Sabemos
que os cristãos esperam o Dia do Senhor, que será o Dia da Parusia, da
Manifestação gloriosa de Cristo. Mas, em que consistirá esta
Manifestação?
Primeiramente é necessário deixar bem claro que o Dia da Vinda do
Senhor não é um dia entre os outros dias: é o Dia: Dia que já não
pertence à sequência de dias do nosso modo de contar o tempo… Não é um
dia de 24 horas. O Dia do Senhor não pertence mais a este nosso tempo; é
um Dia sem fim, um Dia eterno, um Dia que já não é mais iluminado pela
luz deste sol, mas pelo próprio Sol de Justiça, Cristo glorioso, pleno
do esplendor do Espírito Santo.
Assim sendo, duas coisas devem ser claras para nós:
1. Não podemos marcar a data do Dia do Senhor: este Dia estará fora dos dias, meses e anos; já não pertence ao nosso tempo!
2. Também não podemos descrever o que ocorrerá neste Dia.
Isto por um motivo simples: este Dia pertence já à eternidade, à Glória
e, assim, não pode ser descrito nem comparado a nada neste mundo!
Quando a Escritura usa imagens para falar deste Dia, é somente para nos
dar uma ideia distante daquilo que ocorrerá. Querer descrever o final
dos tempos é fundamentalismo tolo; é rebaixar o Dia eterno aos nossos
pobres dias!
Uma coisa é certa: o Senhor virá, glorioso, pleno do esplendor do
Espírito Santo, que o ressuscitou dos mortos. A sua Vinda, que será
Manifestação da sua Glória, terá consequências imensas:
1. Primeiramente ficará claro na Vinda do Senhor
Jesus, sua relação com o Pai e o Espírito Santo, ou seja, aparecerá a
Glória da Trindade que nos salva: é o Pai quem enviará o Cristo
glorificado:
“Virão da parte de Deus os tempos de refrigério e enviará aquele que
vos é destinado: o Cristo Jesus” (At 3,20). O mesmo Pai que enviou o
Filho a primeira vez, enviá-lo-á na sua Parusia, que é iniciativa
salvífica do Pai que tanto nos ama! O Pai que tudo criou pelo Filho e
para o Filho, e quer através dele, tudo levar à plenitude, tudo
glorificar (cf. Cl 1,16). Este Filho vem glorificado pelo Espírito que o
Pai derramou sobre ele na Ressurreição (cf.Rm 1,3s). É o Espírito quem
glorifica o Filho na sua natureza humana, morta e ressuscitada; é na
potência do Espírito que o Cristo aparecerá diante do mundo com Senhor e
Juiz. Ele vem,pleno do Espírito, para encher da Glória do Espírito
todas as coisas:
“A este Jesus Deus o ressuscitou. Exaltado pela direita de Deus, Ele
recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou” (At 2,32s; cf.
Jo 14,26; 20,19-23); “Sucederá os últimos dias, diz o Senhor, que
derramarei o meu Espírito sobre toda a carne”… (At 2,17).
2. A Vinda do Cristo será também manifestação da
Glória do Senhor ressuscitado. Desde a Ressurreição Jesus assume pleno
domínio sobre todas as coisas, mas este domínio não se exerce ainda em
toda a plenitude. Jesus já é o Senhor; a salvação já aconteceu; o seu
domínio é real, mas não ainda plenamente manifestado. Quando ele se
manifestar, então sim, tudo ser-lhe–á submetido para que tudo entre na
Glória do seu Espírito e chegue até o Pai. A Parusia manifestará em toda
a criação, e em nós, particularmente, aquela plenitude de Vida que, em
Cristo, já é uma realidade plena:
“Vi o céu aberto e eis um cavalo branco. Quem o montava chama–se Fiel
e Verdadeiro e é com justiça que julga e faz guerra. Seus olhos são
como chamas de fogo, traz na cabeça muitos diademas e tem um nome
escrito que ninguém conhece, só ele mesmo. Está vestido com um manto
tinto de sangue e seu nome é Verbo de Deus. Seguem-no os exércitos
celestes em cavalos brancos, vestidos de linho branco puro. De sua boca
sai uma espada afiada para ferir as nações. Deverá governá-las com cetro
de ferro e pisar o lagar do vinho com o furor da cólera de Deus
Todo-poderoso. Sobre o manto e sobre a coxa está escrito seu nome: Rei
dos reis, Senhor dos senhores” (Ap 19,11-16).
Neste texto aparece o domínio de Cristo sobre a história: ele é a realização da nova criação, gloriosa, feliz, livre do pecado.
A nova criação coincide com a Vinda do Cristo: ele vem para trazer a
glória da salvação, pois é e será sempre o Salvador: “Do mesmo modo
também Cristo, que se ofereceu uma vez para tirar os pecados de muitos,
aparecerá, pela segunda vez, sem pecado para os que o esperam a fim de
receberem a salvação” (Hb 9,28).
3. A Vinda do Cristo será também glorificação e
realização plena da Igreja. Se ela é o Corpo de Cristo, a Glória da
Cabeça (Cristo) glorificará plenamente todo o Corpo. Esta ideia aparece
muito clara no Apocalipse, onde a Igreja é apresentada como a Jerusalém
gloriosa, toda enfeitada como Esposa do Cordeiro, toda pura e toda
iluminada pela luz do próprio Cristo ressuscitado(cf. Ap 21).
4.
A Manifestação do Cristo será também glorificação do homem pela
ressurreição. O cume da obra de Jesus e a plenitude da Igreja serão
também a plenitude do homem: “Na verdade Cristo ressuscitou dos mortos
como primícias dos que morrem. Com efeito, assim como por um homem veio a
morte, assim também por um homem vem a ressurreição dos mortos. Assim
como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão. Cada qual,
porém, em sua ordem: como primícias, Cristo, em seguida os que forem de
Cristo por ocasião de sua vinda. Depois será o fim, quando entregar o
reino a Deus Pai” (1Cor 15,20-24).
A Vinda do Cristo será para nós Dia da Ressurreição, Dia em que todos
ressuscitarão em seus corpos revestidos do mesmo Espírito que
ressuscitou o corpo do Cristo! Assim, a Jerusalém celeste, que é a
Igreja, estará plenamente gloriosa, com todos os seus filhos
ressuscitados pela Glória do Espírito, todos como membros do Cristo no
seio amoroso do Pai!
Retirado do livro: “Escatologia, Sobre o Fim do Mundo”. Dom Henrique Soares da Costa. Ed. Cléofas.
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