quarta-feira, 4 de outubro de 2017

COMO ENTENDER O APOCALIPSE?

O Apocalipse oferece uma imagem do que é a vida do cristão e a vida da Igreja: uma realidade ao mesmo tempo da terra e do céu, do tempo e da eternidade.

A interpretação do Apocalipse requer critérios precisos deduzidos deste gênero literário. A palavra grega “apokálypsis” quer dizer revelação. O Apocalipse quer incutir nos leitores uma confiança inabalável na Providência Divina em tempos difíceis para os cristãos. Não vamos aqui analisar os simbolismos dos números, animais, aves, monstros, etc..
No fim do século I era cada vez mais difícil a situação dos cristãos no Império Romano por causa da terrível perseguição pelos imperadores romanos. Tudo começou com Nero, no ano 64, e São João escreveu estando exilado na ilha de Patmos, no mar Egeu, na terrível perseguição de Domiciano (81-96). Muitos cristãos desanimados, abandonavam a fé (apostasia) e aderiam às prática pagãs. Foi em tais circunstâncias sombrias que São João escreveu o Apocalipse.
O livro visava encorajar os fiéis. O Apocalipse é, basicamente, “o livro da esperança cristã” ou da confiança inabalável no Senhor Jesus e nas suas promessas de vitória. Ele quer anunciar a “vitória do Bem sobre o mal”, do reino de Cristo sobre o reino do Mal.
Nem todo o livro do Apocalipse está redigido em estilo apocalíptico. Compreende duas partes anunciadas em Ap 1,19-3,22: revisão de vida das sete comunidades da Ásia Menor às quais São João escreve em estilo sapiencial e pastoral; 4,1-22,15: as coisas que devem acontecer depois. Esta é a parte apocalíptica propriamente dita para a qual se volta a nossa atenção: 4,1-5,14: a corte celeste, com sua liturgia. O Cordeiro “de pé, como que imolado” (5,6), recebe em suas mãos o livro da história da humanidade. Tudo o que acontece no mundo está sob o domínio do Senhor, que é o Rei dos séculos. A parte apocalíptica do livro se abre com uma grandiosa cena de paz e segurança; qualquer quadro de desgraça está subordinado a isso.
O núcleo central do sentido do Apocalipse apresenta, sob forma de símbolos, a luta entre Cristo e Satanás, luta que é o eixo de toda a história. Os sete selos revelam esta luta. A seguir, de 17,1 a 22,17, após os três septenários, ocorre a queda dos agentes do mal: 17,1-19,10: a queda de Babilônia (símbolo da Roma pagã); 19,11-21: a queda das duas Bestas que regem Babilônia (o poder imperial pagão e a religião oficial do império); 20,1-15: a queda do Dragão, instigador do mal.
A seção final (21,1-22,15) mostra a Jerusalém celeste, Esposa do Cordeiro o oposto da Babilônia pervertida. Os versículos 22,16-21 constituem o epílogo do livro.
Em resumo, as calamidades que o Apocalipse apresenta a se desencadear sobre o mundo, não podem ser interpretadas ao pé da letra. Unindo as aflições na terra e alegria no céu, quer dizer aos seus leitores que as tribulações desta vida estão de acordo com a Sabedoria de Deus; foram cuidadosamente previstas pelo Senhor, dentro de um plano harmonioso, onde nada escapa, embora não entendamos.
Ao padecer as aflições da vida cotidiana, os cristãos não devem desanimar. Foi uma forma de consolo que o Apocalipse queria incutir aos seus leitores; não só do século I, mas de todos os tempos da história; isto é, os acontecimentos que nos atingem aqui na terra fazem parte da luta vitoriosa do Bem sobre o mal; é a prolongação da obra do Cordeiro que foi imolado, mas atualmente reina sobre o mundo com as suas chagas glorificadas (cf. c.5). Os cristãos na terra gemem, mas os bem-aventurados na glória cantam aleluia.
No céu os justos não se desesperam com que acontece com os que sofrem na terra; antes, continuam a cantar jubilosamente a Deus porque percebem o sentido das nossas tribulações. O Apocalipse quer mostrar que essa mesma paz do céu deve ser também a dos cristãos na terra, porque, embora vivam no mundo presente, já possuem em suas almas a eternidade e o céu em forma de semente, pela graça santificante, que é a semente da glória celeste.
Assim o Apocalipse oferece uma imagem do que é a vida do cristão e a vida da Igreja: uma realidade ao mesmo tempo da terra e do céu, do tempo e da eternidade. A vida do cristão é celeste, deve ser tranquila, como a vida dos justos que no céu possuem em plenitude aquilo mesmo que os cristãos possuem na terra em gérmen.
A sua mensagem básica do Apocalipse é esta: as desgraças da vida presente, por mais aterradoras que pareçam, estão sujeitas ao sábio plano da Providência Divina, a qual tudo “faz concorrer para o bem daqueles que O amam” (Rm 8,28).




(via Prof. Felipe Aquino)

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