Homens da Galileia, por que estais admirados, olhando para o céu? Este Jesus há de voltar, do mesmo modo que o vistes subir, aleluia! (At 1,11)
Em comunhão com os cristãos do mundo inteiro, celebramos nesta Eucaristia a Ascensão do Senhor. Jesus conclui sua missão, despede-se dos seus e é elevado e glorificado pelo Pai. Em sintonia com o tema deste quinquagésimo sétimo (57º) Dia Mundial das Comunicações – “Falar com o coração: vivendo a verdade, no amor” -, nós, Igreja de Cristo, queremos ser continuadores da sua missão, transmitindo a herança do amor e da verdade do Ressuscitado a todas as pessoas.
Leitura dos Atos dos Apóstolos – 1No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo 2até o dia em que foi levado para o céu, depois de ter dado instruções, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que tinha escolhido. 3Foi a eles que Jesus se mostrou vivo depois da sua paixão, com numerosas provas. Durante quarenta dias, apareceu-lhes falando do Reino de Deus. 4Durante uma refeição, deu-lhes esta ordem: “Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual vós me ouvistes falar: 5‘João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias'”. 6Então os que estavam reunidos perguntaram a Jesus: “Senhor, é agora que vais restaurar o reino em Israel?” 7Jesus respondeu: “Não vos cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua própria autoridade. 8Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que descerá sobre vós para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra”. 9Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo. 10Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, 11que lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”. – Palavra do Senhor.
Por entre aclamações, Deus se elevou, / o Senhor subiu ao toque da trombeta.
1. Povos todos do universo, batei palmas, / gritai a Deus aclamações de alegria! / Porque sublime é o Senhor, o Deus altíssimo, / o soberano que domina toda a terra. – R.
2. Por entre aclamações, Deus se elevou, / o Senhor subiu ao toque da trombeta. / Salmodiai ao nosso Deus ao som da harpa, / salmodiai, ao som da harpa, ao nosso rei! – R.
3. Porque Deus é o grande rei de toda a terra, / ao som da harpa acompanhai os seus louvores! / Deus reina sobre todas as nações, / está sentado no seu trono glorioso. – R.
Leitura da carta de São Paulo aos Efésios – Irmãos, 17o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer. 18Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos 19e que imenso poder ele exerceu em favor de nós, que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente. 20Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, 21bem acima de toda autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa mencionar não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro. 22Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça da Igreja, 23que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal. – Palavra do Senhor.
Aleluia, aleluia, aleluia.
Ide ao mundo, ensinai aos povos todos; / convosco estarei todos os dias, / até o fim dos tempos, diz Jesus (Mt 28,19s). – R.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 16os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. 17Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. 18Então, Jesus aproximou-se e falou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. 19Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo 20e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo”. – Palavra da salvação.
Antes, porém, de subir aos céus, Nosso Senhor, conforme vemos no Evangelho deste domingo, dirigiu-se aos Apóstolos para revelar o seu senhorio (v. 18) e, logo em seguida, confiar-lhes uma missão (v. 19-20).
Ao declarar: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra”, Cristo nos mostra que habita sob luz inacessível “nos céus” (ἐν οὐρανῷ) e exerce seu poder “sobre a terra” (ἐπὶ τῆς γῆς). Obviamente, enquanto Verbo eterno de Deus, Ele não precisava receber a autoridade; mas a recebeu porque assumiu a natureza humana, em corpo e alma, a fim de redimi-la e elevá-la.
Com sua morte na Cruz, Jesus conquistou para nós a salvação, à qual precisamos aderir efetivamente através de nossas ações. Por isso, depois de recordar que toda autoridade lhe foi dada, Jesus ordena aos Apóstolos que socorram e assistam a humanidade na busca pela salvação: “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!”
2. Nosso Senhor inaugura, assim, o tempo da Igreja, a qual — perdurando ao longo dos séculos até a sua vinda gloriosa para julgar os vivos e os mortos — tem a missão de assistir a humanidade nesta peregrinação terrena, administrando-lhe os sacramentos e ensinando-lhe aquilo que Cristo sempre ensinou.
Para compreender melhor como se caracteriza, ou como deveria ser, esse tempo da Igreja, é pertinente observarmos as palavras de Jesus no texto original grego. Na ordem dada aos Apóstolos: “Ide”, Ele utiliza o termo πορευθέντες, cujo sentido é de um “ir” permanente, constante. Ou seja, a Igreja precisa ir em missão perpetuamente, até o fim dos tempos. E o objetivo desse “Ide” não é outro senão “fazer discípulos” (μαθητεύσατε) a “todas as gentes” (ἔθνη”), isto é, converter em seguidores de Jesus Cristo aqueles que não o conhecem ou não o servem. Essas palavras são ocasião de um profundo exame de consciência acerca de nossa missão, sobretudo numa época em que o indiferentismo religioso cerceia o ímpeto missionário da Igreja e aqueles que dizem “evangelizar” não fazem mais que pregar um pacifismo negligente que anestesia as consciências.
Logo em seguida, Jesus deixa claro os meios pelos quais os Apóstolos devem fazer discípulos. O primeiro é “batizando” (βαπτίζοντες), isto é, dando acesso aos sacramentos. O segundo meio de fazer discípulos é “ensinando” (διδάσκοντες). Essa é a missão que Jesus deu à Igreja e à qual ela não pode renunciar. Mas não consiste em ensinar qualquer coisa e sim “a observar tudo o que vos ordenei”. Ou seja, a Igreja não ensina de forma autônoma o que bem entende (como muitos gostariam); sua autoridade subsiste enquanto ela estiver ensinando o que Jesus sempre ensinou, sem novidades ou concessões.
Nesse aspecto, é relevante destacar que o Magistério da Igreja, além de estabelecer e ensinar a doutrina que Jesus nos deixou, precisa levar as pessoas a compreender — pela luz natural da razão e a luz sobrenatural da fé — o que está por trás dessa doutrina, quais as implicações das verdades doutrinárias em suas vidas. Somente assim, as pessoas conseguirão verdadeiramente amar a Deus e unir-se a Ele.
Por fim, Jesus exorta os Apóstolos a enxergar que Ele está com eles. Diferentemente da tradução litúrgica do Brasil, no original grego, Nosso Senhor não afirma que estará, mas sim que está com eles: “Vede, eu estou convosco” (ἰδοὺ ἐγὼ μεθ’ ὑμῶν εἰμι); e essa presença perdurará “até o fim dos tempos” (ἕως τῆς συντελείας τοῦ αἰῶνος), ou seja, Ele está conosco nestes tempos da Igreja, apesar de todas as tribulações e adversidades.
Escutemos com fé essas últimas palavras de Nosso Senhor antes de subir aos céus, e busquemos uma união íntima com Ele através dos sacramentos e da doutrina de sempre. Se assim o fizermos, experimentaremos em nossas vidas a promessa de Cristo à sua santa Igreja, sobre a qual portæ inferi non prævalebunt, e conseguiremos nutrir o desejo constante de amar a Deus e nos encontrarmos face a face com Ele na eternidade.
Oração. — Senhor, Vós que elevastes a natureza humana à glória celeste e socorrestes a humanidade na sua peregrinação terrena, ajudai-nos a alcançar uma união íntima convosco participando dos sacramentos e observando os vossos ensinamentos. Amém.
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