I) LIGAÇÃO ENTRE MARIA E A EUCARISTIA
Esta é um Mistério de Fé, como pronunciamos após a consagração. Maria aceitou o mesmo anúncio, feito pelo Anjo. Na Anunciação, Ela também estava diante de um Mistério de Fé – ao qual respondeu generosamente com o seu Sim. Somos convidados a proclamar e aceitar esse mistério na Eucaristia. Sem dúvida, quando Maria assistia à celebração da Eucaristia nas primeiras comunidades devia sentir uma profunda alegria, em sua fé, por saber que ali estava novamente o seu Filho amado. Desta forma, a Eucaristia repete e atualiza a Anunciação, em que Cristo se fez presente para sempre: primeiramente no corpo de Maria, em seguida em uma nova anunciação mística, nas espécies do pão e do vinho.
João Paulo II, na Exortação Apostólica Mane Nobiscum, Domine, chama Maria Santíssima de Mulher Eucarística. Na Encíclica De Ecclesiae Eucaristia, o mesmo Papa proclama Nossa Senhora Primeiro Sacrário da Humanidade. Na verdade, toda a vida da Virgem Maria aconteceu em função da Eucaristia. Ela gerou o Filho de Deus, presença divina no sacramento do altar. Desta grande Mulher Eucarística, podemos destacar:
II) MARIA É A PRIMEIRA COMUNGANTE DE TODA A HISTÓRIA DA HUMANIDADE
Ela foi a primeira a receber Jesus Cristo, vivo, presente, real, hoje continuado no sacramento eucarístico. Gostaríamos também de chamar a atenção sobre outros pontos desta atitude de Nossa Senhora. Ela comungou o Cristo total, não apenas no mistério da Encarnação, mas em toda a sua vida. Recebeu Jesus, Palavra e Verdade, quando O acompanhava e bebia dos seus ensinamentos de Filho de Deus. Comungou o Cristo que sofre, quando se uniu a Ele no momento mais crucial de sua vida. Maria mostra-nos que devemos comungar o Cristo total. Às vezes, queremos receber apenas o Cristo da Eucaristia e esquecemos o Cristo do Evangelho, que questiona e nos pede mudanças, o Cristo do sofrimento e da angústia, real e presente na vida de nossos irmãos. Na intimidade e na simplicidade da vida de Nazaré, Maria recebeu e comungou também o Cristo silêncio e prece. Sem dúvida, na Última Ceia, a Mãe de Jesus O recebeu sacramentalmente, fechando todo o círculo da comunhão. Permanecendo sempre unida e fiel a seu Filho, em todos os momentos e circunstâncias, Maria é o modelo do comungante.
III) MARIA FOI A PRIMEIRA MINISTRA DA EUCARISTIA
No episódio da visita a Isabel, Maria tornou-se símbolo e modelo do ministro [ou ministra] extraordinário da Eucaristia. Pela leitura de Lucas, podemos verificar que Isabel não estava podendo sair de casa. Morava numa região serrana, de difícil acesso. Ela representa os doentes e idosos [o evangelista Lucas (1, 18) fala de Isabel, como uma mulher avançada em idade], que não podia sair de casa e participar dos atos da comunidade. Maria foi levar Cristo a Isabel, carregando-O consigo em seu próprio ventre. A Virgem Maria foi até a residência de sua prima, simbolizando do ministro da Eucaristia, que vai até a casa dos enfermos e idosos para levar o Pão da Vida. Seu diálogo com Isabel resultou numa prece e na belíssima oração do Magnificat. Da mesma forma, da comunhão que recebemos ou levamos deve brotar não só a prece de louvor e agradecimento ao Pai, mas também a prece de intercessão pelos que sofrem, os excluídos e injustiçados da sociedade. Maria, primeira comungante e ministra da comunhão, ensina-nos a solidariedade, que começa com a presença. Maria permaneceu com Isabel três meses (Lc 2, 56).
IV) MARIA FOI A PRIMEIRA CONTEMPLATIVA E ADORANTE DE CRISTO
Em Belém, diante da simplicidade de Cristo-Menino [hoje temos o mesmo despojamento do Filho de Deus nas espécies eucarísticas], Maria colocou-se em profunda contemplação e adoração. São Francisco foi de uma felicidade ímpar quando, ao criar o presépio, colocou a Virgem Santíssima, após o parto, de joelhos em profunda adoração ao Filho de Deus. O Papa João Paulo II, em sua Exortação Apostólica Mane Nobiscum, chama-nos a atenção sobre a importância da adoração silenciosa e contemplativa de Cristo vivo no sacrário. Maria tornou-se deste modo o exemplo de todos os adoradores e movimentos de adoração eucarística do mundo inteiro.
