EXPERIMENTAR A FOME Se somos sinceros conosco mesmos e entramos em nosso interior podemos constatar uma realidade inapelável: “algo” nos falta. E esse “algo” não é uma coisa supérflua, Melhor, experimentamos que se trata de uma realidade essencial, fundamental, que saciaria nossa fome de felicidade, de sentido, de infinito. Por que “sofremos” tal realidade? Como se explica? Como pode ser saciada? À luz da fé essa condição que toda pessoa experimenta só pode ser entendida como fome de Deus. Ele é nosso Criador, nos fez “a sua imagem e semelhança”, deixando sua marca em nós para que o busquemos e, encontrando-o, sejamos felizes, encontrando o sentido de nossa vida. Por isso nos dirá o Catecismo: «O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar.»1 O HOMEM É UMA FOME De muitas maneira em toda a sua história e em todas as culturas o homem expressou essa fome na busca de Deus por meio de crenças e de comportamentos religiosos. Por isso podemos dizer com o Catecismoque «o homem é um ser religioso»2 O homem tem fome de Deus e fome de pão. Essas duas dimensões, vertical e horizontal, espiritual e material, marcam o fundo de seu ser. Por isso se diz que o homem é um ser incompleto, que não se deve a si mesmo, que algo lhe falta pois se experimenta vazio apesar de ter muitas coisas. Experimenta esta realidade constantemente apesar de não percebê-la com total claridade. É um desconforto de não poder fazer tudo o que o seu impulso de realização deseja. E isso se deve sentir com muitíssima intensidade, com ímpeto, com ardor, se se é verdadeiramente humano. Se você quer ser uma pessoa autêntica deve tomar contato com a fome que há em você e deixar que flua em sua vida, para que possa responder adequadamente. No fundo só importa sua fome e a resposta a essa fome. Se você não a experimenta tomando contato consigo mesmo, se não a “sofre”, não vai poder valorizar adequadamente a resposta. E, pior ainda, se não se apercebe dessa fome, como vai poder percebê-la em outro? Como você vai poder fazer apostolado? Todavia, outra pergunta também nos pode surgir: Por que não experimento essa fome em minha vida com a suficiente intensidade? Isto acontece porque você costuma colocar barreiras em sua existência para não ir ao essencial. E a muralha por excelência é seu pecado pessoal. Esse pecado não permite que você tome contato com o mais intimo do seu ser e interprete equivocadamente seus anseios, buscando saciá-los onde só existe vazio, quer dizer, no prazer, no poder e no ter. SÓ A COMUNHÃO PLENA SACIA Assim pois, o verdadeiro contato com a fome de Deus deve permanecer toda a vida porque só o encontro definitivo com Ele pode saciá-lo. Por isso nos dirá Luis Fernando que «o ser humano não é um ser fechado sobre si mesmo, seu próprio ser está aberto em uma projeção de encontro que aponta a sua plenitude no amor, no encontro e na comunhão com Deus. É, pois, um ser aberto, mas não a um infinito abstrato e quiçá somente ideal, mas Àquele que é fundamento de tudo, a Deus, Comunhão de Amor»3 Diz a Sabedoria: «Vinde a mim todos os que me desejais... Os que me comem terão ainda fome, os que me bebem terão ainda sede.» 4 Que grande paradoxo da vida cristã o que está escrito neste texto inspirado! É que enquanto estamos neste mundo não poderemos saciar plenamente nossa nostalgia de infinito. Essa realidade aponta para algo “mais além”, uma plenitude eterna. Temos que ser conscientes de que nada nem ninguém nos pode dar o que só a comunhão plena com Deus pode saciar!. JESUS TEM SEDE O encontro do Senhor Jesus com a samaritana no poço de Jacó é uma passagem de muito mistério e profundidade. Nele podemos encontrar muitos elementos para aprofundar em nossa fome de Deus. Vejamos alguns. O primeiro que São João ressalta é que Jesus toma a iniciativa, sai ao encontro da mulher e lhe diz: «Dá-me de beber»5 Nos diz Santo Agostinho: «A Vida