sábado, 23 de setembro de 2017

COMO PERDOAR COISAS IMPERDOÁVEIS ?

A pessoa que não perdoa continua sendo escrava de quem a ofendeu.


 Antonio Guillem | Shutterstock


Não sei muito bem se nesta vida há coisas imperdoáveis. Há pecados terríveis. Quantos assassinatos! Quanta corrupção! Às vezes, penso que há coisas que me parecem imperdoáveis. Como perdoar o assassino de um ente querido? Ou a infidelidade de alguém que eu amo? Para mim parece impossível.
Para o homem é impossível, é verdade. Mas não para Deus. Eu carrego ofensas que não consegui perdoar. Elas me parecem imperdoáveis. Em algumas ocasiões, creio que isso acontece pela magnitude da ofensa, pelo dano causado.
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Outras vezes, pela atitude de quem me ofendeu uma ou mil vezes e acha que fez bem. Nunca se arrepende, nunca pede perdão. Essa atitude, para mim, é imperdoável.
Porém, creio que o problema é mais meu que do daquele que me ofendeu. Guardo rancores na alma por ofensas que, talvez, quem me ofendeu já tenha esquecido. Ou nunca soube. Não é consciente do que eu guardo na lembrança. Eu mantenho minha postura. Não perdoo. Não é justo.
Quando me lembro da ofensa, fico indignado novamente. Quase como se aquilo estivesse acontecendo agora mesmo, outra vez. O mesmo sentimento de raiva, de ira. A cólera me cega. Mas eu não perdoo. Porque não me parece justo perdoar tudo. Acho que há coisas imperdoáveis. Há pessoas que não merecem o perdão.
Miriam Subirana comenta: “Se estamos magoados, a via de saída passa por aceitar e perdoar. Perdoar mostra que nós somos donos de nosso bem estar e deixamos de ser vítimas do outro. Sem esse domínio nossa mente irá, uma ou outra vez, até esse lugar de sofrimento, repetirá o “por que comigo?”, “como se atreveu?”. Os pensamentos serão como um martelo constante, e os sentimentos de raiva, frustração e tristeza não serão controlados. Como um verme, seus próprios pensamentos consumirão as entranhas de  eu ser e você ficará esgotado, sem energia.”
Não quero que isso aconteça em minha alma. Mas sempre ocorre quando não estou disposto a perdoar. Não é que eu não consiga fazê-lo. É que não quero. Não me parece educativo para o que ofende. Ele não receberia o pagamento proporcional ao mal causado. Não haveria justiça. Não pode ser.
E continuo sofrendo, porque o ódio e a raiva consomem minha alma. Vou afundando na minha própria lama. Encho-me de veneno e de amargura. Não quero perdoar para sair dessa encruzilhada. Continuo ofendido. Que não pensem que eu já esqueci. Continuo sendo o escravo de quem me magoou. Ele segue tendo domínio sobre mim. Sem saber.
Creio que esse não seja o caminho. Muitas pessoas me dizem que não estão dispostas a perdoar a quem lhes ofendeu. Não querem. Isso me surpreende. Estão cheias de ódio. Guardam raiva ao recordar a ofensa. Magoam-se. Não perdoam.
Talvez o Evangelho me motive a querer perdoar. É um primeiro passo para sair da prisão da minha própria raiva. É só o começo de um caminho difícil, mas que sempre começa com um desejo, o desejo de perdoar de coração.
Hoje, vejo as ofensas que guardo e me pergunto se as perdoei. Talvez, no meu interior, guardo ofensas não esquecidas, não perdoadas. Quero que Deus me presentei o desejo de perdoar. De perdoar a quem me ofendeu. Sete vezes. Setenta vezes sete. 




Padre Carlos Padilla

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