A pessoa que não perdoa continua sendo escrava de quem a ofendeu.
Antonio Guillem | Shutterstock
Não
sei muito bem se nesta vida há coisas imperdoáveis. Há pecados
terríveis. Quantos assassinatos! Quanta corrupção! Às vezes, penso que
há coisas que me parecem imperdoáveis. Como perdoar o assassino de um
ente querido? Ou a infidelidade de alguém que eu amo? Para mim parece
impossível.
Para o homem é impossível, é verdade. Mas não para Deus. Eu carrego
ofensas que não consegui perdoar. Elas me parecem imperdoáveis. Em
algumas ocasiões, creio que isso acontece pela magnitude da ofensa, pelo
dano causado.
Outras vezes, pela atitude de quem me ofendeu uma ou mil vezes e acha
que fez bem. Nunca se arrepende, nunca pede perdão. Essa atitude, para
mim, é imperdoável.
Porém, creio que o problema é mais meu que do daquele que me ofendeu.
Guardo rancores na alma por ofensas que, talvez, quem me ofendeu já
tenha esquecido. Ou nunca soube. Não é consciente do que eu guardo na
lembrança. Eu mantenho minha postura. Não perdoo. Não é justo.
Quando me lembro da ofensa, fico indignado novamente. Quase como se
aquilo estivesse acontecendo agora mesmo, outra vez. O mesmo sentimento
de raiva, de ira. A cólera me cega. Mas eu não perdoo. Porque não me parece justo perdoar tudo. Acho que há coisas imperdoáveis. Há pessoas que não merecem o perdão.
Miriam Subirana comenta: “Se estamos magoados, a via de saída
passa por aceitar e perdoar. Perdoar mostra que nós somos donos de nosso
bem estar e deixamos de ser vítimas do outro. Sem esse domínio nossa
mente irá, uma ou outra vez, até esse lugar de sofrimento, repetirá o
“por que comigo?”, “como se atreveu?”. Os pensamentos serão como um
martelo constante, e os sentimentos de raiva, frustração e tristeza não
serão controlados. Como um verme, seus próprios pensamentos consumirão
as entranhas de eu ser e você ficará esgotado, sem energia.”
Não quero que isso aconteça em minha alma. Mas sempre ocorre quando
não estou disposto a perdoar. Não é que eu não consiga fazê-lo. É que
não quero. Não me parece educativo para o que ofende. Ele não receberia o
pagamento proporcional ao mal causado. Não haveria justiça. Não pode
ser.
E continuo sofrendo, porque o ódio e a raiva consomem minha alma. Vou
afundando na minha própria lama. Encho-me de veneno e de amargura. Não
quero perdoar para sair dessa encruzilhada. Continuo ofendido. Que não
pensem que eu já esqueci. Continuo sendo o escravo de quem me magoou. Ele segue tendo domínio sobre mim. Sem saber.
Creio que esse não seja o caminho. Muitas pessoas me dizem que não
estão dispostas a perdoar a quem lhes ofendeu. Não querem. Isso me
surpreende. Estão cheias de ódio. Guardam raiva ao recordar a ofensa.
Magoam-se. Não perdoam.
Talvez o Evangelho me motive a querer perdoar. É um primeiro passo
para sair da prisão da minha própria raiva. É só o começo de um caminho
difícil, mas que sempre começa com um desejo, o desejo de perdoar de
coração.
Hoje, vejo as ofensas que guardo e me pergunto se as perdoei. Talvez,
no meu interior, guardo ofensas não esquecidas, não perdoadas. Quero que Deus me presentei o desejo de perdoar. De perdoar a quem me ofendeu. Sete vezes. Setenta vezes sete.
Padre Carlos Padilla
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