sexta-feira, 7 de outubro de 2011

SER FORTES NO SENHOR.


Entre os membros do Movimento freqüentemente nos lembramos da seguinte frase: "Cada benção de Deus traz consigo uma responsabilidade para quem a recebe" Isto ganha ainda mais atualidade quando lembramos o que o Papa Bento XVI constatava na homilia da Jornada Mundial da Juventude de Colônia, em 2005, que «nos últimos decênios nasceram movimentos e comunidades nas quais a força do Evangelho se faz sentir com vivacidade». E acrescentou o Santo Padre que «a espontaneidade das novas comunidades é importante, mas é também importante conservar a comunhão com o Papa e com os bispos. São eles que garantem que não se anda a procura de caminhos privados, mas que se está a viver, ao contrário, naquela grande família de Deus que o Senhor fundou com os doze apóstolos»1.

MEMÓRIA ATIVA

Buscando acolher com humildade esta orientação do Papa, guiados pela humildade de Maria Imaculada, queremos entesourar os dons que Deus nos dá e buscar responder a eles com coerência. Entre eles podemos fazer memória viva de um acontecimento singular para o MVC como foi a Peregrinação de Pentecostes 98 a Roma. Mais ainda neste tempo de preparação para uma celebração similar em Pentecostes 2006.

Ainda permanece viva entre nós a lembrança daquela festa de fé na Solenidade de Pentecostes em 1998. Foi um momento de grandes bênçãos experimentadas como Movimento. Deve-se mencionar, antes de tudo, os encontros com o Santo Padre João Paulo II, convocado já à Casa do Pai, e também com aqueles Pastores da Igreja que nos ofereceram seu apoio, alento e conselho. Tudo isso refletiu então no que vem sendo uma característica chave de nossa espiritualidade: a eclesialidade.

E onde aconteceu tudo isto? Em Roma, a cidade de Pedro, a cidade dos Papas, sede do Pastor Universal da Igreja, cidade, além disso, de mártires e santos testemunhas de fé. Por tudo isso, nosso Fundador nos exortou a viver um dinamismo pedagógico muito singular denominado: "aprendendo Roma". Naquela ocasião, ele nos disse: «Roma nos convida, com a eloqüência de sua força espiritual, a nos desdobrarmos como pessoas e viver cotidianamente a fé e anunciar, sem medos nem temores, a anunciar com a voz alta da coerência de nossas vidas e de nossa palavra que o Senhor Jesus é quem nos redime e reconcilia»2.

NOSSA FORÇA É O CRUCIFICADO

O exercício anterior de "memória ativa" nos coloca, pois, diante da necessidade de cultivar uma resposta corajosa e generosa, sustentada pela graça, e por uma intensa colaboração de nossa liberdade. Trata-se de uma resposta "forte".

Em relação a isso temos que ter presente, antes de tudo, que o Verbo de Deus se fez carne assumindo a fraqueza humana. Por isso é que «não temos Sumo Sacerdote incapaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado»3. O Senhor Jesus, nosso irmão, em um ato supremo de fortaleza, entregou sua vida com obediência ao Pai na cruz para nossa reconciliação. Precisamente «nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, que para os judeus, é escândalo, para os gentios é loucura, mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus»4. Nesse sentido ensina o Papa Bento XVI: «O Deus que se fez cordeiro, nos disse que o mundo se salva pelo crucificado e não pelos crucificadores»5.

Trata-se de um paradoxo! É que nem tudo acabou com a morte de Cristo na Cruz, pois o amor do Pai da Vida, mais forte que o pecado e a morte 6, manifestou-se onipotente «conforme a ação do seu poder eficaz, que ele fez operar em Cristo, ressuscitando-o de entre os mortos»7. Como cristãos estamos chamados a acolher a força da ressurreição em nossas vidas, dispostos a morrer a tudo o que é morte para nascer para a verdadeira vida.

FORTALEZA NA FRAQUEZA

O Catecismo da Igreja Católica nos explica claramente que "a fortaleza é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem". E descrevendo um pouco mais esta virtude cardeal continua: «Ela firma a resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza nos torna capazes de vencer o medo, inclusive da morte, de suportar a provação e as perseguições. Dispõe a pessoa a aceitar até a renúncia e o sacrifício de sua vida para defender uma causa justa. "Minha força e meu canto é o Senhor"8. "No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo"9»10. Podemos concluir que esta virtude nos leva a defender e alcançar o bem árduo com uma profunda alegria, que transcende a experiência da dor, nos tornando capazes de exclamar como o Apóstolo: "Tudo posso naquele que me fortalece"11.

