terça-feira, 26 de julho de 2011

UM LAGO CHAMADO "FÉ"


Hoje vou falar-te de um Lago.
Imagina: um Lago muito grande, bonito…. Juntos, damo-nos conta deque a água da margem do Lago não é límpida, não porque o Lago seja sujo, mas porque na margem a água sempre se mistura com o lodo e com a terra. E nós não gostamos muito de águas turvas…

Por isso, começamos a estender o nosso olhar para o centro do Lago, e damo-nos conta de que, quanto mais nos afastamos da margem em direção ao centro, mais límpidas as águas se tornam.

Aí, no centro do Lago, a água torna-se tão cristalina que até podemos matar a nossa sede com ela, mas não com a água das margens.

Deixa-me então conduzir-te no meu barco até ao centro deste Lago que se chama “Fé”. Sim, um Lago chamado Fé, porque também a Fé tem margens de crenças turvas, doutrinas pouco límpidas e religiosidades que não dessedentam a sede de Vida de nenhum coração. Um Lago chamado Fé, porque também temos que lhe descobrir o centro, o fundamental, onde a água se torna cristalina, espelho do rosto de Deus e fonte permanente de Vida Nova.

Ter Fé não é possuir um produto, mas sim viver uma relação de confiança. Conheço cabeças cheias de doutrinas religiosas que coabitam com corações vazios de Fé. Então, começam a chamar Fé ao saber dessas doutrinas. É a “fé de pacote”: o que importa é ter no seu domínio o “pacote” completo das verdades aprendidas de Deus e as rezas a condizer, de preferência sabidas de cor! O pior é que nós depois bem vemos no que isso dá: ou se cai no alheamento do mundo e dos outros em nome de uma piedade intimista de devoções vazias, ou se cai no farisaísmo em nome de uma suposta lei de Deus, que está nas mãos dessa devota gente, zelosa dos bons costumes, sobretudo dos outros.

Sabes, amigo, esta “fé de pacote”, esta fé que não faz das pessoas mais felizes, não vem de Deus, podes estar descansado! Esta é criação dos Homens! Eu vou-te dizer onde é que está a causa: o problema do costume é continuarmos sempre a confundir religião e Fé.

Religião é a necessidade natural do Homem em acreditar numa divindade salvadora, para lá da história; acima de tudo, é a procura incessante do Homem, desde os primórdios, por uma salvação da vida,sobretudo diante do mistério do sofrimento e da morte. A religião é um movimento do Homem à procura de Deus, mas segundo as suas próprias forças, critérios e limitações.

Mas a Fé, esta é uma experiência contrária do coração humano. É fazer a experiência do movimento de Deus à procura do Homem, e o acolhimento da Sua força, dos Seus critérios transformadores e do Seu Amor recriador. A Fé Cristã é o reconhecimento deste Amor fiel de Deus que vem ao nosso encontro desde sempre como proposta de Vida Nova e se encontra conosco definitivamente em Jesus Cristo, a ponto de nele nos assumir como membros da Sua própria Família.

Quando um Cristão diz que tem Fé, tem que dizer muito mais do que “eu acredito que Deus existe.”

Há milhões de homens e mulheres no mundo que também dizem “eu acredito em Deus, eu sei que Ele existe”, e nem por isso têm Fé Cristã. Porque esta é ao jeito de Jesus, o Cristo, no qual acreditar não é a prova de uma existência, mas sim o selo de uma relação de confiança.

Isto é tão simples…

Olha e vê: quando duas pessoas que se amam dizem uma à outra “eu acredito em ti!”, não estão certamente a dizer uma à outra “eu sei que tu existes.” “Eu acredito em ti”, no contexto de amor entre pessoas, significa: “eu confio em ti e eu confio-me a ti, porque te amo e sei que me amas!”

Deus é Amor!!! Porque é que quando dizemos “acredito em Deus”, isso significa “eu sei que Ele existe”, e não “confio em Deus e confio-me a Deus, porque O amo e sei que Ele me ama”?! Só esta é a Fé que nos interessa, porque só esta brota de Jesus e do acolhimento do seu Espírito. O resto, que nos entra tantas vezes pelos olhos dentro, é fé das margens do Lago: turva, misturada com muita terra e lodo, que não limpa nem mata a sede.

Há gente que, em nome de uma “fé aprendida”, passa a vida inteira escrava de normas rituais e leis de culto, que em nada são o rosto do Deus de Jesus Cristo, aquele Messias subversivo que há 2011 anos libertou os seus discípulos dos rituais balofos e dos cultos vazios.

Acho que o profeta de Nazaré não reconheceria hoje a Sua Igreja…

Como há 2011 anos vergastou o templo de Jerusalém, também hoje voltaria a “pôr em pantanas”este Templo de Deus que é cada um de nós, tantas vezes cheio de tantos nadas.

Como há 2011 anos, voltaria a libertar-nos da lógica de um “deus de mortos”, e chamar-nos-ia à Vida que brota em nós, se nos abrirmos ao Deus Vivo.

Como há 2011 anos, rasgar-nos-ia o coração e deitaria fora o “pacote religioso de verdades aprendidas e rezas sabidas de cor”, a que tantas vezes chamamos fé.

E depois, Ele nos pegaria e conduziria pela mão à verdadeira experiência da Fé, ensinando-nos os segredos do Amor de Deus e movendo-nos à confiança n’Ele. Aprenderíamos de novo com Ele a conversar com Deus como se fala com um amigo absolutamente fiel. Irromperia no nosso coração a alegria da oração, e passaríamos a viver com Deus no centro dos nossos dias.

Sim, como há 2011 anos, o Messias-Profeta de Nazaré convidaria os seus discípulos a querer muito mais do que lhes tinham ensinado…

Dir-lhes-ia que era possível, que estava sempre com eles até ao fim, que lhes enviava o seu Espírito como certeza de vitória. Eu te garanto: como há 2011 anos, Jesus diria de novo “Vem e segue-me!” a todos os seus.

“Vem e segue-me!” pelos caminhos da Fé que liberta, da Esperança que nos faz fortes e do Amor que nos faz saborear a Salvação.



Tenho a certeza que hoje Jesus diria tudo isto…
Como aliás, acabou dizer….



 
Pemiliocarlos

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