Os pagãos me contaram suas fábulas, mas
nada valem perante a vossa lei. Diante dos reis, falei de vossa aliança
sem me envergonhar (Sl 118,85.46).
Justino viveu na Palestina no 2º
século. Leigo e filósofo pagão, converteu-se ao cristianismo e encontrou
em Cristo a verdade sem limites. Utilizou sua inteligência e habilidade
dialética em defesa dos cristãos perseguidos, como o demonstram suas
obras, das quais nos restam apenas as duas Apologias e o Diálogo com Trifão. O exemplo desse mártir nos conduza ao conhecimento admirável do mistério de Cristo.
Primeira Leitura: Eclesiástico 42,15-26
Leitura do Livro do Eclesiástico – 15Vou
recordar as obras do Senhor, vou descrever aquilo que vi. Pelas
palavras do Senhor foram feitas as suas obras, de acordo com a sua
vontade realizou-se o seu julgamento. 16O sol brilhante contempla todas as coisas, e a obra do Senhor está cheia da sua glória. 17Os
santos do Senhor não são capazes de descrever todas as suas maravilhas.
O Senhor todo-poderoso as confirmou, para que tudo continuasse firme
para sua glória. 18Ele sonda o abismo e o coração e penetra em todas as suas astúcias. 19Pois
o Altíssimo possui toda a ciência e fixa o olhar nos sinais dos tempos;
ele manifesta o passado e o futuro e revela as coisas ocultas. 20Nenhum pensamento lhe escapa e nenhuma palavra lhe fica escondida. 21Pôs em ordem as maravilhas da sua sabedoria, pois só ele existe antes dos séculos e para sempre. 22Nada lhe foi acrescentado, nada tirado, e ele não precisa de conselheiro algum. 23Como são desejáveis todas as suas obras, brilhando como centelha que se pode contemplar! 24Tudo isso vive e permanece sempre, e em todas as circunstâncias tudo lhe obedece. 25Todas as coisas existem aos pares, uma frente à outra, e ele nada fez de incompleto: 26uma coisa completa a bondade da outra; quem, pois, se fartará de contemplar a sua glória? – Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial: 32(33)
A palavra do Senhor criou os céus.
1. Dai graças ao Senhor ao som da harpa, / na lira de dez cordas celebrai-o! / Cantai para o Senhor um canto novo, / com arte sustentai a louvação! – R.
2. Pois reta é a palavra do Senhor, / e tudo o que ele faz merece fé. / Deus ama o direito e a justiça, / transborda em toda a terra a sua graça. – R.
3. A palavra do Senhor criou os céus, / e o sopro de seus lábios, as estrelas. / Como num odre, junta as águas do oceano / e mantém no seu limite as grandes águas. – R.
4. Adore ao Senhor a terra inteira, / e o respeitem os que habitam o universo! / Ele falou e toda a terra foi criada, / ele ordenou e as coisas todas existiram. – R.
Evangelho: Marcos 10,46-52
Aleluia, aleluia, aleluia.
Eu sou a luz do mundo; / aquele que me segue / não caminha entre as trevas, / mas terá a luz da vida (Jo 8,12). – R.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 46Jesus
saiu de Jericó junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho
de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. 47Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” 48Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” 49Então Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” 50O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. 51Então Jesus lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” 52Jesus
disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a
vista e seguia Jesus pelo caminho. – Palavra da salvação.
Reflexão
O Evangelho de hoje traz a famosa cura do cego e mendigo de Jericó,
Bartimeu. O que significa essa cura para nós? É importante recordar o
seguinte: quando Jesus faz milagres, Ele nunca os faz simplesmente pela
benfeitoria, pela caridade corporal. Não, não é somente isso. Quando
Jesus faz milagres, além do bem físico feito à pessoa, Ele nos está
dizendo alguma coisa também a nós. Por quê? Porque as ações de Cristo
são salvíficas e reveladoras. E o que quer dizer a cura de Bartimeu,
cego e mendigo? Em primeiro lugar, temos de entender que somos nós este
cego e mendigo. Por que somos cegos? Somos cegos porque, embora tenhamos fé, nossa fé ainda precisa aumentar. E por que somos mendigos?
