domingo, 20 de novembro de 2016

34º DOMINGO DO TEMPO COMUM - SOLENIDADE DE CRISTO REI


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A Palavra de Deus, neste último domingo do ano litúrgico, convida-nos a tomar consciência da realeza de Jesus. Deixa claro, no entanto, que essa realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza que se exerce no amor, no serviço, no perdão, no dom da vida.
A primeira leitura apresenta-nos o momento em que David se tornou rei de todo o Israel. Com ele, iniciou-se um tempo de felicidade, de abundância, de paz, que ficou na memória de todo o Povo de Deus. Nos séculos seguintes, o Povo sonhava com o regresso a essa era de felicidade e com a restauração do reino de David; e os profetas prometeram a chegada de um descendente de David que iria realizar esse sonho.
O Evangelho apresenta-nos a realização dessa promessa: Jesus é o Messias/Rei enviado por Deus, que veio tornar realidade o velho sonho do Povo de Deus e apresentar aos homens o “Reino”; no entanto, o “Reino” que Jesus propôs não é um Reino construído sobre a força, a violência, a imposição, mas sobre o amor, o perdão, o dom da vida.
A segunda leitura apresenta um hino que celebra a realeza e a soberania de Cristo sobre toda a criação; além disso, põe em relevo o seu papel fundamental como fonte de vida para o homem.
1º leitura: 2Sm. 5,1-3 - AMBIENTE
Por volta do ano 1007 a.C., o reino de Saul (que agrupava as tribos do norte e do centro) sofreu um rude golpe, com a morte do rei e de Jónatas (filho e natural sucessor de Saul) às mãos dos filisteus, numa batalha travada junto do monte Guilboá (cf. 1Sm. 31). Por esta altura, em contrapartida, David reinava (desde 1012 a.C.) sobre as tribos do sul (cf. 2 Sm. 2,1-4).
Ishboshet, filho de Saul, foi escolhido para suceder a seu pai e ainda reinou dois anos sobre as tribos do norte e do centro (cf. 2Sm. 2,8-11); mas acabou por ter a oposição de Abner, chefe dos exércitos do norte, que ofereceu a David a autoridade sobre as tribos que formavam o reino de Saul (cf. 2Sm. 3,12-21). Abner foi, entretanto, assassinado por Joab, general de David (cf. 2Sm. 3,26-27); e, pouco depois, também Ishboshet foi, muito convenientemente, assassinado – embora o segundo livro de
Samuel se esforce por mostrar que David não teve nada a ver com esses assassínios (cf. 2Sm. 3,28-39; 4,1-12). Finalmente, os anciãos do norte – preocupados em encontrar uma liderança forte que lhes permitisse resistir aos inimigos tradicionais, os filisteus – pediram a David que aceitasse dirigir também os destinos das tribos do norte e do centro.
É diante deste quadro que a leitura de hoje nos coloca. David está em Hebron – a capital das tribos do sul – e é lá que recebe os enviados das tribos norte e do centro que lhe propõem a realeza. Estamos por volta do ano 1005 a.C..
MENSAGEM
Temos, portanto, os anciãos de Israel diante de David a propor-lhe a realeza sobre as tribos do norte e do centro. David aceita… É a primeira vez que se consegue a união das tribos do norte, do centro e do sul sob a autoridade de um único rei (as “doze tribos” que a tradição teológica designará como o “Povo de Deus”).
Os catequistas deuteronomistas, autores deste texto, preocupam-se, no entanto, em fazer uma leitura teológica da história. Assim, colocam na boca dos anciãos de Israel a seguinte frase: “O Senhor disse-te: tu apascentarás o meu Povo de Israel, tu serás rei de Israel” (v. 2). A realeza de David aparecerá, assim, como algo querido por Deus, decidido por Deus – uma espécie de extensão da realeza de Deus: doravante, o rei David será considerado o instrumento através do qual Deus apascenta o seu Povo.
