoração
oficial dos falecidos é devida ao abade de Cluny, santo Odilon, em 998,
mas, muito antes, em toda parte se celebrava a festa de todos os santos e
o dia seguinte era dedicado a memória dos fiéis falecidos. Mas o fato
de que milhares de mosteiros beneditinos dependessem de Cluny favoreceu a
ampla difusão da comemoração. Depois em Roma, em 1311, foi sancionada
oficialmente a memória dos falecidos.
A Tradição da Igreja está repleta de
ensinamentos sobre a oração pelos mortos. S. João Crisóstomo (349-407),
bispo e doutor da Igreja, já no século IV recomendava orar pelos
falecidos: “Levemos-lhe socorro e celebremos a sua memória… Porque
duvidar que as nossas oferendas em favor dos mortos lhes leva alguma
consolação? Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer as
nossas orações por eles” (Hom. 1Cor 41,15).
“Os Apóstolos instituíram a oração pelos
mortos e esta lhes presta grande auxílio e real utilidade” (In Philipp.
III 4, PG 62, 204).
Tertuliano (†220) – Bispo de Cartago,
diz: “A esposa roga pela alma de seu esposo e pede para ele refrigério, e
que volte a reunir-se com ele na ressurreição; oferece sufrágio todos
os dias aniversários de sua morte” (De monogamia, 10).
Tertuliano atesta o uso de sufrágios na
liturgia oficial de Cartago, que era um dos principais centros do
cristianismo no século III: “Durante a morte e o sepultamento de um
fiel, este fora beneficiado com a oração do sacerdote da Igreja”. (De
anima 51; PR, ibidem)
São Cipriano (†258), bispo de Cartago,
refere-se à oferta do sacrifício eucarístico em sufrágio dos defuntos
como costume recebido da herança dos bispos seus antecessores (cf.
epist. 1,2). Nas suas epístolas é comum encontrar a expressão: “oferecer
o sacrifício por alguém ou por ocasião dos funerais de alguém”.
(Revista PR, 264, 1982, pag. 50 e 51; PR ibidem)
Falando da vida de Cartago, no século
III, afirma Vacandart: “Podemos de certo modo conceber o que terá sido a
vida religiosa de Cartago em meados do século III. Aí vemos o clero e
os fiéis a cercar o altar… ouvimos os nomes dos defuntos lidos pelo
diácono e o pedido de que o bispo ore por esses fiéis falecidos; vemos
os cristãos… voltar para casa reconfortados pela mensagem de que o irmão
falecido repousa na unidade da Igreja e na paz do Cristo.” (Revue de
Clergé Français 1907 t. Lil 151; PR, ibidem)
São Cirilo, bispo de Jerusalém (†386),
disse: “Enfim, também rezamos pelos santos padres e bispos e defuntos e
por todos em geral que entre nós viveram; crendo que este será o maior
auxílio para aquelas almas, por quem se reza, enquanto jaz diante de nós
a santa e tremenda vítima”(Catequeses. Mistagógicas. 5, 9, 10, Ed.
Vozes, 1977, pg. 38).
Desde os primeiros séculos a Igreja reza
pelos falecidos. No segundo livro de Macabeus, da Bíblia, encontramos
esta recomendação: “É coisa santa e salutar lembrar-se de orar pelos
defuntos, para que fiquem livres de seus pecados”. (2Mac 12,46)
Não só é coisa santa rezar pelos
falecidos, mas o dia de finados é uma oportunidade para todos refletirem
sobre a morte: “Bem-aventurado o homem que, quando o Senhor vier
buscá-lo, estiver preparado”.
No dia de Finados, não festejamos a
morte, mas a vida após a morte, a ressurreição que Cristo nos
conquistou com sua morte e Ressurreição. O Catecismo da Igreja lembra
que: “Reconhecendo cabalmente esta comunhão de todo o corpo místico de
Jesus Cristo, a Igreja terrestre, desde os tempos primitivos da religião
cristã, venerou com grande piedade a memória dos defuntos…”(CIC, § 958)
“A nossa oração por eles [no Purgatório] pode não somente ajudá-los,
mas também torna eficaz a sua intercessão por nós”. (CIC, § 958)
Falando dos falecidos disse um dia o Papa João Paulo II: “Numa
misteriosa troca de dons, eles [no Purgatório] intercedem por nós e nós
oferecemos por eles a nossa oração de sufrágio.“ ( LR de 08/11/92, p.
11)
“A tradição da Igreja exortou sempre a rezar pelos mortos. O
fundamento da oração de sufrágio encontra-se na comunhão do Corpo
Místico… Por conseguinte, recomenda a visita aos cemitérios, o adorno
dos sepulcros e o sufrágio, como testemunho de esperança confiante,
apesar dos sofrimentos pela separação dos entes queridos” (LR, n. 45, de
10/11/91).
Portanto, o Papa João Paulo II deixou bem claro que as almas do
Purgatório também rezam por nós. E mostrou também que é importante ir ao
Cemitério e enfeitar os túmulos dos falecidos como sinal de nossa
esperança na ressurreição.
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