O milagre é sempre um acontecimento extraordinário. Qual seria a necessidade de operar vários deles simultaneamente? Pode haver alguma circunstância em que Nossa Senhora assim se manifeste?
No século XVIII filosofias ímpias abalaram a moralidade pública. E quando a Revolução Francesa eclodiu com toda sua carga de ódio anticatólico, Roma era uma das muitas cidades européias onde a integridade moral se encontrava em estado lamentável. Seus bailes e diversões imorais, condenados por numerosos santos, degradavam o panorama da cidade que deveria ser santa por excelência.
Por ocasião da Revolução de 1789 muitos otimistas pensavam que os problemas da França ficariam limitados a esta nação, e que a tormenta revolucionária seria contida pela barreira dos Alpes. Assim, em 1793, quando a França estava em guerra com praticamente metade da Europa, parecia a muitos – e ninguém poderia prever – que os revolucionários franceses pudessem dispor de tempo para planejar um ataque a Roma.
Mas em 1796 tudo mudou. No dia 2 de março, um então obscuro general chamado Napoleão Bonaparte foi nomeado para o comando do exército. E já no mês seguinte começou a ganhar batalhas. O otimismo desapareceu em 12 de junho, quando os territórios do Papa foram invadidos.
Hoje é difícil ter idéia do que significava a perspectiva da invasão de um exército revolucionário numa época em que ainda havia restos de espírito de cavalaria. Esperava-se que um soldado se comportasse com honra, pois afinal ele representa um país, uma bandeira, um ideal. Mas o exército revolucionário desconheceu a honra, além de negar validade aos preceitos divinos. Donde os saques, abusos de toda ordem, incêndios, latrocínios, etc. O próprio governo revolucionário francês roubava desinibidamente bens dos países ocupados, despojando-os de seus tesouros culturais, artísticos e religiosos. Hitler e Stalin continuaram, no século XX, essa política de depredação cultural iniciada com Napoleão.
Os Estados pontifícios haviam desfrutado de relativa calma durante um bom período. As guerras anteriores haviam poupado seu patrimônio cultural. Por isso, em tais Estados, especialmente na cidade de Roma, até então capital cultural do Ocidente, a perspectiva de tal invasão e a destruição que dela seguramente adviria afiguravam-se como um horror. E foi neste momento que numerosas manifestações de Nossa Senhora tiveram início.
Sucessão de várias manifestações sobrenaturais
Curiosamente, a Santíssima Virgem escolheu para manifestar-se através de diversas imagens existentes nos cruzamentos de quase todas as ruas da Roma antiga, e também de outras cidades. Essas imagens mantinham viva a devoção popular e guiavam as pessoas de uma rua para outra, graças às velas acesas naquela época em que não havia iluminação pública.
A primeira dessas manifestações marianas ocorreu no dia 25 de junho de 1796 na cidade de Ancona, integrante dos Estados do Papa, quando as tropas revolucionárias se aproximavam do local. A Madonna del Duomo, ou seja, da catedral, moveu seus olhos e fixou as pessoas ajoelhadas diante dela. E isto não poucas vezes, mas ininterruptamente durante meses.
No dia 9 de julho daquele ano começaram manifestações semelhantes em Roma. A primeira a mover os olhos foi a Madonna dell´Archetto (Nossa Senhora do Pequeno Arco), bela imagem entronizada no final de uma estreita rua. Acorreram então multidões de fiéis, sendo necessário convocar a força pública para assegurar a ordem.
Pouco depois outra imagem, seguida de uma terceira, repetiam o prodígio. Em determinado momento, nada menos que 122 imagens, em várias cidades dos Estados pontifícios, igualmente moveram os olhos, e isto durante longo período de tempo. La Madonna dell´Archetto moveu os olhos durante três semanas. Várias outras manifestações sobrenaturais também foram observadas em imagens de Nossa Senhora.