David foi o rei mais importante da história do Povo de Deus. O seu reinado foi marcado – como acontece com todos os reinados “humanos” – por conflitos internos, guerras civis, injustiças, mortes… Mas, apesar de tudo, David manifestou-se como um homem com uma grande estatura política e moral. Em termos políticos, o reinado de David fez de Israel e de Judá um reino de razoáveis dimensões, que se sobrepôs aos seus inimigos tradicionais (os filisteus, os amonitas, os moabitas) e que ficou na memória do Povo de Deus como um tempo ideal de paz e de abundância. Em termos religiosos, foi o tempo em que Jahwéh era considerado, efetivamente, o Deus de Israel e de Judá e em que o rei potenciava o encontro de todo o Povo à volta do seu Deus, na fidelidade à aliança.
No futuro – sobretudo em épocas de crise, de frustração nacional, de instabilidade social, de infidelidade religiosa – o reinado de David vai constituir como que uma miragem ideal; e, nas alturas mais dramáticas da sua história, o Povo de Deus sonha com um descendente de David que venha restaurar o reino ideal de seu pai.
ATUALIZAÇÃO
¨ O que é que a história de David tem a ver com a festa de Jesus Cristo, Rei do Universo? Jesus Cristo, o Messias, Rei de Israel, descendente de David, é considerado no Novo Testamento a resposta de Jahwéh aos sonhos e expectativas do Povo de Deus. Ele veio para restaurar, ao jeito de Deus e na lógica de Deus, o reino de David. Jesus é, portanto, o Rei que, à imagem do que David fez com Israel, apascenta o novo Povo de Deus (veremos, mais à frente, como deve ser entendida a realeza de Jesus). Que significa, para mim, dizer que Jesus é Rei?
¨ O reinado de David é apresentado com um tempo ideal de unidade, de paz e de felicidade; no entanto, conheceu, também, tudo aquilo que costuma caracterizar os reinados humanos: tronos, riquezas, exércitos, batalhas, injustiças, intrigas de corte, lutas pelo poder, assassínios, corrupção. Falar do “Reino” de Jesus terá algo a ver com isto? Estes esquemas caberão, de alguma forma, na lógica de Deus?
2º leitura: Col. 1,12-20 - AMBIENTE
A comunidade cristã de Colossos (situada na Ásia Menor, a cerca de 200 quilômetros a Este de Éfeso) não foi fundada por Paulo, mas sim por Epafras, discípulo de Paulo e colossense de origem. Como é que Paulo aparece envolvido com esta comunidade?
Daquilo que podemos perceber da carta, Paulo estava na prisão (em Roma?) quando recebeu a visita do seu amigo Epafras. Epafras contou a Paulo que a Igreja de Colossos estava em crise, pois alguns “doutores” cristãos ensinavam que a adesão a Jesus devia ser completada por outras práticas religiosas, fundamentais para a salvação e para um conhecimento mais profundo do mistério de Deus. Assim, esses “doutores” exigiam dos crentes de Colossos o cumprimento de práticas ascéticas, de certos ritos legalistas, de algumas prescrições sobre os alimentos; exigiam, também, a observância de determinadas festas e a crença nos anjos e nos seus poderes. É possível que este quadro tivesse a ver com doutrinas orientais que começavam a circular nesta época e que iriam, mais tarde, desembocar no movimento “gnóstico”.
Contra esta confusão religiosa, Paulo afirma a absoluta suficiência de Cristo: a adesão a Cristo é o fundamental para quem quer ter acesso à proposta de salvação que Deus faz aos homens; tudo o resto é dispensável e não deve ser imposto aos cristãos.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto começa com um convite à ação de graças, porque Deus livrou os colossenses “do poder das trevas” e transferiu-os “para o Reino do seu filho muito amado” (vs. 12-14); em seguida, Paulo apresenta um hino no qual celebra a supremacia absoluta de Cristo na criação e na redenção (vs. 15-20): trata-se de um hino que Paulo, provavelmente, tomou da liturgia cristã, mas que aparece perfeitamente integrado no discurso e na mensagem desta carta. É nas duas estrofes deste hino que está a mensagem fundamental que nos interessa refletir.
