Qual é a diferença entre sabedoria, entendimento e ciência? E por que o “temor de Deus” é diferente do medo?
FORTALEZA
Com o dom da fortaleza, Deus nos dá a coragem necessária para
enfrentarmos as circunstâncias desafiadoras da vida e a firmeza de
caráter para suportarmos as perseguições e tribulações decorrentes do
nosso testemunho cristão, rejeitado e combatido pelo mundo. Foi graças
ao dom da fortaleza que os santos recusaram as falsas promessas e
enfrentaram as ameaças da mundanidade, muitos com o sacrifício da
própria vida.
SABEDORIA
O dom da sabedoria nos leva a distinguir entre o que é essencial e o
que não é; entre o que realmente importa e o que é meramente secundário.
Ser sábio é saber escolher e apreciar o bem em meio às muitas
alternativas sedutoras que se colocam diante do nosso livre arbítrio,
confundindo o nosso julgamento com aparências que precisam ser
desmascaradas. A sabedoria não necessariamente envolve inteligência,
cultura e entendimento: é outro tipo de conhecimento; é a capacidade
singela de enxergar ou intuir o bom, o belo e o verdadeiro a partir da
referência do Absoluto, não do relativo. É o dom de “saber viver” em
Deus, na bondade, na verdade e na beleza, ainda que não se entendam
muitas coisas no sentido intelectual do termo “entender” – aliás, o
entendimento é outro dom divino, que veremos em seguida.
ENTENDIMENTO
Este dom torna a nossa inteligência capaz de compreender e assimilar
os conteúdos das verdades reveladas, auxiliando-se também da ciência,
que ilumina a razão a fim de conhecermos melhor a criação e chegarmos
assim ao Criador. Pode parecer um tanto confuso, à primeira vista,
distinguir entre a sabedoria, o entendimento e a ciência. De fato, são
dons complementares entre si, mas há distinção entre eles. Expliquemos
dando um exemplo: há pessoas simples que, mesmo sem entenderem o vasto
significado da liturgia, dos dogmas e das orações, sabem apreciar o
sabor das coisas de Deus e dão testemunho de intensa devoção e piedade,
sendo capazes de inspirar e ajudar os outros a viverem uma vida
espiritual mais profunda, ainda que esses outros tenham maiores talentos
intelectuais. Essas pessoas simples possuem o dom da sabedoria, mas
lhes falta o entendimento – que é o dom de compreender o sentido das
coisas de Deus. Com o dom do entendimento, o cristão contempla com mais
lucidez e consciência o mistério da Santíssima Trindade, o amor de
Cristo pela humanidade, o significado da Sagrada Eucaristia, dos
sacramentos, dos ritos litúrgicos, da moral católica etc. E onde é que
entra o dom da ciência? A ciência nos ajuda nessa compreensão
fornecendo-nos um tesouro crescente de informações sobre a criação como
precisamente isso: criação, obra do Criador.
CIÊNCIA
É o dom divino que aperfeiçoa as nossas faculdades intelectivas e nos
ajuda a compreender a realidade como obra do Criador, iluminados,
simultânea e harmoniosamente, pela fé e pela razão – “as duas asas que elevam o espírito humano à contemplação da Verdade”, conforme a bela descrição apresentada pela encíclica “Fides et Ratio”,
do Papa São João Paulo II. O dom da ciência, portanto, nos abre à
contemplação do Criador mediante o conhecimento da criação. É importante
observar que se trata do dom da ciência de Deus, não da ciência das
coisas do mundo; ele envolve o reconhecimento da criação como meio para a
contemplação de Deus. Graças ao dom da ciência, os santos, por exemplo,
souberam ver Deus atrás das criaturas como que através de um espelho.
São Francisco de Assis compôs o “cântico das criaturas” ao Senhor porque
todos os seres criados, desde as flores até as aves, desde a água até o
fogo e o sol, lhe eram ocasião para contemplar e amar a Deus, Criador
de tudo o que há. O dom da verdadeira ciência nos leva, mediante o reto
conhecimento e reconhecimento das criaturas como criaturas, a vislumbrar
o Criador. Entre as criaturas não se incluem apenas os demais seres
tangíveis, mas também as próprias ações e comportamentos humanos, que
fazem parte do mundo criado: o dom da ciência, portanto, nos ajuda
ainda a saber como agir – e, neste sentido, evoca o dom do conselho.
CONSELHO
É o dom que permite à alma o reto discernimento sobre como responder
às circunstâncias da existência, tanto no tocante às próprias decisões
quanto na hora de orientar os irmãos a trilharem o caminho do bem.
PIEDADE
É a graça de Deus na alma que proporciona o relacionamento filial e
profundo com Deus, mediante a oração e as práticas piedosas ensinadas
pela Igreja. É o dom da devoção, do fervor, da experiência de viver em
comunhão permanente com Deus.
TEMOR DE DEUS
O nome deste dom pode causar estranheza e confusão, pois muitos o
entendem em sentido negativo, como se devêssemos ter medo de Deus. Na
verdade, trata-se do dom divino que nos leva a “temer” por Deus no
sentido de não querer que Ele seja desprezado e deixado de lado, nem
pelos outros, nem por nós mesmos. É o santo temor de que Deus seja
ofendido; ao mesmo tempo, é o sadio temor das consequências do
afastamento de Deus – consequências que não consistem num castigo
imposto por Deus, mas sim na decorrência natural da nossa própria
possibilidade de optar por viver longe d’Ele: Deus respeita a nossa
liberdade a tal ponto que não nos impede de odiá-lo se assim
escolhermos; por isso mesmo, Ele tampouco impede as consequências desse
ódio voluntário, que se resumem no afastamento eterno de Deus decretado
por nós próprios com a nossa liberdade e arbítrio. O dom do santo temor
de Deus nos ajuda, assim, a evitar tudo o que nos afasta d’Ele – ou
seja, o pecado; e não por medo de castigo, mas pela justa consciência de
que, ao nos afastarmos d’Ele, nós próprios O perdemos voluntariamente.
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Imagens ilustrativas via blog Almas CastelosA
Francisco Veneto
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