sábado, 6 de abril de 2024

Oitava da Páscoa - A ressurreição da dignidade da mulher.

 A caridade de Cristo nos urge!

O Senhor fez sair com grande júbilo o seu povo, e seus eleitos entre gritos de alegria, aleluia (Sl 104,43).

A alegre notícia da ressurreição de Cristo não pode ser calada; ao contrário, deve ser manifestada a todos os povos e nações. Seus discípulos estão encarregados de cumprir esse mandato, sem intimidar-se diante dos caprichos e da oposição dos que comandam este mundo. Revestidos de coragem e fé, proclamemos a todos os povos a misericórdia do Senhor.

Primeira Leitura: Atos 4,13-21

Leitura dos Atos dos Apóstolos – Naqueles dias, os chefes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas 13ficaram admirados ao ver a segurança com que Pedro e João falavam, pois eram pessoas simples e sem instrução. Reconheciam que eles tinham estado com Jesus. 14No entanto viam, de pé, junto a eles, o homem que tinha sido curado. E não podiam dizer nada em contrário. 15Mandaram que saíssem para fora do sinédrio e começaram a discutir entre si: 16“O que vamos fazer com esses homens? Eles realizaram um milagre claríssimo, e o fato tornou-se de tal modo conhecido por todos os habitantes de Jerusalém, que não podemos negá-lo. 17Contudo, a fim de que a coisa não se espalhe ainda mais entre o povo, vamos ameaçá-los, para que não falem mais a ninguém a respeito do nome de Jesus”. 18Chamaram de novo Pedro e João e ordenaram-lhes que, de modo algum, falassem ou ensinassem em nome de Jesus. 19Pedro e João responderam: “Julgai vós mesmos se é justo, diante de Deus, que obedeçamos a vós e não a Deus! 20Quanto a nós, não nos podemos calar sobre o que vimos e ouvimos”. 21Então, insistindo em suas ameaças, deixaram Pedro e João em liberdade, já que não tinham meio de castigá-los, por causa do povo. Pois todos glorificavam a Deus pelo que havia acontecido. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 117(118)

Dou-vos graças, ó Senhor, porque me ouvistes.

1. Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! / “Eterna é a sua misericórdia!” / O Senhor é minha força e o meu canto / e tornou-se para mim o salvador. / “Clamores de alegria e de vitória / ressoem pelas tendas dos fiéis. – R.

2. A mão direita do Senhor fez maravilhas, † a mão direita do Senhor me levantou, / a mão direita do Senhor fez maravilhas!” / O Senhor severamente me provou, / mas não me abandonou às mãos da morte. – R.

3. Abri-me, vós, abri-me as portas da justiça; / quero entrar para dar graças ao Senhor! / “Sim, esta é a porta do Senhor, / por ela só os justos entrarão!” / Dou-vos graças, ó Senhor, porque me ouvistes / e vos tornastes para mim o salvador! – R.

Evangelho: Marcos 16,9-15

Aleluia, aleluia, aleluia.

Este é o dia que o Senhor fez para nós, / alegremo-nos e nele exultemos! (Sl 117,24) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos9Depois de ressuscitar, na madrugada do primeiro dia após o sábado, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual havia expulsado sete demônios. 10Ela foi anunciar isso aos seguidores de Jesus, que estavam de luto e chorando. 11Quando ouviram que ele estava vivo e fora visto por ela, não quiseram acreditar. 12Em seguida, Jesus apareceu a dois deles, com outra aparência, enquanto estavam indo para o campo. 13Eles também voltaram e anunciaram isso aos outros. Também a estes não deram crédito. 14Por fim, Jesus apareceu aos onze discípulos enquanto estavam comendo, repreendeu-os por causa da falta de fé e pela dureza de coração, porque não tinham acreditado naqueles que o tinham visto ressuscitado. 15E disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” – Palavra da salvação.

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Reflexão

Continuamos na Oitava de Páscoa. Nesse sábado, lemos uma espécie de recapitulação, apresentada por S. Marcos, das várias aparições de Jesus a seus discípulos depois da Ressurreição. É interessante notar que o evangelho de Marcos faz como que um “resumão”, Hoje, ele nos leva de volta para a aparição descrita no capítulo 20 de S. João, que nós refletimos terça-feira passada, isto é, para a aparição de Jesus a Maria Madalena. Note-se a importância e o destaque que se dá a ela. Marcos diz: “Depois de ressuscitar na madrugada do primeiro dia após o sábado” (ou seja, na madrugada de domingo), “Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena”. Primeiro ponto: Jesus apareceu πρῶτον, antes de tudo, a ela — quis dar prioridade à aparição a Maria Madalena. Eis porém o que é espantoso: Jesus apareceu a uma mulher! Não é machismo. Lembremos o contexto histórico: as mulheres, na época de Cristo, não podiam ser testemunhas em tribunal, ou seja, a palavra delas não se considerava crível. Era “testemunho nenhum”. Mas Jesus, entre todas as pessoas a que podia aparecer, quis mostrar-se em primeiro lugar a uma mulher.