Um dos paradoxos de ser cristão consiste exatamente em nos reconhecermos frágeis para podermos ser fortes, segundo o testemunho do Apóstolo do povo que narra como pedia a Cristo para ser liberado de suas fraquezas: «Respondeu-me porém: "Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder"». Com base nessa resposta do Senhor, São Paulo disse o seguinte: «Por conseguinte, com todo ânimo prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força de Cristo. Por isto me comprazo nas fraquezas, nos opróbrios, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte»12. Que bonito exemplo para nossa vida cristã! A virtude da Fortaleza passa também pela humildade de reconhecer nossas próprias fraquezas e a consciência da necessidade de cooperar ativamente com a graça que o Senhor nos dá. «Com efeito, é Ele (Cristo) quem, com a força de sua graça, dá a seres frágeis a coragem de testemunhá-lo perante o mundo»13.

EM UM MUNDO DE "OPÇÕES DÉBEIS"

Uma das características mais evidentes do tempo em que vivemos é a do "pensamento débil" e das "adesões débeis". Muitos homens e mulheres de hoje, enganados pela confusão em suas mentes e corações fogem do compromisso como se fosse o grande obstáculo a sua liberdade.

Este problema afeta inclusive os cristãos, chamados a "estar no mundo sem ser do mundo". Por isso denunciava nosso Fundador que tal esquema de pensamento e ação tende a "amedrontar àqueles filhos da Igreja que se deixam amedrontar. Tem o efeito de modificar a conduta dos que deveriam ser conseqüentes anunciadores da verdade, evangelizadores que na trilha do Senhor Jesus anunciem a Boa Nova e não arranquem páginas ou palavras incomodas do Evangelho (...) para não serem censurados"14.

O que fazer diante desta realidade? Diante disso talvez fosse bom lembrar o mandamento do Senhor: "Vão, pois, e façam discípulos a todas as nações" (...) e, respondendo à força da graça, cooperar com o Plano de Deus, relembrando daquela outra sentença do Reconciliador, e levando-a no coração: "O impossível para os homens é possível para Deus"15.

TESTEMUNHAS FORTES DO AMOR

Fomos convocados a "permanecermos firmes no Senhor" a sermos – com humildade, mas em resposta ao chamado de Deus – "testemunhas fortes do Amor de Deus" no meio das dificuldades de um mundo que optou por caminhos de morte. Justamente sobre isto ensina Santo Agostinho que a fortaleza é um "testemunho incontestável"16 da existência do mal.

Dentre os meios concretos para avançar por este caminho podemos lembrar àqueles que nos propõe o Papa Bento XVI para crescermos fortes e valentes de coração: "Procurem alimentarem-se espiritualmente com a oração e com uma intensa vida sacramental; aprofundem no conhecimento pessoal de Cristo e tendam com todas as forças à santidade, o "alto grau de uma vida cristã", como costumava dizer o querido João Paulo II"17. Testemunhas exemplares deste amor são os santos, que tiraram da Eucaristia o alimento de uma caridade ativa e, muitas vezes, heróica. No amor e entrega total ao Plano de Deus encontravam a força para o apostolado. "As coisas invisíveis são, justamente, as mais profundas e importantes. Por isso, vamos ao encontro deste Senhor invisível, mas forte, que nos ajuda a viver bem"18.



NOTAS
  • 1 S.S. Bento XVI, Homilía, domingo, 21 de agosto de 2005.
  • 2 Luis Fernando Figari, Aprendiendo Roma en Peregrinaje de Fe. Pentecostés ‘98, Fondo Editorial, Lima 1998, p. 102.
  • 3 Ver Hb 4,15.
  • 4 1Cor 1,23-24.
  • 5 S.S. Bento XVI, Homilia no solene início de seu ministério petrino, domingo, 24 de abril de 2005.
  • 6 Ver Ct 8,6.
  • 7 Ef 1,19b-20
  • 8 Sl 118,14.
  • 9 Jo 16,33.
  • 10 Catecismo da Igreja Católica, 1808.
  • 11 Fl 4,13.
  • 12 2Cor 12,9-10.
  • 13 S.S. Bento XVI, Discurso, terça-feira, 18 de agosto de 2005.
  • 14 Luis Fernando Figari, Lenguaje, homogeneización y globalización na Revista VE, ano 14, No. 39, janeiro-abril de 1998, p. 98.
  • 15 Ali mesmo, p. 101.
  • 16 Santo Agostinho, A Cidade de Deus, 19,4.
  • 17 S.S. Bento XVI, Discurso, sábado, 4 de junho de 2005.
  • 18 S.S. Bento XVI, Encontro com as crianças, sábado, 15 de outubro de 2005

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