terça-feira, 10 de maio de 2011

AS TRÊS CRUZES NO CALVÁRIO.


No alto do Calvário três cruzes recortavam sua silhueta sobre a imensidade do firmamento. O oráculo secular se tornara realidade: “Ele foi colocado entre os celerados” (Is 53,12; Mc 15,28).

Aquele no qual habita toda a plenitude da divindade (Cl 2,9) e que no reino celeste existe, desde toda a eternidade, em luz inacessível e em esplendores eternos, Segunda Pessoa da Trindade Santa, e que no Tabor fora glorificado pelo Pai e estivera na companhia veneranda de Moisés e Elias, o maior dos legisladores e o príncipe dos profetas, e que, no entardecer da História do mundo, na Parusia famosa, envolto na grandeza de sua majestade virá julgar os vivos e os mortos, acompanhado de legiões de anjos e ao som de trombetas, harpas e cítaras, hoje, ei-lo no alto de uma Cruz, em outro trono, este ignominioso, em outro dia, este de desprezos, circundado de imensa legião de pérfidos injuriadores, tendo como assistentes a seu sólio insignes e célebres ladrões. Daqueles corações, guarida caótica de crimes, abrigo sombroso de misérias, só podia resultar para Jesus nova cópia de terríveis ultrajes. Estes, aliás, foram registrados pelo evangelista: “Até os ladrões, que foram crucificados juntamente com ele, o injuriavam” (Mt 27,44).
Que mais faltava às humilhações de Cristo do que ser o objeto dos desprezos daqueles malfeitores? À medida em que a morte deles se avizinha, com o pavor do desenlace final, mais eles se irritam, maldizendo sua sorte e aqueles que os levaram a tal suplício, contorcendo-se em suas cruzes com terríveis convulsões. Um deles cai em si e recebe com amor a graça de Deus.
Que espetáculo então jamais visto na História: aquelas três cruzes! Ali está retratado o que cada ser humano é. Cada um está num processo de santidade, de arrependimento ou de impenitência. Rodam os séculos, desaparecem os atores, derrocam-se os muramentos de povos famosos, se exordia a história de novas épocas, caem tronos, sucedem-se dinastias e, por mais complexos que sejam os vícios, por mais rutilantes que sejam as virtudes, as conquistas das ações nobres, por mais trágica que seja uma existência, tudo se sintetiza nestas três posturas. Aí está o que cada um é ou pode ser. Jesus seria sempre o retrato de todos aqueles que se unem a Deus e à sua justiça, fazendo em tudo a vontade do Pai. Dimas lembraria através dos tempos aqueles que num instante decisivo e único receberam com amor o toque da graça e se desfizeram das ilusões, das fantasias, dos erros, da iniqüidade.
Ele percebe em Jesus uma paciência além dos limites humanos, um sofrer de esquisitas proporções e isto o leva a refletir e refletindo entra mais e mais dentro de si. Ele se comove e percebe o contraste entre a luz e a treva, o bem e o mal, a verdade e o erro. Mais ainda, pois, ele sente que pode optar por sair da bruma da maldade e que pode se reabilitar. Junto dele está alguém que personifica a bondade e sofre injustamente. Ele se deixa enlear pelos eflúvios de inspirações nunca dantes imaginadas e resolve enfrentar a crise que nele se instala. Neste instante brilhou um novo ser, se metamorfoseou uma vida, cintilou uma conversão. Gestas, porém, iria se tornar o símbolo de todos aqueles que fecham as portas de seu coração às mensagens divinas. Ele se endurece em seus planos perversos. Não tem sensibilidade moral e, no seu orgulho interior, se empedra na perversidade.

Na vida cada um ou imita Jesus sempre unido a Deus, ou Dimas se arrependendo de suas culpas, ou Gestas perseverando inditosamente nos seus erros.




Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Local:Mariana (MG)

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