A primeira estrofe do hino (vs. 15-17) afirma e celebra a soberania de Cristo sobre toda a criação; e fá-lo, recorrendo a três afirmações importantes.
A primeira diz que Cristo é a “imagem de Deus invisível”. Dizer que é “imagem” significa dizer que Ele é, em tudo, igual ao Pai, no ser e no agir, e que n’Ele reside a plenitude da divindade. Significa que Deus, espiritual e transcendente, revela-Se aos homens e faz-Se visível através da humanidade de Cristo.
A segunda afirma que Ele é “o primogênito de toda a criatura”. No contexto familiar judaico, o “primogênito” era o herdeiro principal, que tinha a primazia em dignidade e em autoridade sobre os seus irmãos. Aplicado a Cristo, significa que Ele tem a supremacia e a autoridade sobre toda a criação.
A terceira assegura que “n’Ele, por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas”. Tal significa que todas as coisas têm n’Ele o seu centro supremo de unidade, de coesão, de harmonia (“n’Ele”) que é Ele que comunica a vida do Pai (“por Ele”); e que Cristo é o termo e a finalidade de toda a criação (“para Ele”).
Ao mencionar expressamente que os “tronos, dominações, principados e potestades” estão incluídos na soberania de Cristo, Paulo desmonta as especulações dos “doutores” de Colossos acerca dos poderes angélicos, considerados em paralelo com o poder de Cristo.
A segunda estrofe (vs. 18-20) afirma e celebra a soberania e o poder de Cristo na redenção. Também aqui temos três afirmações fundamentais…
A primeira diz que Cristo é a “cabeça da Igreja, que é o seu corpo”. A expressão significa, em primeiro lugar, que Cristo tem a primazia e a soberania sobre a comunidade cristã; mas significa, também, que é Ele quem comunica a vida aos membros do corpo e que os une num conjunto vital e harmônico.
A segunda afirma que Cristo é o “princípio, o primogênito de entre os mortos”.
Significa, não só que Ele foi o primeiro a ressuscitar, mas também que Ele é a fonte de vida que vai provocar a nossa própria ressurreição.
A terceira assegura que em Cristo reside “toda a plenitude”. Significa que n’Ele e só n’Ele habita, efetiva e essencialmente, a divindade: tudo o que Deus nos quer comunicar, a fim de nos inserir na sua família, está em Cristo. Por isso, o autor do hino pode concluir que, por Cristo, foram reconciliadas com Deus todas as criaturas na terra e nos céus: por Cristo, a criação inteira, marcada pelo pecado, recebeu a oferta da salvação e pôde voltar a inserir-se na família de Deus.
ATUALIZAÇÃO
¨ A festa de Cristo Rei, que encerra o ano litúrgico, celebra, antes de mais, a soberania e o poder de Cristo sobre toda a criação. A leitura que acabamos de ver diz, a este propósito, que em Cristo, Deus revela-Se; que Ele tem a supremacia e autoridade sobre todos os seres criados; que Ele é o centro de todo o universo e que tudo tende e converge para Ele… Isto equivale a definir Cristo como o centro da vida e da história, a coordenada fundamental à volta da qual tudo se constrói.
Cristo tem, de fato, esta centralidade na vida dos homens e mulheres do nosso tempo, ou há outros deuses e referências que usurparam o seu lugar? Quais são esses outros “reis” que ocuparam o “trono” que pertence a Cristo? Esses “reis” trouxeram alguma “mais valia” à vida dos homens, ou apenas criaram escravidão e desumanização? O que podemos fazer para que a nossa sociedade reconheça em Cristo o seu “rei”?
¨ Em termos pessoais, Cristo é o centro, referência fundamental à volta da qual a minha vida se articula e se constrói? O que é que Ele significa para mim, não em termos de definição teórica, mas em termos existenciais?
