Terminada a Oitava da Páscoa iniciamos um tempo de preparação para o Pentecostes.
Até à Páscoa vivemos quarenta dias de preparação, foi a Quaresma, agora perfilam-se cinquenta dias até ao Pentecostes, outros tantos dias de preparação para essa realidade que o Evangelho de São João já nos faz perceber quando nos diz que temos que nascer do Espírito.
Esta é a nova condição do discípulo de Jesus, ser filho do Espírito para ser verdadeiramente Filho de Deus e herdeiro do Reino.
Porque a nossa natureza carnal, a nossa dimensão humana é a plataforma da qual se desenvolve e deve desenvolver essa plenitude de vida e de pertença, essa filiação divina.
Neste sentido e como nos diz Jesus pelo Evangelho de São João aquele que nasceu da carne é carne e sabe qual a sua origem e o seu fim, conhece os seus limites temporais e históricos.
Contudo, aquele que nasceu do Espírito não sabe de onde vem nem para onde vai, ou seja não tem limites na sua realidade porque como nascido do Espírito está imbuído e incumbido dessa missão de ser voz, de fazer a Palavra presente.
E a Palavra é intemporal, incomensurável, inabarcável, a Palavra flúi como um rio e como o vento sem princípio nem fim.
O homem nascido do Espírito não sabe nem conhece o mistério da sua origem, é como que uma incógnita para si e para os outros, desviado pelo Espírito na sua imprevisibilidade e no seu poder pode ser também para os outros um apelo à mudança de sentido, ao desvio de um fim possivelmente conhecido.
O Espírito é o dom irresistível de Deus, a doação que não se pode negar e que atrai a si com toda a força, com todo o poder atractivo e sedutor aqueles que se deixam atrair por tal dom, que se abrem a esse dom.
Para Deus nada é irreversível, nem mesmo a morte, pois Deus pode sempre dar-nos mais e mais com o Espírito e por isso o nosso futuro, seja ele qual seja é sempre um dom imprevisível de Deus. Só o Espírito de Deus pode fazer algo de novo nas nossas vidas, porque Deus é a fonte imanente da vida.
E para nós, para os homens de todos os tempos e eras, a grande questão que se coloca, a que nos inquieta o espírito é a do sentimento de perda, uma perda inquestionável que nos marca nas nossas limitações e finitudes, que nos obsessiona como desafio a ultrapassar.
A fé abre-nos ao dom de Deus, um dom que ultrapassa tudo o que nos limita e imaginamos como possível, que nos faz nascer constantemente para a novidade.
Como poderemos viver sem esse dom, sem esse Espírito, se acreditamos na vida e que fomos feitos para a vida, ainda que incógnita e imprevisível?
Pe.Emílio Carlos+
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