Leitura do livro do Eclesiastes – 2“Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.” 3Que proveito tira o homem de todo trabalho com o qual se afadiga debaixo do sol? 4Uma geração passa, outra lhe sucede, enquanto a terra permanece sempre a mesma. 5O sol se levanta, o sol se deita, apressando-se para voltar ao seu lugar, donde novamente torna a levantar-se. 6Dirigindo-se para o sul e voltando para o norte, ora para cá, ora para lá, vai soprando o vento, para retomar novamente o seu curso. 7Todos os rios correm para o mar e, contudo, o mar não transborda; voltam ao lugar de onde saíram para tornarem a correr. 8Tudo é penoso, difícil para o homem explicar. A vista não se cansa de ver nem o ouvido se farta de ouvir. 9O que foi, será; o que aconteceu, acontecerá: 10não há nada de novo debaixo do sol. Uma coisa da qual se diz: “Eis aqui algo de novo”, também esta já existiu nos séculos que nos precederam. 11Não há memória do que aconteceu no passado nem também haverá lembrança do que acontecer, entre aqueles que viverão depois. – Palavra do Senhor.
Ó Senhor, vós fostes sempre um refúgio para nós.
1. Vós fazeis voltar ao pó todo mortal / quando dizeis: “Voltai ao pó, filhos de Adão!” / Pois mil anos para vós são como ontem, / qual vigília de uma noite que passou. – R.
2. Eles passam como o sono da manhã, / são iguais à erva verde pelos campos: / de manhã ela floresce vicejante, / mas à tarde é cortada e logo seca. – R.
3. Ensinai-nos a contar os nossos dias / e dai ao nosso coração sabedoria! / Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis? / Tende piedade e compaixão de vossos servos! – R.
4. Saciai-nos de manhã com vosso amor, / e exultaremos de alegria todo o dia! / Que a bondade do Senhor e nosso Deus † repouse sobre nós e nos conduza! / Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho. – R.
Aleluia, aleluia, aleluia.
Sou o caminho, a verdade e a vida; / ninguém vem ao Pai senão por mim (Jo 14,6). – R.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 7o tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que estava acontecendo e ficou perplexo, porque alguns diziam que João Batista tinha ressuscitado dos mortos. 8Outros diziam que Elias tinha aparecido; outros, ainda, que um dos antigos profetas tinha ressuscitado. 9Então Herodes disse: “Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas?” E procurava ver Jesus. – Palavra da salvação.
O Evangelho de hoje nos apresenta Herodes Antipas, que, embora procure ver Jesus, é incapaz de professar a fé. Para compreendermos esta passagem, façamos um paralelo com um outro episódio, o da confissão de São Pedro (cf. Lc 9, 18-20). Tanto o tetrarca quanto o chefe dos apóstolos têm as mesmas informações e sabem o que o povo diz a respeito de Cristo. Estão, de certa maneira, na mesma situação; mas a resposta de um e de outro ao Senhor é diversa: Herodes parece não conseguir penetrar o mistério daquele Nazareno de quem tanto ouve falar, ao passo que Pedro, inspirado, confessa que Jesus é o Cristo de Deus. Com efeito, o apóstolo Pedro, desde a sua vocação em Genesaré, mostra-se disposto a encontrar-se com Cristo. "Retirar-te de mim, Senhor", exclamara uns trechos antes, reconhecendo ser "um homem pecador" (Lc 5, 8).
Isto vale também para a nossa vida espiritual. Ao fechamento de Herodes contrapõe-se a disposição interior de Simão para reconhecer a própria indignidade e, portanto, para abrir-se à Palavra de Deus. São João Crisóstomo, ao comentar o Evangelho de hoje numa de suas homilias, diz que é típico do pecador ser atormentado pelos fantasmas dos próprios crimes. Com o coração endurecido, Herodes confessa, sem sombra de arrependimento: "Eu degolei a João", e os cochichos do povo tiram-lhe a paz diante da possibilidade de o espírito de João ter voltado para vingar-se. É este como que "ensimesmamento" que o impede de ver Nosso Senhor. Somente o reconhecimento de que somos miséria permite que nos encontremos com a misericórdia de Jesus.
Daqui se vê a diferença entre o arrependimento cristão e as neuras de um complexo de culpa, pois a verdadeira contrição é encontrar-se consigo mesmo sob o olhar de um Deus que nos ama, que deseja acercar-se de nós, apesar de nossas culpas e imperfeições. Herodes não quer ver a realidade sobre si, mas apenas certificar-se de que Jesus não é um vingador e apaziguar, assim, os seus fantasmas interiores. Muitas pessoas acabam vivendo a religião com essa mesma postura, à busca de rituais e sortilégios que tranquilizem sua má consciência. Mas o cristianismo não é isso; trata-se, antes, de despojar-nos das máscaras, fantasias e ilusões que criamos a nosso respeito e, caídos "nus" aos pés de Cristo, seguirmos Aquele "que perscruta os corações" (Rm 8, 27).
https://padrepauloricardo.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário