quarta-feira, 4 de maio de 2011

JESUS NO ALTO DA CRUZ SE DIRIGE AO PAI.


O que muitas vezes se esquece é que a primeira palavra das sete palavras pronunciadas por Jesus no alto da cruz foi esta: Pai! Pai é pujança suavizada, é dedicação, é fortaleza, é amparo. Em Deus lembra o princípio de tudo. Na História dos homens quantas vezes pronunciada em trágicas circunstâncias por muitos que reeditaram a cena do Filho Pródigo: “Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti” (Lc 15, 18). Pai é a sublimidade, a inteligência que ensina, a sabedoria que dirige, a força que protege, o vigor que anima, a antevisão que premune, a voz que acautela, o exemplo que arrasta, a luz que ilumina. Pai é nome que é título de glória, escudo, arma poderosa, manancial de esperanças e de proteção nos embates da vida. Jesus a pronunciara tantas vezes! Ensinara aos Apóstolos a rezar ao Pai nosso que está nos céus.

Rendera graças ao Pai antes de ressuscitar a Lázaro. No Horto pedira: “Pai afasta de mim este cálice”. Dentro em pouco suas últimas palavras seriam para entregar ao Pai o seu espírito. Ele que fora identificado no Jordão e no Tabor como o Filho querido, no momento no qual pronuncia a palavra Pai, todos lá no Calvário, num relance, julgaram que à onipotência paterna seria impetrado o raio que punisse tanta maldade. No entanto, quando pulsava forte de espanto o coração dos inimigos, no instante em que soldados valentes se punham a tremer, ecoou na terra a famosa prece, nunca, em circunstâncias que tais, imaginável: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”!

A dor, o singulto haviam se estabelecido no Calvário. A iniqüidade dos homens, os pecados e crimes de uma humanidade desviada e divorciada de seus destinos eternos promoveram toda aquela pompa de indizíveis sofrimentos com todo aquele cortejo de humilhações, de padecimentos, injúrias e amarguras. Nesta conjuntura dolorosa, no meio das torturas da Cruz, numa mensagem de misericórdia e de bondade, Nosso Senhor, deu também um atestado definitivo e solene dessa precariedade, dessa incúria, dessa indigência, que, por ser de toda a humanidade, é de cada um de nós. É que, dando uma aplicação divinamente transcendental às suas penas e aos seus sofrimentos e colocando em equação a sua missão de Salvador, ao invés de castigar terrivelmente tanta perversidade, paternal e eufemicamente suplicou: “Pai perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”! Ora, quem assim procede sem saber o que faz atua por ignorância e, portanto, estaria isento de culpa.

No entanto, foi solenemente pedida para esta ignorância total o necessário perdão. É que existe uma ignorância falaz e culpável que, não tendo razão e justificativa, é sempre penhor e arras de execração e punição. É a ignorância dos que, por inércia ou indiferença, não procuram conhecer os ensinamentos de Deus e, por isto, só se compadecem com atos incoerentes e aberrantes. É a ignorância daqueles aos quais tendo chegado estes ensinamentos, não tiveram ouvidos para os escutar ou coragem e determinação para os praticar. É a ignorância dos que perceberam as excelências destes ensinamentos ou deles se beneficiaram, mas não tiveram gratidão para os reconhecer e nem lábios para os proclamar.

É a ignorância do ódio que semeia o crime, da maledicência que gera a cizânia, da inveja que arrasa reputações, da miséria dos vícios que obscurecem e aniquilam. É a ignorância enfim dos que têm todas as suas potências cozidas às convenções e conveniências humanas e aos equívocos bens materiais deste mundo, menosprezando ou desprezando os bens espirituais, incorruptíveis e eternos. De uma ignorância assim multifacetada, multiforme e iníqua só podia resultar a dor, o báratro que avassalaram o Calvário. Na sua bondade imensa, sem limites, incomensurável, divina Jesus tudo perdoou: “Pai, perdoais-lhes”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Local:Mariana (MG)

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