A redenção e o resgate da dignidade da mulher foram realizados justamente pelo cristianismo! Muitos não se dão conta disso: o que deu cidadania à mulher foi o cristianismo. Durante a Idade Média, quando reinava o catolicismo, as rainhas eram coroadas junto com os reis. Isso não existia na época dos césares, dos imperadores romanos: estes mandavam matar suas mulheres; no cristianismo, ao contrário, elas eram coroadas como rainhas e ajudavam seus maridos a governar. E quantas vezes as mulheres tornavam-se regentes! Isso é atestado historicamente por abundantes fontes. O que aconteceu é que, quando começou a ressurgir o paganismo, com o movimento chamado “renascimento”, renasceram com ele suas antigas misérias: renasceu, por exemplo, a escravidão, inexsistente na Idade Média, e as mulheres voltaram a ser tratadas como objeto. Além disso, deixou-se de coroar as rainhas. Muitos creem que as conquistas da dignidade da mulher são recentes e que é imperioso “libertar a mulher da Igreja”, quando o que aconteceu foi exatamente o contrário. Foi Cristo quem libertou a mulher e devolveu-lhe o reconhecimento da dignidade que ela sempre teve. Jesus, lembremos, apareceu primeiro a quem? A Maria Madalena.

No entanto, a libertação da mulher foi mais profunda do que parece, porque, no caso específico desta mulher, de Maria Madalena, tratava-se de uma alma da qual Cristo já tinha expulsado sete demônios! Vejamos agora o contraste. O versículo 10 afirma: “E ela foi anunciar aos seguidores de Jesus”. Qual é o verbo usado em gregro para “anunciar”? É o verbo ἀπαγγέλλω: Maria foi ἀπαγγέλλειν. Mas o que quer dizer isso? Quer dizer que ela tornou-se “anjo”! Sim, trata-se do mesmo verbo usado para designar os anjos: ἀγγέλλω significa “anunciar uma mensagem” e ἄγγελος, “aquele que anuncia uma mensagem”. Uma mulher, antes possuída por sete demônios, agora é anjo, ou seja, mensageira de Deus. E embora Jesus não tenha escolhido nenhuma mulher como apóstolo, Maria Madalena fez as vezes de apóstola dos Apóstolos. Ela não recebeu, é verdade, nenhuma função hierárquica, apostólica e formal, dizer porém que as mulheres “não têm dignidade” nem “função” dentro da Igreja é totalmente absurdo. Vemos, por exemplo, a grande dignidade dessa evangelizadora, Maria Madalena.

Pois bem, como é sábado da Oitava de Páscoa, convém recordar ainda a maior de todas as pessoas humanas que já existiram e existirão: a Virgem Maria, Nossa Senhora, Mãe de Jesus. Alguém pode pensar: “Não é Jesus o maior?” Jesus é maior, sim, mas Ele não é uma pessoa humana, é uma pessoa divina — a segunda pessoa da SS. Trindade. A maior, a mais perfeita obra da criação, foi uma mulher! Estamos, sim, na Oitava de Páscoa, mas sábado é sempre dia de Nossa Senhora. Peçamos a Deus que faça a Igreja ser sempre fiel à sua vocação de evangelizar e dê às mulheres, resgatadas da escravidão do demônio, a graça de se serem verdadeiras evangelizadoras. Nós todos, de ambos os sexos, fomos libertos da escravidão do demônio. Todo ser humano, que nasce sem Batismo, vem ao mundo acorrentado pelo demônio. Somente pelo Batismo recebemos a dignidade de filhos de Deus. Demos graças a Deus por tantas mulheres extraordinárias, santas, evangelizadoras de suas famílias, catequistas, etc., mas agradeçamos especialmente pelo dom que é a Virgem Maria, Nossa Senhora, Nossa Mãe, a grande evangelizadora dos corações! Que ela aumente em nós, nesse sábado da Oitava da Páscoa, nossa fé em Cristo Jesus para que, como Maria Madalena, todos nós, homens e mulheres, saiamos da escravidão de Satanás e sejamos anjos, isto é, mensageiros da Palavra de Deus.

 

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