¨ A Festa de Cristo Rei é, também, a festa da soberania de Cristo sobre a comunidade cristã. A Igreja é um corpo, do qual Cristo é a cabeça; é Cristo que reúne os vários membros numa comunidade de irmãos que vivem no amor; é Cristo que a todos alimenta e dá vida; é Cristo o termo dessa caminhada que os crentes fazem ao encontro da vida em plenitude. Esta centralidade de Cristo tem estado sempre presente na reflexão, na catequese e na vida da Igreja? É que muitas vezes falamos mais de autoridade e de obediência do que de Cristo; de castidade, de celibato e de leis canônicas, do que do Evangelho; de dinheiro, de
poder e de direitos da Igreja, do que do “Reino”… Cristo é – não em teoria, mas de fato – o centro de referência da Igreja no seu todo e de cada uma das nossas comunidades cristãs em particular? Não damos, às vezes, mais importância às leis feitas pelos homens do que a Cristo? Não há, tantas vezes, “santos”, “santinhos” e “santões” que assumem um valor exagerado na vivência de certos cristãos, e que ocultam ou fazem esquecer o essencial?
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Evangelho: Lc. 23,35-43 - AMBIENTE
 Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
23 35 A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo: “Salvou a outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus!”
36 Do mesmo modo zombavam dele os soldados. Aproximavam-se dele, ofereciam-lhe vinagre e diziam:
37 “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo”.
38 Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: “Este é o rei dos judeus”.
39 Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: “Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!”
40 Mas o outro o repreendeu: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício?
41 Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum”.
42 E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!”
43 Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso”.
Palavra da Salvação.
 
O Evangelho situa-nos “lugar do Crânio” (alusão provável à forma da rocha que dominava o lugar e que lembrava um crânio), diante de uma cruz. É o final da “caminhada” terrena de Jesus: estamos perante o último quadro de uma vida gasta ao serviço da construção do “Reino”. As bases do “Reino” já estão lançadas e Jesus é apresentado como “o Rei” que preside a esse “Reino” que ele veio propor aos homens. A cena apresenta-nos Jesus crucificado, dois “malfeitores” crucificados também, os chefes dos judeus que “zombavam de Jesus”, os soldados que troçavam dos condenados e o povo silencioso, perplexo e expectante. Por cima da cruz de Jesus, havia uma inscrição: “o basileus tôn Ioudaiôn outos” (“este é o rei dos judeus”).
MENSAGEM
O quadro que Lucas nos apresenta é, portanto, dominado pelo tema da realeza de Jesus. Como é que se define e apresenta essa realeza?
Presidindo à cena, dominando-a de alto a baixo, está a famosa inscrição que define Jesus como “rei dos judeus”. É uma indicação que, face à situação em que Jesus se encontra, parece irônica: Ele não está sentado num trono, mas pregado numa cruz; não aparece rodeado de súbditos fiéis que o incensam e adulam, mas dos chefes dos judeus que o insultam e dos soldados que O escarnecem; Ele não exerce autoridade de vida ou de morte sobre milhões de homens, mas está pregado numa cruz, indefeso, condenado a uma morte infamante… Não há aqui qualquer sinal que identifique Jesus com poder, com autoridade, com realeza terrena.
Contudo, a inscrição da cruz – irônica aos olhos dos homens – descreve com precisão a situação de Jesus, na perspectiva de Deus: Ele é o “rei” que preside, da cruz, a um “Reino” de serviço, de amor, de entrega, de dom da vida. Neste quadro, explica-se a lógica desse “Reino de Deus” que Jesus veio propor aos homens.
O quadro é completado por uma cena bem significativa para entender o sentido da realeza de Jesus. Ao lado de Jesus estão dois “malfeitores”, crucificados como Ele.