V) MARIA DO SILÊNCIO EUCARÍSTICO
Maria sempre recebeu Cristo na simplicidade e no silêncio. A Eucaristia requer um clima de silêncio. Isto significa que só Deus nos basta. As manifestações ruidosas são teologicamente contrárias ao espírito e à dimensão eucarística. Devemos ter cuidado com nossas missas nascidas do entusiasmo da Igreja eletrônica. A Eucaristia foi celebrada em silêncio, quer na Última Ceia, quer no alto da cruz. E toda a vida de Nossa Senhora foi marcada pelo silêncio. João Paulo II, falando sobre a Virgem Santíssima e sua vida de intensa meditação, assim escreve: À imitação da Virgem Maria, queremos viver à escuta da Palavra de Deus, atentos a seus apelos em nós mesmos, nos homens, nos acontecimentos e em toda a criação. Maria é a Virgem que medita. Temos uma frase significativa no evangelho de Lucas, quase no final do capítulo 2: Sua Mãe guardava todas estas coisas no seu coração (Lc 2, 51). Sabemos que a meditação é hoje um assunto posto de lado nos meios cristãos. Felizmente, está voltando à baila também a partir do novo interesse que suscita a “arte da meditação” nas antiquíssimas tradições orientais (budista, hinduísta, taoísta, etc.).
Maria é mulher eucarística na totalidade de sua vida. A Igreja, vendo em Maria o seu modelo, é chamada a imitá-la também na sua relação com este mistério santíssimo. Maria praticou a sua fé na Eucarística ainda antes dela ser instituída, quando ofereceu seu ventre virginal para a encarnação do Verbo de Deus. Assim se expressou o Sínodo dos Bispos concluído no dia 25 de outubro de 2005:
A Igreja vê em Maria, “Mulher Eucarística”, sobretudo aos pés da cruz, a própria figura e a contempla como modelo insubstituível de vida eucarística; sobre o altar, na presença do “verum Corpus natum de Maria Virgine”, a Igreja venera com especial gratidão, pela boca do sacerdote, a Santíssima Virgem (CONCLUSÃO. PROPOSIÇÃO 50).
VI) SIM DE MARIA E O AMÉM EUCARÍSTICO
João Paulo II, tantas vezes citado neste trabalho, ressalta que existe uma profunda analogia entre o Fiat (sim) pronunciado por Maria, em resposta às palavras do Anjo, e o Amém que cada fiel pronuncia quando recebe o corpo do Senhor.
Foi pedido a Maria acreditar na obra do Espírito Santo, a qual tornaria Cristo presente no seu seio e posteriormente visível no mundo. Na Eucaristia é-nos solicitado crer que Jesus, Filho de Deus e Maria, torna-se presente nos sinais do pão e do vinho com todo o seu ser. A esse respeito Santo Agostinho ressalta:
Para Maria, ter sido discípula de Cristo foi mais do que ser mãe dele (...) Por isso também Maria é bem-aventurada, porque ouviu a palavra de Deus e a guardou; guardou mais na mente a Verdade do que no seio a carne. Cristo é Verdade, Cristo é carne: Cristo Verdade na mente de Maria. Vale mais o que se carrega na mente do que o que se carrega no ventre. O parentesco materno não teria ajudado em nada a Maria, se ela não tivesse carregado Cristo de modo mais feliz no coração do que na carne (SERMONES 5, 7).
VII) MARIA É O PRELÚDIO DA EUCARISTIA
Feliz Aquela que acreditou (Lc 1,45). Maria antecipou, no mistério da Encarnação, a fé eucarística da Igreja. E, na Visitação, quando leva no seu ventre o Verbo Encarnado, Ela serve de Sacrário (daí na Ladainha o título bíblico de Arca da Aliança) do Filho de Deus.
Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo (Lc 1,28). Maria já é a mulher preparada, cheia de graça, imaculada, antes de aceitar receber Jesus em seu ventre. Torna-se para os cristãos modelo de preparação para comungar Cristo, que vem até nós, através da Eucaristia. E o olhar extasiado de Maria – quando contemplava o rosto de Cristo, recém-nascido e o estreitava nos seus braços – é o modelo perfeito de amor em que devem se inspirar todas as nossas comunidades e os adoradores eucarísticos.
VIII) MARIA E A DIMENSÃO SACRIFICIAL DA MISSA
Durante a sua existência terrena ao lado de Cristo – e não apenas no Calvário – Maria viveu a dimensão sacrificial da Eucaristia. Aos pés da Cruz vivenciou o drama do Filho crucificado. Preparando-se para o dia do Calvário, Maria vive a Eucaristia antecipada. Aquele corpo, entregue em sacrifício e presente agora nas espécies sacramentais do pão e do vinho, ressoa em Maria. É o mesmo coração que Ela carregou em seu ventre.
