sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O SILÊNCIO DO MOSTEIRO.

Há um bom tempo sinto a necessidade de silêncio.

Parece-me que não estou mais tão acostumado a ele como antigamente. Não que o “antigamente” seja tão antigo, mas faz um bom tempo que não desligo tudo – celular, prioridades, carro, preocupações, computador, agenda, responsabilidades, urgências e todos os etecétaras também.
“Mas, padre, isso é vida também!”. Tem razão, é vida. É verdade! Não quero aqui um discurso simplista e saudosista. Só estou dizendo que tenho saudades de silêncio de dentro e silêncio de fora.

É uma necessidade em mim e que estou destreinado.
“Então faça silêncio!”, digo em voz alta e também ouço pessoas falando dentro da minha cabeça. “Por que não faz, então? É tão simples parar!”. Ah! Não é não! Parar como quero e preciso não é tão simples assim... Tenho que pensar, repensar, preparar o meu espírito, parar de falar e fazer.
 
Esqueça, agora, que é um padre falando – alguém que tem uma missão de Igreja e vive em um seminário com doze seminarista , mais uma comunidade paroquial,etc... Tente enxergar aqui a pessoa, o humano igual a você, até porque não quero que gaste o seu tempo com aquilo que é meu. Quem sou eu pra entrar assim no seu tempo? Que atrevimento o meu querer falar de mim.

Minha palavra é apenas minha palavra; irá passar como o vento.
Sou um homem de Deus. Sou de Deus. Deus me fez. Deus tem me recriado cada dia.

Falo de Deus. Celebro a Santa Missa todos os dias em seu nome, in Persona Christi. Ouço e perdôo em Sua pessoa...Prego e ensino sobre Ele. Falo das pessoas para Ele... Peço por elas...
Uma pergunta me provoca: “E eu falo com Deus? Escuto a voz de Deus? Obedeço a sua Palavra? Permito que Ele celebre o seu Memorial no altar de minha história cada dia?
Busco ver a Deus face a face, ou tenho me guiado pelo seu reflexo nas coisas, nas criaturas, nas coisas que faço até em seu nome?”

Chega de perguntas.
Preciso subir à Montanha e, para isso, deixar os pesos inúteis...

A “montanha” é o lugar do sair de mim mesmo e o lugar do encontro com o Outro, Único, Desejado e Pleno.

A montanha está em quase tudo da planície, mas o problema existe quando me perco e gasto o meu melhor nos imediatismos e urgências da planície.

Assim, não vejo a Deus e Deus também não me vê, pois estou estimulado e blindado com a idéia de uma falsa importância.
Preciso descer ao chão sagrado de minha humanidade/humildade (o húmus, a terra fértil e fecunda que é a melhor parte).

As máscaras devem cair o quanto antes. As roupagens pomposas que me escondem e protegem ao mesmo tempo, precisam ser rasgadas – como faziam os penitentes no Antigo Testamento. Preciso “rasgar o coração” para me ver nu diante do Misericordioso. As pinturas que escondem os vincos do meu rosto precisam ser lavadas, para que eu reaprenda a ser visto por um olhar de dentro das pessoas.
O silêncio tem me buscado, querendo andar na minha companhia. A nossa vida está “escondida com Cristo em Deus”, diz São Paulo. Eu preciso dele. O silêncio amado e buscado com todas as forças haverá de nos salvar da vida que se perde na dispersão e nos barulhos.

Buscar um mosteiro, fazer um retiro, talvez seja um bom jeito de recomeçar ao jeito antigo de silenciar o coração.
 
 
A
pemiliocarlos

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