Bismarck, famoso ditador alemão, dizia que uma mentira dita um milhão de vezes, torna-se verdade. A técnica de massificar o engano e diluir a verdade é uma das estratégias adotadas pelos formadores de opinião para induzir a sociedade ao consumo dos apelos hedonistas e introduzir o coração do homem nas sendas dos seus próprios impulsos cegos e egoístas, em propostas lisonjeiras mas interesseiras, enganadoras e volúveis, que atrás de si deixam o vazio e a frustração1.
A grande mentira contada milhões de vezes no seio da sociedade é que as criaturas tem valor absoluto e trazem felicidade em si mesmas e que o prazer vivido na relação entre as criaturas é suficiente para realizar plenamente o homem! Porém, isso é apenas mais uma miragem vendida nos comerciais, rotulada nas garrafas, estampada nas vitrines e que pouco a pouco vai instigando os desejos e manobrando a moral humana na direção desta terra de ninguém chamada idolatria.
Perdida nesta realidade onde se pretende excluir Deus e na qual os principais critérios por que se rege a existência são o poder, o ter ou o prazer2, a sociedade vai naufragando de paixão em paixão e encontra-se tão envolvida que passou a odiar a verdade por amor àquilo que toma como verdadeiro3.
Sabemos que a felicidade é a alegria que provém da verdade e, por isso, nenhuma proposta de vida construída sobre a mentira pode realizar o homem. Na busca pela verdade, gerações e gerações fortemente influenciadas pelas promessas de encontrar felicidade no amor estilo “self-service” e “fast-food” olham frustradas para suas vidas e se interrogam: o que deu errado na mminha busca pela felicidade? Será que é verdadeiro este amor que me apresentaram? Se é verdadeiro, porque permanece o vazio, a depressão, a desilusão, os vícios, as feridas, a escravidão, as insatisfações, a falta de sentido e a tristeza? Porque parece que algo está errado? Porque não consigo me satisfazer com coisas e pessoas? Será que o amor é uma mentira ou mentiram para mim a respeito do amor?
Estas perguntas sempre surgem no coração de homens e mulheres que procuram encontrar a felicidade somente no amor pelas coisas e pessoas. Assim, vivem à espera de uma retribuição do amor que as sacie mas que nenhuma criatura pode dar e que só encontra resposta eficaz no lugar onde o amor foi total, a Cruz de Cristo.
Ali, revela-se aos homens a verdade essencial do amor, ou seja, que ele cresce e realiza-se na medida que é dado. Na cruz, Deus assume o lugar do homem e ensina o homem a amar a Deus e ao próprio homem.
Mas o que a cruz tem a ver com a castidade? Muito simples. A castidade supoe o amor ordenado, educado, integral, vivido segundo os planos de Deus, então, a única e verdadeira escola capaz de educar o amor do homem para a castidade é a Cruz, ou seja, a oferta total de si mesmo a Deus em favor dos outros.
Se o homem geme e anseia por realizar-se no amar, somente na vivência da castidade ele pode lançar-se todo no amor de Deus sem reservas, cálculos, posses, reservas, misturas, rasuras e ponderações. É o casto amor que, vivido segundo os planos de Deus, sempre encontra resposta proporcional à sua busca e protege o amor do homem de possuir ou entregar-se ao que não lhe sacia plenamente.
Por isso, a castidade é bandeira a ser erguida diante de um mundo que aprisiona o amor nas grades do prazer, tratando-o como mercadoria barata que se pode comprar e vender, desvinculando-o daquilo que o faz verdadeiramente amor, ou seja, ser entrega total. A castidade é tudo amar sem nada possuir, eliminando o risco de trair o amor no que ele tem de mais belo: ser um sinal eterno de pertença filial a Deus.
Portanto, a castidade ultrapassa os atos e revela a liberdade interior daqueles que são incapazes de permitir que haja qualquer elemento de divisão entre o seu coração e o coração de Deus. A castidade, portanto, é um antídoto eficaz que anula o efeito do veneno da idolatria, colocando o homem frente a frente com o verdadeiro sentido amor, ou seja, a cruz.
Ser casto é amar tanto a Deus que, sabendo que num determinado ambiente vou ofendê-lo, vou amar mais aos outros do que a Ele, dou meia volta e vou pra casa! Ser casto é não criar substitutos para Deus. É fazer como São Francisco que se jogava numa roseira para não pecar, é fazer como São Thomas de Aquino que pegou um lenha em brasa na lareira para espantar a mulher tentava seduzí-lo, ou como Santa Teresinha que aos três anos de idade rezava um mistério do terço quando sentia vontade de pecar.
Quando nos expomos deliberadamente a situações de pecado, quando dialogamos com ele, pesamos os prós e contras e temos justificativas para cometê-lo e soluções para suas consequências, estamos nos dividindo! Estamos abrindo para o pecado um espaço que deve ser ocupado por Deus. Estamos renunciando a cruz e abrindo mão da castidade.
Portanto, a castidade é uma batalha para manter-se no caminho do amor integral, na via que faz os verdadeiros homens, no Calvário, lugar de colher os alegres frutos da cruz, que não dependem de estações, são eternos, jamais apodrecem e sempre saciam os que deles se deliciam.
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1. Discurso de Bento XVI na Festa de acolhimento dos jovens, Praça de Cibeles, MadridQuinta-feira, 18 de Agosto de 2011
2. Homilia da Santa Missa com os seminaristas na Catedral de Santa Maria la Real de la Almudena (Madri, 20 de agosto de 2011)
3. Santo Agostinho, Confissões, Livro X, Cap. XXIII
Renato Varges, Consagrado Comunidade de Aliança Shalom, RJ.
por
Formação Shalom
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