O que acontece enquanto meditamos não é relevante. A maior parte do tempo nada acontece, assemelhando-se a uma longa viagem de avião, durante a qual olhamos pela janela e apenas vemos nuvens, nada mais do que nuvens e um céu azul.
Porém, podemo-nos deparar com momentos de turbulência, nos quais devemos apertar bem o cinto e confiar plenamente no piloto.
Em certos momentos, admiramos o maravilhoso nascer do dia, o esplêndido pôr-do-sol ou então um jogo de luzes resplandecentes. Mas o que importa é que voamos de uma forma segura em direcção ao nosso destino. Por muito magnífica, tempestuosa ou desinteressante que seja a viagem, nunca pediremos ao piloto para cortar o contacto.
À medida que a prática de meditação se regulariza, apercebemo-nos de que esses momentos do quotidiano têm uma grande influência no equilíbrio e na calma do nosso dia. Se por alguma razão falharmos a um momento de meditação, sentiremos a falta de algo essencial.
Mesmo que o tempo de meditação esteja repleto de turbulências, de distracções ou mesmo que absolutamente nada suceda, esse momento será o mais importante do dia.
É ao longo da nossa vida quotidiana, particularmente nas nossas relações interpessoais que descobriremos as consequências da meditação. A tomada de consciência desta alteração interior não será nem rápida, nem muito notória. Aqueles com quem vivemos e trabalhamos é que se irão aperceber.
Esta mudança está mais bem descrita por aquilo que São Paulo chamou: “os frutos do Espírito (Gl 5, 22): “Amor, alegria, paz, paciência, benevolência, bondade, fidelidade, doçura e domínio de si próprio”.
Pense em cada uma destas qualidades relativamente à sua própria personalidade. Sabe melhor do que qualquer outra pessoa, menos o Espírito Santo, aquela que não possui.
Repare que o Amor, “o dom último”, se situa acima de todos os outros. Na sua esteira, nós encontramos uma nova alegria de viver, mesmo nos momentos de grande agitação e de sofrimento.
A alegria é mais profunda do que o prazer. Descobrimo-la num gosto totalmente novo pelas coisas simples e naturais da vida.
A paz é o dom que Jesus nos concedeu pelo seu Espírito. É a energia da sua própria e profunda harmonia consigo mesmo, com o Pai e com toda a criação.
A paciência é o remédio para os nossos acessos de irritabilidade e intolerância e para todos os meios de que nos servimos para controlar e possuir os outros.
A benevolência é o dom de tratar os outros como gostaríamos de que eles nos tratassem a nós.
A bondade não é “nossa”, mas nós somos essencialmente bons. A nossa natureza humana é divina porque fomos criados por Deus e porque Deus vive em nós.
A fidelidade é um dom que vem pela disciplina quotidiana da meditação e da recitação do mantra. Para que qualquer relação seja totalmente humana e repleta de amor, há que aprofundá-la por meio da fidelidade.
A doçura é a prática da não-violência, tanto em relação aos outros como em relação a nós mesmos.
O domínio de si próprio é indispensável se pretendemos desfrutar da vida em liberdade de Espírito. Nele reside o fruto do equilíbrio da meditação, o fiel da balança entre os extremos.
“Os pecadores tornam-se os melhores contemplativos”, segundo “A Nuvem do Não-Saber”. Isto encontra-se no centro do Evangelho e da vida. Jesus veio chamar os pecadores e não os justos. Os frutos do Espírito crescem progressivamente em nós quando nos começamos a voltar para o poder do amor, no centro do nosso ser.
A fonte do nosso ser é também a fonte que nos cura e que nos unifica. Estar unificado, é ser santo. Na meditação, somos santificados porque somos curados.
A†Ω
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