O amor que Deus tem por nós é a base do nosso caminhar para a perfeição cristã. Ninguém será verdadeiramente religioso, enquanto não experimentar esse Amor, com o coração, com a mente e com a vida.
Mas como vemos este Amor? De três maneiras: basta olhar para dentro de nós, para fora de nós e para Jesus Cristo.
Antes que o mundo existisse, Deus já nos amava. São Paulo disse que o Senhor “nos escolheu em Cristo antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos” (Ef 1,4).
Para expressar esse amor imenso de Deus, o rei Davi chegou a dizer: “Se meu pai e minha mãe me abandonarem, o Senhor me acolherá” (Sl 26,10). O profeta Isaías disse: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca” (Is 49,15).
Olhando para dentro de nós, vemos como somos belos. Deus não poderia nos ter criado de maneira melhor; pois, nos criou à Sua “imagem e semelhança” (Gn 1,26), com o corpo dotado de sentidos e a alma dotada de potências perfeitas: inteligência, memória, entendimento, vontade, consciência, liberdade, que nenhum animal tem. Só a nós o amor de Deus deu essas mãos maravilhosas e essa inteligência exuberante. Com ela o homem projeta e com as mãos constrói as maravilhas: casas, carros, aviões, rádio, TV, computador… Deus entrou dentro Dele mesmo para buscar ali a nossa imagem. O que mais poderíamos desejar? Por isso Santo Irineu († 200) já dizia que o “homem é a glória de Deus”.
Somente o homem conhece a Deus, sabe que Ele existe; e é capaz de amá-lo, adorá-lo e bendize-lo; e deve fazê-lo em nome de todos os demais seres que foram criados para ele. O Concílio Vaticano II disse que “o homem é a única criatura que Deus quis por si mesma” (GS, 21). Tudo o mais foi feito para nós e nos obedece. Se o cavalo tivesse mãos e inteligência não poderíamos montá-lo. Uma criança domina um elefante na Índia.
O salmista canta com alegria a sua beleza:
“Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe. Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso. Pelas vossas obras tão extraordinárias, conheceis até o fundo a minha alma. Nada de minha substância vos é oculto, quando fui formado ocultamente, quando fui tecido nas entranhas subterrâneas…. Ó Deus, como são insondáveis para mim vossos desígnios! E quão imenso é o número deles!” (Sl 138, 13-17).
Olhando também para fora de nós vemos como Deus nos ama; tudo foi feito para nós: a Terra, o ar, a chuva, o alimento que brota da terra, a flor que encanta nossos olhos e nos agrada com seu perfume; os pássaros que cantam, e tudo mais… Deus criou tudo por amor a cada um de nós. O sol, a lua, as estrelas, as plantas, os animais, os mares, os rios, as montanhas, os elementos químicos, o ar, a água, o vento, o fogo… foram criados para o você. Recebemos tudo isso gratuitamente. Da terra retiramos tudo que precisamos viver. Deus providenciou tudo no Seu amor por nós.
Tudo foi criado e entregue por Deus ao homem, diz o livro do Gênesis: “Que ele reine sobre os peixes do mar; sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis” (Gn 1,26b).
Deus criou tudo para nós e quer que O amemos em gratidão por tantos dons. Santo Agostinho dizia: “Senhor meu, todas as coisas que vejo na terra e acima da terra me falam e me exortam a Vos amar. Todas me dizem que as fizestes por meu amor”.
Santa Teresa, olhando as árvores, as fontes, os regatos e os lagos, dizia: “Todas estas belas criaturas me lembram a minha ingratidão por amar tão pouco o Criador. Criou-as para ser amado por mim”.
Como se tudo isso já não bastasse, Deus foi muito mais além no Seu amor por nós. Para cativar todo o nosso amor; Ele deu-se a nós em todo o Seu ser. Deus Pai chegou ao extremo de nos dar Seu próprio Filho para que não perecêssemos no inferno. “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único” (Jo 3,1 6a), disse Jesus.
Vendo-nos mortos e privados de Sua graça por causa do pecado, o querido Filho único do Pai desceu até nós, pobre, escondido, sacrificado, imolado na Cruz, para pagar os nossos pecados na cruz, devolvendo-nos assim a vida que o pecado nos tirara. E exatamente o que nos ensinou São Paulo: “Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo excessivo amor com que nos amou, quando estávamos mortos por nossos pecados, nos vivificou juntamente com Cristo” (Ef2, 5).
Em Cristo, Deus Pai nos deu tudo: Sua graça, Seu amor, o céu!
“Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?” (Rm 8,32). Diz o Salmista: “Nele está toda a graça e a copiosa Redenção” (Sl 129).
Jesus nos amou profundamente, até o fim, até a morte. São João observa que, às vésperas da cruel paixão, “Sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, até ao extremo os amou” (Jo 13,1). “Amou-nos e entregou-se a si mesmo por nós” (Gl 2,20). Fez-se homem, vestiu-se de carne, dignou-se assumir a nossa natureza, “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E (…) humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz” (Fl 2,7-8).
Eis aí um Deus aniquilado por amor a nós! Podendo salvar-nos sem sofrer; aceitou a morte de cruz para nos mostrar o Seu amor. Ninguém mais tem o direito de duvidar do amor de Deus, pois Ele mesmo disse que ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelo outro: “Dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10,15b).
O amor de Jesus por nós supera ilimitadamente nossa compreensão. Santa Maria Madalena de Pazzi, com o crucifixo na mão, dizia: “Sim, Jesus, Vós estais louco de amor. Eu o digo e direi sempre: Estais louco de amor”. O que fez Jesus suportar a paixão e a agonia da cruz foi o amor por todos nós, pois o amor é mais forte do que a dor e a morte. Jesus amou mais do que sofreu – eis o segredo da Sua vitória.
O desejo profundo de quem ama alguém é estar sempre próximo dá pessoa amada. Para poder estar sempre junto de nós, Jesus fez o milagre da Eucaristia, a maior prova possível do Seu amor por nós.
Na hora de Sua morte, deixou-se a si mesmo, todo, sem reservas, na Eucaristia. Para que cada um de nós pudesse facilmente recebê-lo, quis ficar sob a aparência do pão – o alimento de todos; quis ficar conosco para ser nossa força e vida e estar sempre unido a nós. O amor sempre aspira pela união. Ele disse: “Sem Mim nada podeis!” (Jo 15,5). “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim Eu nele”. “Viverá por Mim”; “Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,56-57). Jesus é Deus aniquilado, escondido, prisioneiro em todos os Sacrário do mundo para ser nossa Força. Não há amor maior!
Como corresponder a todo este amor de Deus?
Buscando-O de todo o coração. Nada dói mais em uma pessoa que ama do que ver o seu amor não correspondido. “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração” (Dt 6,5). “Amor só se paga com amor”, disse São João da Cruz. E como amar a Jesus? Ele responde: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15). Conhecemos os 10 Mandamentos da Lei de Deus, confirmados por Jesus (cf. Mt 19). É a base do comportamento cristão, a moral católica. Quem não obedece os Mandamentos não ama a Deus. Não podemos deixar que o mundo com suas ideologias esvazie esses Mandamentos com uma moral relativística que trai o essencial da Lei de Deus. A norma é o Catecismo da Igreja; fora dele é relativismo perigoso.
Prof. Felipe Aquino
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