Somos mendigos porque, embora possamos estar em estado de graça e,
portanto, ter em nós a caridade de Deus, a nossa caridade também precisa
aumentar. Somos mendigos de Deus e dependemos da graça para que tudo
isso cresça. A cegueira significa a fé que precisa aumentar; a
mendicância, a caridade que precisa crescer. Mas como iremos vê-lo
realizar-se em nossa vida? Antes de tudo, entendamos a cegueira. Se não
vemos as coisas com o olhar de Deus, não as vemos como elas são. Eis uma
de nossas grandes misérias. Pelo pecado original, temos uma dificuldade
enorme de enxergar os fatos. Vivemos perturbados passionalmente, ou
seja, nossas paixões e emoções nos fazem distorcer a realidade. Quantas
vezes passamos por situações que parecem enormes, monstruosas,
tremendas, enquanto as pessoas ao redor não entendem por que sofremos
tanto. Para elas, que não estão envolvidas afetivamente como nós, a
dificuldade parece simples; para nós, é uma montanha que não conseguimos
transpor. Pois bem, além da dificuldade de enxergar a realidade por
causa do pecado original, há também uma outra: como ainda não vemos a
Deus face a face, não compreendemos de todo como as coisas realmente são
no projeto divino. Sim, porque Deus é a fonte do ser todas as coisas,
de modo que elas são como Deus as vê, não como nós as vemos. Por
exemplo, cremos que nos conhecemos; mas, na verdade, nos ignoramos. É
Jesus quem nos conhece, Ele sabe quem somos. Muitas vezes, temos de nós
mesmos uma visão distorcida: há em nós coisas más que não reconhecemos, e
outras boas que exageramos… Mas Jesus nos conhece perfeitamente, e não
só isso: ama-nos e quer o nosso bem. Por isso precisamos enxergar a
realidade, e a forma de o fazer chama-se oração. A oração é o
exercício da fé no qual pedimos a Jesus seus olhos emprestados. Na
oração, pedimos a Cristo que nos revele a nós mesmos: “Quem sou eu,
Jesus? Que projetos tendes para mim? O que quereis de mim, Senhor?”
Somos cegos, não vemos sequer quem nós somos. Não é que não enxerguemos
um palmo à frente do nariz, não enxergamos um palmo para dentro
do nariz! Não vemos as coisas de fora, não vemos as coisas de dentro.
Mas Jesus vê, “Ele é a luz que ilumina todo homem”, diz o evangelho de
S. João. Aqui, portanto, está a primeira lição da cura de Bartimeu:
Jesus quer-nos curar da nossa cegueira. Sim, precisamos enxergar quem
somos. Feito isso, ou seja, uma vez que começamos a ver-nos nos planos
de Deus, então podemos começar a transformar nosso coração, para que ele
queira o que Jesus mesmo quer. Afinal, não só não nos conhecemos como
tampouco nos amamos. Não temos por nós verdadeiro amor porque não nos
amamos com a vontade de Cristo. Jesus é quem nos ama de verdade. Quantas
coisas andamos querendo por julgá-las boas, quando, na verdade, são
veneno! Por quantas coisas passamos dias, semanas, meses, anos, a vida
inteira lutando, mas que, no fim das contas, só nos farão mal! Nós não
somos nossos amigos, mas Cristo o é, Ele quer o nosso bem. Por isso, a
melhor coisa que temos a fazer é parar de querer o que queremos para
querer o que Jesus quer. Se desejamos o que Jesus não deseja, mudemos
imediatamente de vontade, conformando-a à de Cristo, querendo o que Ele
quer, porque é Ele quem sabe o que é bom para nós. Jesus põe-se diante
de nós como um Amigo que passa à beira do caminho desses cegos e
mendigos que somos nós. Temos de pedir a Ele na oração: “Jesus, que eu
veja. Jesus, que eu veja com os vossos olhos. Jesus, que eu enxergue
como vós enxergais”. Somente assim, com os olhos emprestados de Cristo,
começaremos a ver que nossas vontades e projetos pessoais nem sempre são
bons, mas que as vontades e projetos de Cristo para nós, sim, sempre o
são. Jesus nos ama, Ele é o nosso verdadeiro amigo! Queiramos pois o que
Jesus quer, deixemo-nos transformar. Quando formos rezar, é importante
que estejamos dispostos a mudar. Se rezamos, mas não estamos dispostos a
sair da oração diferentes, não estamos rezando direito. Sim, há gente
que passa horas perdidas na oração. Não porque a oração seja coisa ruim,
mas porque as pessoas é que rezam mal. Há quem vá ao sacrário para
tentar mudar Jesus, como se a oração fosse uma espécie de “queda de
braço” para convencer Deus a seguir os nossos planos: “Seja feita a minha
vontade assim na terra como no céu”... Precisamos curar-nos dessa
cegueira e então, vendo que Deus quer mudar a nossa vontade, querer o
que Ele quer. Somente assim deixaremos de ser cegos e mendigos, porque
enxergaremos a verdade com os olhos de Cristo e teremos a grande riqueza
que é o seu amor, a sua vontade realizada em nossos corações.
https://padrepauloricardo.org
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