"Temos que nos conscientizar que a corrupção começa com as pequenas desonestidades"
O
Papa Francisco tuitou neste sábado (09/12), Dia Mundial de Combate à
Corrupção, promovido pelas Nações Unidas: “A corrupção deve ser
combatida com força. É um mal baseado na idolatria do dinheiro que fere a
dignidade humana”.
Este é um tema que o Papa Francisco abordou várias vezes desde o
início de seu pontificado. Aliás, desde quando era Arcebispo de Buenos
Aires, Jorge Mario Bergoglio sempre se posicionou contra a corrupção.
Em seu pontificado, recordamos, em particular, o apelo feito no
bairro napolitano de Scampia, em março de 2015, onde conjugando um
neologismo eficaz afirmou que “um cristão que deixa entrar dentro de si a
corrupção, fede”.
Bispos brasileiros contra a corrupção
“Precisamos terminar com as castas que se enquistam no poder público
distribuindo benesses e privilégios para os seus comparsas. Quem rouba
milhões, mata milhões, não se defendem direitos humanos e sociais
deixando impune a corrupção, sem tocar nos tentáculos das máfias do
poder. Que o Evangelho do poder-serviço nos leve a construir um Brasil
republicano, centrado na justiça, na integridade e no bem comum”.
O trecho acima é do artigo do Bispo de Campos (RJ), Dom Roberto
Francisco Ferreria Paz, recém-publicado no site da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) que tem como tema “Refundar e fazer nova a
República”. No artigo, o bispo retrata em poucos parágrafos a crise do
sistema político e a extensão do câncer da corrupção no Brasil.
O prelado é uma das milhares de vozes brasileiras que têm se
levantado contra a corrupção que assola o país. A data de hoje, remete
ao dia em que o Brasil e mais 101 países assinaram a Convenção das
Nações Unidas contra a Corrupção, em 2003, na cidade mexicana de Mérida.
Para o Bispo de Ipameri (GO), Dom Guilherme Werlang, Presidente da
Comissão Episcopal Pastoral para Ação Social Transformadora da CNBB, a
corrupção é moralmente um grande e gravíssimo pecado.
“Uma pessoa que compactua e pratica a corrupção jamais poderá ser
reconhecida como cristão ou cristã. Eticamente, a corrupção destrói
qualquer sociedade”.
O bispo destaca ainda que é preciso uma conscientização coletiva não
só da corrupção que existe nos altos escalões da sociedade brasileira ou
praticado por políticos, seja no Executivo, Legislativo ou no
Judiciário.
“Temos que nos conscientizar que a corrupção começa com as pequenas
desonestidades, desde a infância. Ela cresce, por exemplo, quando não
exigimos fiscal. Quando queremos vantagens sobre pagamentos escondendo
parte do valor. Quando fizermos a educação nova da honestidade e
transparência aí podemos pensar em vencer a corrupção endêmica do
Brasil”, enfatiza Dom Werlang.
Em 26 de outubro passado, a CNBB divulgou uma nota sobre o grave
momento político, destacando que a corrupção corrói o Brasil. No texto, a
entidade repudia a falta de ética que se instalou nas instituições
públicas, empresas, grupos sociais e na atuação de inúmeros políticos
que, “traindo a missão para a qual foram eleitos, jogam a atividade
política no descrédito”.
A Conferência criticou também a apatia e o desinteresse pela
política, que crescem cada dia mais no meio da população brasileira,
inclusive nos movimentos sociais. Apesar de tudo, a entidade diz que é
preciso vencer a tentação do desânimo, pois só uma reação do povo,
consciente e organizado, no exercício de sua cidadania é capaz de
purificar a política e a esperança dos cidadãos que “parecem não mais
acreditar na força transformadora e renovadora do voto”.
De acordo com os dados da Organização das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime no Brasil (UNODC), a corrupção é o maior obstáculo ao
desenvolvimento econômico e social na atualidade. Todos os anos, 1
trilhão de dólares é pago em suborno, enquanto cerca de 2,6 trilhões de
dólares são roubados pela corrupção, o equivalente a mais de 5% do
Produto Interno Bruto mundial.
Segundo estudo divulgado pela entidade Transparência Internacional, o
Brasil fechou o ano de 2016 em 79º lugar entre 176 países no ranking
sobre a percepção de corrupção no mundo. Além do Brasil, estão empatados
em 79º lugar Bielorrússia, China e Índia.
Dom Guilherme, convoca a Igreja no Brasil, os pastores, leigos e
leigas, neste Ano do Laicato, a assumirem uma nova educação partindo da
Palavra de Deus, que desafia e orienta ao mesmo tempo como buscar isto.
“O bom exemplo deve partir de nós. Infelizmente, a desonestidade
também acontece entre nós, nas Igrejas Cristãs, em nossas paróquias e
dioceses onde também se fazem estas concessões e um jogo não tão
transparente como deveria ser. Portanto, temos muito trabalho e devemos
ser os primeiros a dar um bom exemplo de uma vida honesta, transparente e
justa para sermos construtores de uma nova sociedade”, conclui.
(Rádio Vaticano, com informações do site da CNBB)
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