Enquanto um o insulta (este representa aqueles que recusam a proposta do “Reino”), o outro pede: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres com a tua realeza”. A resposta de Jesus a este pedido é: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Jesus é o Rei que apresenta aos homens uma proposta de salvação e que, da cruz, oferece a vida. O “estar hoje no paraíso” não expressa um dado cronológico, mas indica que a salvação definitiva (o “Reino”) começa a fazer-se realidade a partir da cruz. Na cruz manifesta-se plenamente a realeza de Jesus que é perdão, renovação do homem, vida plena; e essa realeza abarca todos os homens – mesmo os condenados – que acolhem a salvação.
Toda a vida de Jesus foi dominada pelo tema do “Reino”. Ele começou o seu ministério anunciando que “o Reino chegou” (cf. Mc. 1,15; Mt. 4,17). As suas palavras e os seus gestos sempre mostraram que Ele tinha consciência de ter sido enviado pelo Pai para anunciar o “Reino” e para trazer aos homens uma era nova de felicidade e de paz. Os discípulos depressa perceberam que Jesus era o “Messias” (cf. Mc. 8,29; Mt. 16,16; Lc. 9,20) – um título que o ligava às promessas proféticas e a esse reino ideal de David com que o Povo sonhava. Contudo, Jesus nunca assumiu com clareza o título de “Messias”, a fim de evitar equívocos: numa Palestina em ebulição, o título de “Messias” tinha algo de ambíguo, por estar ligado a perspectivas nacionalistas e a sonhos de luta política contra o ocupante romano. Jesus não quis deitar mais lenha para a fogueira da esperança messiânica, pois o seu messianismo não passava por um trono, nem por esquemas de autoridade, de poder, de violência. Jesus é o Messias/rei, sim; mas é rei na lógica de Deus – isto é, veio para presidir a um “Reino” cuja lei é o serviço, o amor, o dom da vida. A afirmação da sua dignidade real passa pelo sofrimento, pela morte, pela entrega de si próprio. O seu trono é a cruz, expressão máxima de uma vida feita amor e entrega. É neste sentido que o Evangelho de hoje nos convida a entender a realeza de Jesus.
ATUALIZAÇÃO
¨ Celebrar a festa de Cristo Rei do Universo não é celebrar um Deus forte, dominador que se impõe aos homens do alto da sua onipotência e que os assusta com gestos espetaculares; mas é celebrar um Deus que serve, que acolhe e que reina nos corações com a força desarmada do amor. A cruz – ponto de chegada de uma vida gasta a construir o “Reino de Deus” – é o trono de um Deus que recusa qualquer poder e escolhe reinar no coração dos homens através do amor e do dom da vida.
¨ À Igreja de Jesus ainda falta alguma coisa para interiorizar a lógica da realeza de Jesus. Depois dos exércitos para impor a cruz, das conversões forçadas e das fogueiras para combater as heresias, continuamos a manter estruturas que nos equiparam aos reinos deste mundo… A Igreja corpo de Cristo e seu sinal no mundo necessita que o seu Estado com território (ainda que simbólico) seja equiparado a outros Estados políticos? A Igreja, esposa de Cristo, necessita de servidores que se comportam como se fossem funcionários superiores do império?
A Igreja, serva de Cristo e dos homens, necessita de estruturas que funcionam, muitas vezes, apenas segundo a lógica do mercado e da política? Que sentido é que tudo isto faz?
¨ Em termos pessoais, a Festa de Cristo Rei convida-nos, também, a repensar a nossa existência e os nossos valores. Diante deste “rei” despojado de tudo e pregado numa cruz, não nos parecem completamente ridículas as nossas pretensões de honras, de glórias, de títulos, de aplausos, de reconhecimentos?
Diante deste “rei” que dá a vida por amor, não nos parecem completamente sem sentido as nossas manias de grandeza, as lutas para conseguirmos mais poder, as invejas mesquinhas, as rivalidades que nos magoam e separam dos irmãos?
Diante deste “rei” que se dá sem guardar nada para si, não nos sentimos convidados a fazer da vida um dom?
 
 
 
 
 
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

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