O próprio Papa Pio VI foi testemunha desses milagres, além de numerosos cardeais, bispos e outras autoridades religiosas e civis. O Pontífice ordenou uma investigação oficial, em virtude da qual hoje dispomos de registros com numerosos testemunhos. Esses fatos constituíram ótima oportunidade para resgatar almas submergidas no pecado. Numerosos pregadores pronunciaram sermões em diversas praças, entre eles São Vicente Strambi.
A situação moral de Roma começou a melhorar, cessando as vinganças, as brigas e as blasfêmias. Muitas igrejas permaneceram abertas dia e noite para que as pessoas pudessem se confessar.
Além disso, era impossível não constatar a ocorrência de muitos milagres em capelas particulares ou de conventos, mas sobretudo através das imagens existentes nos cruzamentos das ruas.
Milhares de pessoas os testemunharam, dentre elas numerosos ateus e livres-pensadores, alguns dos quais deixaram registro em seus diários privados ou em cartas. Recordo que, quando eu morava em Roma, pessoas conhecidas afirmavam com a maior naturalidade que ali acontecia um milagre em cada canto de rua.
Advertências misericordiosas da Mãe de Deus
Esses milagres obtiveram de Deus que Roma fosse poupada, ao menos por certo tempo. O Tratado de Tolentino, entre o Papa e a França, foi ratificado em fevereiro de 1797. Mas a imoralidade tinha raízes muito profundas e, não tendo havido uma proporcional correspondência à graça, nem mesmo esses milagres eliminaram inteiramente os maus costumes. Em vista disso, um ano depois, em fevereiro de 1798, os revolucionários franceses entraram na Cidade Eterna e começaram as desgraças a afligi-la. O Papa foi feito prisioneiro e levado para fora do Vaticano, houve saques organizados e os assassinatos passaram a fazer parte do quotidiano.
Alguém poderia perguntar: como é possível que milagres tão notórios não sejam hoje mais conhecidos, falando-se pouquíssimo deles, ou quase nada? Ocorre que, de modo geral, a mídia só difunde aquilo que para ela tem interesse ideológico-esquerdista de ser propagado. Embora haja muita difusão de noticias a respeito de desgraças e calamidades do mundo inteiro, o leitor raramente encontrará noticiado algum milagre. Entretanto, aí estão os milagres de Lourdes, que continuam a acontecer de modo admirável em nossos dias. Para certas pessoas, não é possível haver milagres porque, em sua concepção, Deus não existe. Logo, mesmo que certo gênero de jornalistas presenciasse um autêntico milagre, poucos o noticiariam…
Diante do exposto, surge a pergunta: o que Nossa Senhora quis dizer com as manifestações que narramos?
Como boa Mãe, Ela procurou advertir seus filhos a respeito das catástrofes que se aproximavam. No sentido literal da palavra, convidou-os a abrir os olhos. E isto não uma ou duas vezes, mas em repetidas ocasiões, com centenas de imagens milagrosamente movendo os olhos, esses órgãos tão nobres do corpo humano.
Um dos piores efeitos do pecado é a cegueira espiritual, devido à qual as pessoas não querem reconhecer as funestas consequências daquilo que fazem. O pior cego é aquele que não quer ver. A Virgem Santíssima procura fazer misericordiosamente com que seus filhos vejam claramente a realidade. E, para isso, multiplica prodígios que, analisados em seu conjunto, não podem ser explicados senão por uma ação sobrenatural.
Em 1796, à vista das desgraças que se aproximavam, numerosas foram as advertências recebidas pelo povo romano. E hoje? Será que não há advertências semelhantes? Assim sendo, o que pensar de Fátima (Portugal), Rue du Bac, La Salette e Lourdes (França), Akita (Japão), Kibeho (Ruanda), e tantas outras aparições milagrosas, várias delas acompanhadas de impressionantes mensagens à humanidade?
Fonte: Vocacionados Menores
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