O que nossos católicos estão
precisando, em última análise, não é ir à Missa. Eles já nem vão. Não é
rezar em família. Eles já nem rezam mesmo. O que nossos católicos
precisam é voltar a ter fé.
Jesus Cristo anda sumido de nossos Natais — justo Ele, que é a razão
de existir da festa. Não seria exagerado dizer que, se a Sagrada Família
aparecesse hoje em nossas casas, procurando um lugar para ficar,
certamente receberia a mesma resposta que ouviu em Belém, dois mil anos
atrás, quando “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2, 7).
O que espanta, no entanto, não são simplesmente as casas de ateus que
não acolhem Jesus, de pessoas que nunca conheceram a Igreja ou que
pertencem a outra religião. O grande escândalo é que não haja lugar para a Sagrada Família nos lares católicos!
Isso precisa ser dito não só porque muitas famílias substituíram o
presépio em suas casas por um sem número de coisas fúteis, vazias e sem
nenhum significado verdadeiramente profundo. Sem dúvida, isso também é
condenável; mas a falta desses sinais externos aponta para uma ausência muito mais grave.
Das poucas famílias que ainda se preocupam em “preparar com bastante
antecedência em suas casas um presépio para representar o nascimento de
Jesus Cristo”, poucas são as que ainda pensam “em preparar seus corações, a fim de que o Menino Jesus possa neles nascer e repousar” [1].
Cabe perguntar, então, o porquê desse fenômeno. Por que os símbolos
cristãos estão desaparecendo cada vez mais de nossas celebrações de fim
de ano e, não só isso, por que as pessoas estão se descristianizando cada vez mais?
A resposta para isso se encontra em um comodismo que tomou conta de nossos católicos.
Somos um país de forte tradição católica — tido inclusive por muitos no estrangeiro como o “mais católico do mundo”. Isso significa que a fé católica não nos foi transmitida ontem.
Aquilo que recebemos, foi de nossos pais, de nossos avós, de nossos
bisavós que o recebemos, em uma cadeia muitas vezes ininterrupta, que
remonta aos próprios colonizadores de nossa nação. O Brasil nasceu como Terra de Santa Cruz.
Mas, ao que parece, estamos estacionados, ignorando (ou fingindo ignorar) que a fé não é uma realidade estática,
que, uma vez recebida, permanecerá tal e qual, independentemente do que
fizermos ou deixarmos de fazer. Não, a fé é algo dinâmico, que demanda
cuidados, que precisa ser alimentada, que precisa crescer e se
desenvolver. Caso contrário, se nos descuidarmos, ela pode diminuir… e até mesmo desaparecer.
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E não é justamente isso o que está acontecendo com nossos católicos?
As pessoas mais velhas, por exemplo, que conservam ainda, em grande
parte, uma sólida formação e prática religiosas, não conseguem entender
por que seus filhos, tendo sido educados na fé católica desde pequenos,
agora, já adultos, se desviaram e não vão mais à igreja, não frequentam
os sacramentos, não rezam em casa e nem transmitem a fé que receberam a
seus filhos…
É evidente que não há uma única resposta para esse problema, mas uma delas está, sem dúvida nenhuma, no modo frouxo como nós lidamos com a nossa fé,
não nos preocupando em enriquecer-nos com a oração, com catequese, com
bons livros, com boas pregações etc. É assim que as pessoas, a partir de
um determinado momento de sua juventude, viram as costas a Deus e não se dão conta!
Se alguém lhes diz que precisam voltar a frequentar a igreja e os
sacramentos, elas se defendem dizendo que não deixaram de ser cristãs,
que continuam acreditando… mas que não é preciso ser tão “radical”, nem
se preocupar tanto com essas “coisas de religião”.
Com todo respeito à pessoa que diz uma coisa dessas, mas sem nenhum respeito pelas palavras que lhe saem da boca, não é preciso ser tão “radical” quando o assunto é a salvação eterna das nossas almas? Grandes empresários se doam radicalmente para fazer crescer o seu negócio, bons alunos se aplicam radicalmente aos estudos só para conseguir entrar em uma boa universidade ou arranjar um bom emprego… Mas, na hora de ser cristão, é preciso ser medíocre? O que explica uma lógica absurda dessas?
Ora, a única coisa que pode explicar falas assim é a falta de fé.
Uma pessoa só abandona a Igreja porque, antes, ela deixou de crer.
Ninguém deixa de ir à Missa aos domingos se acredita realmente que, no
altar, no momento da consagração, fazem-se presentes verdadeiramente o
Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Igualmente, ninguém deixa de se confessar se acredita realmente que
os padres católicos receberam de Deus o poder para perdoar os pecados
dos homens. Quem acredita na existência da graça e do pecado, do Céu e
do Inferno, da salvação e da condenação… como vai abandonar os meios que
Deus pôs à sua disposição para alcançar a vida e a felicidade eternas? Só se essa pessoa, no fim das contas, deixou de crer… Não é verdade, portanto, que “há muitos fiéis saindo da Igreja Católica”. Há batizados deixando a Igreja, isso sim. Fiéis, no entanto, é a última coisa que essas pessoas foram.
Por isso, para trazê-las de volta, é preciso muito mais do que os
“puxões de orelhas” que os mais velhos costumam dar nos mais novos
quando querem vê-los na igreja. Quem não sente falta de Deus em sua vida
diária, ou abafa a necessidade que têm dEle com um milhão de coisas,
por que irá “perder tempo” indo a uma Missa, fazendo uma novena ou
rezando um Terço em família? Coisas desse tipo, afinal, só fazem pessoas
que crêem de verdade. Só manifesta externamente a sua fé quem já a tem, viva e ardente, queimando no coração.
Neste Natal, o que nossos católicos estão precisando, em última
análise, não é ir à Missa. Eles já nem vão. Não é rezar em família. Eles
já nem rezam. O que nossos católicos precisam é voltar a crer.
O primeiro lugar em que o Menino Jesus precisa nascer é no presépio do
coração de nossos católicos. O primeiro lugar em que a estrela de Belém
precisa brilhar é na inteligência daqueles que sentam nos bancos de
nossas igrejas.
Se não for assim, toda prática religiosa em que eles se engajarem não passará de superstição pagã. Quase como dar sete pulos nas ondas do mar durante a virada do ano.
Referências
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