IX) MARIA NO MAGNIFICAT E A EUCARISTIA COMO AÇÃO DE GRAÇAS
Pela Eucaristia, a Igreja une os louvores a Deus. Pode-se aprofundar esta verdade relendo o Magnificat numa perspectiva eucarística. O cântico de Maria é louvor e ação de graças quando exclama: A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador (Lc 1, 47).
Maria trouxe Cristo no seu ventre. Louva o Pai por Jesus, em Jesus e com Jesus. É nisto precisamente em que consiste a verdadeira atitude eucarística. E aqui reside a dimensão escatológica da Eucaristia. Maria canta o novo céu e a nova terra, cuja antecipação encontra-se no sacramento eucarístico.
Diante dessa grandeza de Maria, S. João Damasceno confessa:
Que haverá de mais doce do que a Mãe de Deus? Ela cativou meu espírito, seduziu minha língua; penso nela dia e noite.Para o apaixonado, tudo o que se refere à pessoa amada é maravilhoso. As mais profundas intuições mariológicas surgiram de um entranhado amor a Maria (AD ZACCHARIAM, 95).
X) A ESPIRITUALIDADE EUCARÍSTICA A PARTIR DO EXEMPLO DE MARIA
Maria Santíssima está intimamente ligada ao Mistério Eucarístico e como tal à realidade missionária da Igreja.
A participação de Maria no mistério da Eucaristia corresponde, em primeiro lugar, à participação que ela teve na Encarnação. O Corpo que recebemos na hóstia é aquele que nasceu de Maria. Isto é um dado importante, pois esse corpo nascido de uma mulher é o corpo de Deus.
As ligações de Maria com a Eucaristia se prendem também ao fato de que a Mãe de Deus participou da fração do pão no dia de Pentecostes. Em outros termos, Maria estava presente no nascedouro da Igreja, isto é, de toda a atividade missionária. Destarte, ela é o modelo mais perfeito e mais concreto da comunhão do corpo de Cristo.
A Igreja, Povo de Deus que está a caminho, vive da Eucaristia, fruto do seio de Maria. Por isso, é impossível, separar qualquer reflexão sobre a Eucaristia e Missão, sem falar de Maria. O culto da Eucaristia pressupõe o reconhecimento e o culto de Maria e vice-versa.
XI) DIMENSÕES PASTORAIS DA VIVÊNCIA EUCARÍSTICA DE MARIA
Muito podemos dizer a respeito daquela que é a Mãe do Salvador, Mãe da Igreja e nossa Mãe. No entanto, gostaríamos de refletir um pouco sobre Maria, a Mulher missionária e eucarística. Os três Sim de Nossa Senhora demonstram o que acabamos de afirmar. Maria tem uma profunda relação com a Santíssima Trindade e tal relacionamento é de suma importância para a história do cristianismo. Ela diz sim ao Pai, na pessoa do anjo e deste modo, torna-se Mãe. Eis a servidora do Senhor, faça em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38), Nossa Senhora torna-se mulher, isto é, Mãe do Filho de Deus. Nisto consiste a primeira expressão de sua realidade missionária. Ser missionário é tornar Cristo presente. Ninguém melhor do que Maria para trazer para perto dos homens Cristo, o Messias prometido. A missão é levar Cristo para os nossos corações e o coração de nossos irmãos. Encarnando o Filho de Deus, Maria trouxe Jesus para dentro de sua alma e aproximou o ser humano da Divindade. Neste ponto, Maria, depois de Cristo, torna-se a primeira missionária de toda a história cristã.
Maria disse um segundo Sim, quando no alto da cruz, no silêncio do seu olhar, mas na palavra da verdade de sua vida, respondeu a Cristo, afirmando que nos aceitava como filhos, tornando-se nossa Mãe. Mulher eis o teu filho... eis a tua Mãe (Jo 19, 27). Neste momento, Maria torna-se Mãe de toda a humanidade. Assim como Ela gerou Cristo, deseja nos gerar para uma vida nova. Eis a tarefa do missionário: gerar seres novos para uma vida nova em Deus pela graça. Maria foi a intérprete e a intermediária de Deus e dos homens. Ela torna-se a ponte entre o eterno e o efêmero, entre o divino e o humano. Em Cristo, Ela uniu Deus e o Homem. Na sua promessa ao Filho, Ela nos une ao Pai. Deste modo, Maria proporciona a aproximação do ser humano com o seu criador. Ora, isto é tarefa do missionário – cuidar para que o homem chegue perto de Deus. Santo Irineu dizia
A maternidade de Nossa Senhora tinha dois caminhos: gerando Cristo biologicamente, gerou Deus para o mundo e para os homens. Aceitando a humanidade como Mãe, Ela nos gera para Deus (AD HERESES, 3,22s).