declina para fazer-se matar; o Pão declina para ter fome; o Caminho declina para fatigar-se andando: a Fonte declina para sentir a sede»6. A samaritana se assombra de que Jesus, sendo judeu, lhe peça de beber, posto que havia entre as duas culturas uma grande rivalidade e não se relacionavam uns com os outros. Jesus lhe responde: «Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva»7 Jesus aponta à realidade mais profunda da mulher, a sua nostalgia de infinito, mas ela parece não entender e replica: «Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o poço é profundo; de onde, pois, tiras essa água viva?» 8 Jesus, com uma pedagogia sábia e amorosa, vai além do sentido material e toca sutilmente a mesmidade9 da mulher: «Aquele que bebe desta água terá sede novamente, mas quem beber da água que eu lhe der jamais terá sede»10. A mulher aceita o chamado e clama sedenta: «Senhor, dá-me dessa água, para eu não tenha mais sede»11. Uma vez despertada a fome de Deus da mulher e já que ela quis responder, Jesus questionará seu modo de vida em relação a seus “cinco maridos”. É necessário abandonar os sucedâneos para poder responder adequadamente à fome de Deus. Mais adiante a mulher dirá a Jesus que estava esperando o Messias: «Quando ele vier, nos anunciará tudo»12. Aqui culmina o ciclo revelador de Jesus à mulher: «Sou eu, que falo contigo»13. Porque Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, dirá o Servo de Deus João Paulo II: «Somente Ele pode saciar a sede de felicidade que levais dentro de si. Porque Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Nele estão as respostas às perguntas mais profundas e angustiantes de todo homem e da própria história14. Dois últimos ensinamentos importantes sobre esta passagem: diz o evangelista que a mulher correu ao povoado para anunciar a Jesus: «Vinde ver um homem que me disse tudo o que fiz»15. O autêntico encontro com o Senhor sacia a fome de Deus e inspira ao anúncio apostólico. Nesse sentido nos dirá Bento XVI: « Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo »16. O outro grande ensinamento da passagem foi dirigido por Jesus aos apóstolos quando eles insistiam para que comesse: «Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra»17. A melhor resposta à fome de Deus é a obediência amorosa a seu Plano. APLICAÇÕES PRÁTICAS Um meio privilegiado para responder à fome de Deus é nos alimentarmos freqüentemente com o “Pão de vida eterna”. É o próprio Jesus que vem ao nosso encontro para cear conosco. A oração pessoal constitui outro âmbito privilegiado de encontro da fome de Deus com a fome do homem: «A oração, saibamos ou não, é o encontro da sede de Deus e da sede do homem. Deus tem sede de que o homem tenha sede d’Ele»18. Como conseqüência lógica de “sermos amigos de Jesus”, outro meio importante consistirá em “sermos amigos em Jesus”. A experiência de amizade profunda com outras pessoas será mais humanizada na medida em que se oriente mais real e autenticamente pra a comunhão com Deus. A nostalgia de Deus exige ideais altos e nobres. Por isso devemos fazer um grande esforço em evitar os sucedâneos, todos aqueles vícios que entorpecem nosso caminho até o Senhor. Isto porque contemplar o horizonte do mar e a imensidão do céu e contrastá-los com nossa miséria pessoal acentua em nós a fome de infinito, o desejo de eternidade. É importante despojarmo-nos de tudo aquilo que nos escravize aos propósitos pequenos e, com coragem, lançarmo-nos ao encontro de Deus vivo. Por último devemos ressaltar o apostolado, verdadeiro encontro entre a fome do evangelizador e a fome do que é evangelizado. CITAÇÕES BÍBLICAS
PERGUNTAS PARA ORAR PESSOALMENTE · Sou consciente de minha própria fome de Deus?
NOTAS
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quinta-feira, 15 de setembro de 2011
COM FOME DE DEUS.
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