O olhar da fé é como um vigia atento ao que se passa ao redor para atuar na pessoa humana em defesa do bem, da justiça e do amor. Mas deve estar com a vista em ordem e ter claridade suficiente para enxergar o caminho de sentido da vida. Para isso, não basta dizer acreditar em Deus. É preciso saber a vontade dele e tornar-se seu aliado para cooperar com a implantação de convívio que respeite a dignidade humana, imagem e semelhança de Deus.
O profeta Ezequiel recebe a missão de sentinela para ajudar o povo a perceber qual o caminho indicado por Deus para o povo: “Quanto a ti, filho do homem, eu te estabeleci como vigia para a casa de Israel. Logo que ouvires alguma palavra de minha boca, tu o deves advertir em meu nome” (Ezequiel 33, 7). A percepção do profeta, ou do que profere ou fala em nome de Deus, deve ser sempre aguçada como a fé. Não basta a pessoa religiosa achar que está fazendo alguma coisa para buscar o favor divino. Deve alimentar-se da palavra de Deus e ter visão do significado dos acontecimentos para cooperar com o melhor encaminhamento da própria vida e da comunidade para trabalhar pelo bem de todos. Caso contrário, a fé poderá ficar morta, sem efeito, à semelhança da árvore que não dá frutos.
O apóstolo Paulo fala claramente da conduta que mostra resultado bom: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a lei” (Romanos 13,8). A fé em Deus faz a pessoa desenvolver os dons e todas as oportunidades para cooperar com a promoção do semelhante. Desta forma, cada pessoa de fé se torna agente promotor do bem comum. Não se conforma com os erros. Ajuda a corrigir com amor: “Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular... Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas... Se ela não vos der ouvido, dize-o à Igreja” (Mt 18,15.16.17).
Quem realmente é sentinela de fé se torna como protetor da comunidade, ajudando, sem impor ou sem se sentir dono da mesma, para haver relacionamento harmônico, duradouro e eficaz. É cioso de não usar da língua para diminuir o valor das pessoas e da comunidade. Sabe unir-se aos outros para promover ações de benefício para a sociedade, a partir dos mais fragilizados. Não se conforma com as injustiças e a má administração da coisa pública. Ajuda para suscitar pessoas com capacidade administrativa e ética para eleições de pessoas realmente cidadãs para os cargos políticos.
Através do batismo a pessoa cristã se compromete com o bem da Igreja e da sociedade. Conscientiza-se cada vez mais de sua responsabilidade em viver a fé transformadora. É ciosa de sua pertença à família de Deus para ser luz para tantos que vivem vegetando na vida sem sentido. Coopera com seus dons para os mais variados serviços à comunidade. Assume os ministérios ou serviços dentro e fora da comunidade religiosa, sendo como sal que dá sabor ou sentido à convivência, influenciando positivamente para a promoção da vida e dignidade de todos. Enfim, não se omite em fazer a própria parte para ajudar a todos no caminho de realização com ética e amor.
Dom José Alberto Moura, CSS, Arcebispo Metropolitano de Montes Claros - MG
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