Por isso, dizia outro devoto de Nossa Senhora, São Luís Maria Grignon de Montfort: Maria é o caminho que nos leva ao Pai (Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria, p.149). Por Maria chega-se a Deus. Per Mariam ad Iesum.
No dia de Pentecostes, reunida com os apóstolos no Cenáculo, Nossa Senhora disse sim silenciosamente ao Divino Espírito. Nesse momento memorável, Maria Santíssima torna-se Mãe da Igreja. Eis a outra face de sua realidade missionária. Ser missionário é construir ou ajudar a construir a Igreja e o Reino de Deus. Também nós somos missionários, na medida em que edificamos a Igreja de Cristo e o seu Reino. Nossa Senhora contribuiu pelo espírito de oração a trazer o Espírito Santo, o Espírito de Deus para o meio dos homens, representados pelos apóstolos de Jesus Cristo. Ser missionário é levar o Espírito, a mentalidade de Cristo, do Evangelho para o meio dos irmãos.
Em Maria resume-se toda a atividade missionária da Igreja de Cristo. Deu a luz Cristo: Palavra e Eucaristia. A missão consiste sobretudo nisso – gerar Cristo para tocar o coração dos homens. Sendo Mãe da Palavra, Ela trouxe o perdão e a esperança contribuindo para que o Espírito Santo, espírito do perdão e do amor estivesse no meio dos homens.
XII) MARIA E A TEOLOGIA EUCARÍSTICA
Há uma ligação estreita entre Maria e a Eucaristia. Esta é um Mistério de Fé, como pronunciamos após a consagração. Maria aceitou o mesmo anúncio, feito pelo Anjo. Na Anunciação, Ela também estava diante de um Mistério de Fé – ao qual respondeu generosamente com o seu Sim. Somos convidados a proclamar e aceitar esse mistério na Eucaristia. Sem dúvida, quando Maria assistia à celebração da Eucaristia nas primeiras comunidades devia sentir uma profunda alegria, em sua fé, por saber que ali estava novamente o seu Filho amado. Desta forma, a Eucaristia repete e atualiza a Anunciação, em que Cristo se fez presente para sempre: primeiramente no corpo de Maria, em seguida em uma nova anunciação mística, nas espécies do pão e do vinho.
João Paulo II, na Exortação Apostólica Mane Nobiscum, Domine, chama Maria Santíssima de Mulher Eucarística. Na Encíclica Ecclesia de Eucharistia, o mesmo Papa proclama Nossa Senhora Primeiro Sacrário da Humanidade. Na verdade, toda a vida da Virgem Maria aconteceu em função da Eucaristia. Ela gerou o Filho de Deus, presença divina no sacramento do altar. Desta grande Mulher Eucarística, podemos destacar:
CONCLUSÃO
Não podemos esquecer que uma Mulher viveu entre nós e hoje está no céu. Sendo Mãe de Deus em Cristo (aliás, a Maternidade Divina foi o primeiro dogma mariano), contempla o Pai eternamente com o seu olhar puro e maternal. Devemos também nos lembrar a cada instante que esta Mulher é nossa irmã – ser humano, igual a nós, filhos de Deus e pecadores – mas também Ela é nossa Mãe por livre vontade de seu Filho e Sua. E sendo Mãe, Ela colocar-nos-á em contato permanente com nosso Pai e o seu Filho dileto. Não podemos viver sem Mãe. Eis a razão maior porque Deus quis, pelo seu Filho amado, nos legar um coração materno, cheio de ternura e misericórdia, tradução terrena do divino. Não é sem razão que inspiradamente alguém a chamou de Rosto Materno de Deus!
Maria também é filha da terra. E como nós, peregrinos, Ela aspirou e esperou pela Pátria definitiva e prometida, onde o Reino de seu Filho é uma realidade, onde sua ternura continua a se oferecer a cada um de nós. Maria é a única que pode matar as nossas saudades de Deus, pois Ela também esperou por Aquele que seria capaz de trazer a Vida e a Paz. Mais do que ninguém, Ela teve a sede da salvação e, privilegiada, teve o Salvador em suas mãos. E como acontecera com Isabel, temos certeza de que Ela nos trouxe aqui para nos dar Aquele que é nossa alegria e razão de ser de nossa vida. Que Ela nos abençoe sempre, nos acalente nos momentos de desânimo e tenha um afetuoso sorriso de Mãe para cada um de nós seus filhos. Que Ela volte sempre seu olhar de ternura para nós. Assim seja!
Pe. João Medeiros Filho
Consultor Acadêmico da Faculdade Dom Heitor Sales
A†Ω
Nenhum comentário:
Postar um comentário