A
ordenação ritual da Missa pode comparar-se a uma partitura musical, em
que cada intervenção está programada e dosada para se obter uma execução
harmônica; assim, se um cantor ou um instrumentista executar uma parte
que não lhe pertença, comprometerá toda a execução.
O mesmo acontece com a leitura do
Evangelho durante a Missa, se efetuada por um simples fiel, pois não se
trata somente de infração disciplinar, mas também provoca uma espécie de
grande desafinação. Ao tornar-se uma regra, e ainda por cima com a
aprovação do pároco, revela uma incompreensão grave dos diferentes
papéis a desempenhar na celebração eucarística e manifesta um enorme
atropelo ritual.
O papel dos sacerdotes e dos fiéis
Entre
o papel do sacerdote e o da assembleia dos fiéis – os dois polos de
convergência que interagem numa relação constante-, há outras pessoas ou
atores com tarefas bem determinadas, sem sobreposições nem
interferências. Poderá haver quem considere que estas inter-relações têm
uma importância secundária ou até mínima; mas a verdade é que o
Concilio Vaticano II consagrou-lhes explicitamente um artigo
Constituição Litúrgica Sacrosanctum concilium (SC): “Nas celebrações
litúrgicas, limite-se cada um, ministro ou simples fiel, exercendo o seu
ofício, a fazer tudo e só o que é da sua competência, segundo a
natureza do rito e as leis litúrgicas” (SC 28).
A disposição conciliar acabou com o monopólio do sacerdote que tinha
centrado em si as diversas funções desde a da presidência à de ler as
leituras e os textos destinados ao canto, e voltou a dar plena
capacidade de expressão e de participação à assembleia dos fiéis. De
fato, a assembleia, à semelhança da Igreja, de que é a manifestação
visível e privilegiada – reveladora da sua natureza e das suas
características -, não é uma massa indiferenciada e uniforme, mas um
povo reunido e ordenado, onde cada membro ou grupo desempenha a sua
função específica para serviço de todos.
À frente da assembleia eucarística coloca-se a figura do sacerdote
que, por força do sacramento da Ordem (por isso é que se diz
<>), preside em vez de Cristo, dirige a
oração, anuncia a Palavra de salvação, associa o povo à oferta e
distribui o pão da vida eterna. Ente os ministros ordenados, além do
bispo, encontramos o diácono, sempre tido em grande honra, a quem
competem diversos ofícios, especialmente a proclamação do Evangelho e o
serviço da comunhão no cálice. Para evitar qualquer forma de
individualismo e de divisão, exige-se que a assembleia forme um único
corpo, participando de modo unitário na escuta da Palavra, na oração, no
canto, na oferta, na comunhão e, igualmente, nos gestos e atitudes do
corpo.
Mistérios para o serviço
Para serviço do presidente e da assembleia está prevista uma serie de
ofícios ou ministérios (etimologicamente nem de poder) exercidos por
pessoas oportunamente designadas e preparadas para cada um dos momentos
da celebração: para o acolhimento, para a leitura, para a oração, para o
canto e para a mesa. O número de pessoas encarregadas varia, consoante
as assembleias são mais ou menos numerosas, mas o mínimo requerido para a
missa com a participação dos fiéis é de, pelo menos, três ministros: um
acólito, um leitor e um cantor. O cantor está encarregado de dirigir e
de apoiar o canto do povo, ajudado, se possível, pelo coro. O acólito
ajuda o sacerdote no altar e, em determinadas condições, na distribuição
da comunhão aos fiéis. O leitor – como o acólito, é um ministério
<>, isto é, designado de modo estável com um
rito apropriado – desempenha a função da leitura dos textos bíblicos,
exceto do Evangelho. Estes dois ministérios também podem ser exercidos
por simples fiéis, desde que preparados do ponto de vista bíblico,
litúrgico, espiritual e técnico.
A Palavra de Deus
Entre
os ministérios abertos aos leigos, o de leitor é o mais importante.
Este ministério tem um local e um livro próprios. Esse local é o ambão,
um lugar elevado dotado de uma estante, para que a voz possa ser ouvida
por todos. O livro, chamado leccionário, é uma coleção ordenada das
leituras bíblicas para cada celebração. Nunca se celebra a Eucaristia
sem a leitura da Palavra de Deus e, quando o leitor lê, todos escutam
sentados. Há uma exceção para a leitura do Evangelho, para a qual todos
se levantam, fazem o sinal da cruz, aclamam no início e, no fim,
enquanto o leitor beija a página evangélica.
A antiquíssima tradição do Oriente e do Ocidente atribuiu grande
importância à leitura do Evangelho, honrando-o com um livro diferente,
com decorações valiosas – ao longo da história e, mesmo atualmente,
fizeram-se e publicaram-se verdadeiras obras de arte! -, entregando ao
diácono ou, na sua ausência ao sacerdote, a sua proclamação. Ensina o
Concílio Vaticano II (SC 33) que, na palavra do Evangelho, Cristo
anuncia, hoje, o seu <> e torna-Se presente (SC
7). Os gestos litúrgicos que acompanham a leitura do Evangelho: canto,
incenso, círios, procissão, etc.) exprimem a fé da assembleia na
presença de Cristo através da sua Palavra. Por isso, confiar a uma
pessoa qualquer a leitura do Evangelho tem o direito de explica-lo ou de
fazer a homilia), mas também uma falta de respeito por Aquele que é a
Palavra viva.
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