quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A DÚVIDA RESPONDIDA POR SÃO JOÃO PAULO II

Na primeira metade de seu pontificado, devido a sérias controvérsias suscitadas na Igreja, São João Paulo II se viu obrigado a confirmar a Tradição católica de não ordenar mulheres.


Depois dos agitados anos 1960, quando a Igreja também se viu questionada pelas revoluções mundo afora, o problema relativo à ordenação de mulheres já não era uma novidade para os teólogos. O tema estava entre os principais assuntos discutidos nas academias, sobretudo após a iniciativa dos anglicanos de incluírem entre os seus sacerdotes também as mulheres. Foi aí que o então Sumo Pontífice Paulo VI, exercendo o ministério petrino de confirmar os irmãos na fé, publicou a Declaração Inter Insigniores, com a qual dirimia qualquer dúvida acerca da Tradição católica. A Igreja "não se considera autorizada a admitir as mulheres à ordenação sacerdotal", explicou o Santo Padre na época. Todavia, o debate estava longe de acabar ali.
As discussões continuaram a fervilhar nos anos seguintes com cada vez mais veemência e caráter reivindicatório. A seu favor, os defensores das ordenações femininas argumentavam que a decisão de Jesus de escolher apenas homens para o ministério apostólico baseava-se somente em um contexto sociológico e que, por isso, tal decisão seria disciplinar, como no caso do celibato dos padres. Ao contrário da doutrina, que não pode ser contestada pelo fiel católico, a disciplina, embora deva ser obedecida enquanto estiver em vigor, pode ser ab-rogada. E era esse o desejo deles.
Em 1978, assume o trono de São Pedro o cardeal polonês Karol Wojtyla. É durante o seu governo que o Papa será desafiado a dar uma resposta definitiva para a questão. O estopim da queda de braço ocorreu nos Estados Unidos, em 1979, na Catedral de Washington. Na ocasião, a irmã Therese Kane, então presidente da US Leadership of the Women Religious, havia sido escolhida para representar as freiras no encontro com o Santo Padre. Foi durante a sua fala que ela explodiu a bomba: 
"Nós temos ouvido a poderosa mensagem de nossa Igreja, dirigida à dignidade e à reverência de todas as pessoas [...]. A Igreja deve responder oferecendo a possibilidade de as mulheres, como pessoas, serem incluídas em todos os ministérios."
A mensagem da irmã Therese Kane ganhou o mundo e não podia passar despercebida dentro dos círculos católicos. Apesar do constante ensinamento do Magistério sobre o assunto, a força daquele gesto desencadeou uma nova onda de discussões que exigiram do Papa uma posição inequívoca. E foi o que ele fez, já mesmo na ocasião da visita aos Estados Unidos, explicando repetidas vezes que a Igreja não possuía a faculdade de ordenar mulheres. "Chamando só homens como seus apóstolos, Cristo agiu de maneira totalmente livre e soberana. Fez isto com a mesma liberdade com que, em todo o seu comportamento, pôs em destaque a dignidade e a vocação da mulher", explicou novamente o Santo Padre, agora em 1988, na Carta Apostólica Mulieris Dignitatem (n. 26). No mesmo documento, São João Paulo II ainda esclareceu que:
"Se Cristo, instituindo a Eucaristia, a ligou de modo tão explícito ao serviço sacerdotal dos apóstolos, é lícito pensar que dessa maneira ele queria exprimir a relação entre homem e mulher, entre o que é 'feminino' e o que é 'masculino', querida por Deus, tanto no mistério da criação como no da redenção. É na Eucaristia que, em primeiro lugar, se exprime de modo sacramental o ato redentor de Cristo Esposo em relação à Igreja Esposa. Isto se torna transparente e unívoco, quando o serviço sacramental da Eucaristia, no qual o sacerdote age 'in persona Christi', é realizado pelo homem. É uma explicação que confirma o ensinamento da Declaração Inter Insigniores, publicada por incumbência do Papa Paulo VI para responder à interrogação sobre a questão da admissão das mulheres ao sacerdócio ministerial."
A intervenção clara de São João Paulo II serviu para tranquilizar "muitas consciências que, em boa fé, se deixaram agitar talvez não tanto pela dúvida, como pela insegurança. Elas "encontraram a serenidade graças ao ensinamento do Santo Padre", como observaria o cardeal Ratzinger anos depois.
Por outro lado, algumas oposições ao ensinamento constante do Magistério ordinário da Igreja não cessaram e se fizeram ainda mais atrevidas, chegando ao cúmulo de ordenações clandestinas. O desafio estava lançado à Santa Sé e São João Paulo II não o deixaria sem resposta. No dia 22 de maio de 1994, data em que se celebrava a Solenidade de Pentecostes, o Santo Padre mandou publicar a Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis:
"Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cf. Lc 22, 32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja." (grifos nossos)
A definição de São João Paulo II, apesar de clara, ainda foi objeto de dúvidas entre alguns prelados e fiéis. Questionava-se se a declaração possuía caráter dogmático. Em forma de dubium, chegou à Congregação para a Doutrina da Fé a seguinte questão: "Se a doutrina, segundo a qual a Igreja não tem faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, proposta como definitiva na Carta Apostólica Ordinatio sacerdotalis, deve ser considerada pertencente ao depósito da fé." A resposta da mesma congregação foi: "Afirmativa". Roma locuta!
Toda esta controvérsia nos ensina como a Igreja costuma usar o instrumento do dubium (plural dubia) para esclarecer alguma dificuldade interpretativa que possa surgir de um documento magisterial. Ensinar com clareza o caminho de Deus é um grande ato de misericórdia e de caridade para os fiéis. Afinal, não há nada mais importante para as ovelhas do que ouvir, com clareza, a voz do bom pastor e dele receber a vida eterna. 







Por Equipe Christo Nihil Praeponere

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