Mais um testemunho interessante na vida de Dr. Scott Hahn, ex-pastor convertido ao catolicismo.
Eu era um católico recém-convertido, e estava orgulhoso da minha descoberta.
Tinha acabado de apresentar um trabalho num seminário de doutorado sobre o Evangelho de Mateus, e achava que essa obra era importante e inédita, bem como, sabia que abordava a verdade. Até esmo a inesgotável sessão de duas horas e meia de questionamentos do meu professor e colegas estudantes tinha deixado a mim e à minha tese ilesos.
Qual era o assunto do trabalho? Eu demonstrava que o relato de Mateus no qual Jesus dá “as chaves do reino” para Pedro, estava relacionado com o obscuro oráculo de Isaías sobre a transferência das “chaves da Casa de Davi”. O que Jesus conferia a Pedro, ou seja, a autoridade sobre a Sua Igreja, correspondia ao que o rei de Isaías tinha conferido a Eliaquim, ao fazê-lo primeiro-ministro do reino de Davi. Em ambos os casos, havia um encargo tanto de primazia como de sucessão. Quando tal pessoa deixasse aquele cargo, outro tomaria o seu lugar e, seu sucessor, gozaria da mesma autoridade que o seu antecessor.
Estudiosos anteriores, tanto protestantes quanto católicos, tinham percebido a citação de Isaías. E você não precisa ser um estudioso para perceber que Mateus está cheio de citações e mais citações, alusões e referências, do Antigo Testamento.
Contudo, eu senti que tinha tido um novo ponto de vista, ao ver como esta citação ajudava a compreender o significado da intenção de Jesus em Mateus. Como dito, esta passagem representava Jesus como o novo rei Davi e, a Igreja, como o reino restaurado de Davi.
Foi essa conclusão e outras semelhantes, que me levaram a me tornar um católico. Agradeci a Deus por esta graça, mas também me parabenizei por ter realizado um trabalho acadêmico tão impressionante. Meus colegas e meu professor também estavam impressionados, mas isso não chegava nem a metade da grande impressão que eu estava de mim mesmo.
Porém, não passou muito tempo depois, e eu encontrei de novo essas mesmas duas passagens bíblicas, num ambiente que eu dificilmente esperava encontrá-las.
Foi o que ocorreu na Missa do 21º domingo do Tempo Comum. A primeira leitura era tirada de Isaías, capítulo 22, o mesmo oráculo obscuro que eu havia estudado em detalhes no meu trabalho acadêmico. É uma passagem tão estranha que eu jamais esperava ouvi-la dentro da Liturgia. E, logo em seguida, poucos minutos depois, o sacerdote proclama o Evangelho segundo Mateus, cap. 16, o episódio em que Jesus entrega as chaves a Pedro!
Perguntei a mim mesmo: quais eram as chances dessas duas leituras das Escrituras serem lidas numa mesma Missa? Eu me senti como se tivesse ganhado uma gincana bíblica.
Somente mais tarde, descobri que as leituras que ouvimos na Missa não são escolhidas por um santo acaso. A minha interpretação inovadora de Mateus, capítulo 16, era a interpretação que os católicos, há anos, ouviam na Liturgia, e não apenas ouvintes acadêmicos, mas trabalhadores, comerciantes, e os mais pobres dos pobres.
Faz mais de vinte anos desde que me converti ao Catolicismo, e tive essa mesma experiência, várias e várias outras vezes, na Missa.
Domingo após domingo, a Igreja nos dá uma padronização das interpretações bíblicas, mostrando-nos como as promessas do Antigo Testamento foram cumpridas no Novo. E a Igreja nos apresenta as Escrituras da mesma forma que os escritores do Novo Testamento faziam; e, eles aprenderam isso com Jesus.
Os evangelistas interpretaram o Antigo Testamento como a história da salvação, o suave desdobramento do plano misericordioso e compassivo de Deus para com os diversos costumes da raça humana, numa aliança familiar – na família de Deus, que adora e vive no Seu reino.
Certamente foi aquela promessa da filiação divina que me cativou e me segurou, por todos esses anos, quando pela primeira vez, eu fui em busca de razões para crer, quando fui em busca do significado mais profundo do Batismo da Igreja.
“Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus… em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3,3.5).
Eu aprendi com meus primeiros professores que o Batismo nos faz Cristão. É uma unção que faz com que Cristo possa conferir a realeza a um mendigo como eu. Mais do que isso, é essa realeza que Ele quer que todos compartilhemos com quem encontramos, especialmente, com aqueles que nos são mais hostis. Sempre com mansidão e respeito. E cheios de esperança.
Retirado do livro: “Razões Para Crer”. Scott Hahn. Ed. Cléofas.
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