Diz o livro de Jó: “Se Deus pensasse apenas em si mesmo e para si recolhesse o seu espírito e o seu sopro, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó” (Jó 34,14,15).
Este texto é um dos tantos que nos mostra como toda criação depende da ação contínua e misericordiosa de Deus para manter-se funcionando e como Ele se preocupa com ela e com seu povo de uma forma especial. (cf. Ex 3,7-8; Sl 104.27-30).
Isso significa que Deus é imanente. Ele está profundamente envolvido com a criação e com nossa história. Deus não fez o mundo e o homem para manter distância e se ocultar deles. Mas, para se relacionar em amor e glorificar neles o seu Nome. É por isso que Paulo diz: “de um só fez toda a raça humana (…) para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17,26-28). Ele não está distante, desligado ou inerte. Deus age de maneira ordinária, direta e indiretamente, e até mesmo intervém de modo especial na vida dos seres humanos que criou, especialmente na vida daqueles com os quais tem uma relação pactual, aqueles a quem Jesus Cristo veio salvar. Se Deus não se relacionasse conosco, jamais poderia nos amar e, tão pouco, nos salvar.
Ao mesmo tempo em que Deus se relaciona com o universo e o homem, Ele afirma estar muito além deles: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos” (Is 55,8,9). Deus está acima de nossa compreensão e acima de nossas relações. Há uma diferença de grau entre a criação e o Criador. Isso significa que Deus é transcendente. Mesmo mantendo relações estreitas com a criação e, especialmente, com o homem, Deus não se funde nem se confunde com eles.
Isso não significa que Deus seja simplesmente maior que o homem. Ao contrário, são dois seres fundamentalmente diferentes. Deus está num nível diferente de tal forma que não pode ser percebido, a menos que se faça percebido. Isso nos ajuda a ver como e quanto Ele está acima de nós. Não somos o mais alto bem do universo. Por isso, devemos reverenciá-lo em nossa adoração. Quando adoramos a Deus não o fazemos apenas como filhos, mas como criaturas diante do Altíssimo.
Assim, o Deus que habita as alturas tem preocupação com o que acontece com os homens: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos” (Is 57,15). A transcendência e a imanência andam lado a lado. Jesus Cristo é a plenitude da imanência de Deus. É o próprio Deus – o transcendente – habitando entre os homens. Ele mesmo diz: “Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós sois deste mundo, eu deste mundo não sou” (Jo 8,23). A despeito dessa distância, Jesus, o verbo de Deus, cruzou o abismo, tendo compaixão de nós, para que pudéssemos ser salvos.
Portanto, Deus não só se revela a nós, mas também se relaciona conosco, mesmo sendo o Altíssimo que está além da nossa esfera temporal e material. Conhecê-lo melhor mudará profundamente a maneira como vemos e vivemos a vida e nos trará a um relacionamento mais íntimo com Ele. Quanto mais o conhecermos, mais o amaremos e mais prazer teremos em sua presença.
Autor: Jônatas da Cunha Ferreira
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