segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

ONDE MORAS?


O que procurais?
João 1,35-42:



No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «O que procurais?» Eles disseram-lhe: «Rabi – que quer dizer Mestre – onde moras?» Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com ele nesse dia. Eram quatro da tarde.


André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» – que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» – que significa Pedra. (João 1,35-42)
«O que procurais?» São estas as primeiras palavras de Jesus no Evangelho de S. João.

A questão é colocada aos primeiros discípulos, representantes dos primeiros cristãos e de todos os que querem seguir Cristo.

O texto começa por João Batista, que espera com impaciência a vinda de Cristo. A sua espera permite-lhe compreender os acontecimentos a um nível mais profundo.

João Batista não vê simplesmente Jesus passar; ele esforça-se por penetrar o mistério daquele que caminha à sua frente e quer que os discípulos façam o mesmo.

Ao chamar a Jesus «Cordeiro de Deus», considera-o como aquele que cumprirá as palavras e as promessas divinas. Sob os traços do servo sofredor de Isaías, que toma sobre si as aflições do povo de Deus e que, embora inocente, é imolado como um cordeiro (ver Isaías 52,13-53,12), e do cordeiro pascal que se torna símbolo da redenção de Israel (ver Êxodo 12,1-28), Jesus doa a sua vida; e este dom por amor libertará toda a humanidade. O espantoso é que, para salvar o mundo, Jesus tenha vindo como um cordeiro, uma criatura muito simples e humilde.

Jesus passa. Como em outras passagens do Novo Testamento, Jesus é visto como um peregrino. Ele não fica num só lugar; ele sabe que a sua vida tem uma direção, um sentido. Quem quer conhecê-lo, deve segui-lo.

A reação dos dois discípulos de João é imediata. Eles ouvem, vêem e seguem-no.

A fé transmite-se deste modo.

Escutamos a Boa Nova sobre Jesus, vemos a maneira como vive a comunidade cristã e decidimos segui-lo.

Ao contrário dos primeiros discípulos nos outros evangelhos, estes dois discípulos já estão à procura. Neste sentido, eles são como muita gente hoje em dia.

Jesus apercebe-se de que é seguido. É um momento crucial. Ele volta-se e pergunta: «O que procurais?» Questão fundamental e universal, válida p

ara um cristão como para qualquer ser humano.

Vivemos num mundo onde podemos escolher entre mil possibilidades. Sabemos verdadeiramente o que queremos?

Estamos conscientes do nosso desejo mais profundo e mais sincero?

A questão pode parecer simples, mas, se a levarmos a sério, a resposta pode transformar a nossa vida.

Para mais, Jesus faz esta pergunta a duas pessoas que já têm um «mestre», João Batista. Assim, a sua pergunta quer também dizer: porque deixastes o vosso primeiro mestre? Que vedes em mim?

Em que é que eu sou diferente?

Que posso eu oferecer?

Jesus leva a sério estes dois homens e permite que eles expressem os seus desejos.

Provavelmente, quando alguém nos leva a sério e nos escuta verdadeiramente, qualquer coisa dentro de nós pode ser transformada. Os discípulos respondem com uma pergunta: Mestre, onde moras?

Esta pergunta não se refere à habitação de Jesus; os discípulos não querem saber a morada dele!

A pergunta começa pela palavra «rabi (mestre)», o que indica que eles vêem Jesus como um guia; eles sabem que ele tem alguma coisa para lhes ensinar e estão dispostos a fazer o que for possível para o seguir.

Na linguagem bíblica, o verbo «seguir» significa muito mais do que andar atrás de alguém. Implica viver com essa pessoa e conhecê-la intimamente para se tornar como ela.

No vocabulário de João, a palavra «morar» tem um significado particular. Saber onde alguém mora é saber onde enraíza a sua existência.

Num dado momento, Jesus diz aos discípulos: «Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis (morareis) no meu amor, assim como eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço (moro) no seu amor.» (João 15,10).

Jesus mora no amor do Pai; a sua morada é o amor que o une a seu Pai. É o segredo da sua vida, a fonte da sua identidade.

Quando os discípulos perguntam «onde moras» querem entrar e participar nesta relação única entre Jesus e Deus.

Jesus responde aos discípulos: «Vinde e vereis». Se eles quiserem entrar neste espaço único onde mora Jesus, devem assumir um risco, o risco de confiar, o risco da fé.

Na linguagem de S. João, ir ou vir a Jesus é a mesma coisa que acreditar nele.

A fé é, antes de mais, uma resposta, uma ida na direção de alguém.

A fé põe-nos a caminho, permite-nos prosseguir.

O evangelista diz-nos que, nesse dia, os discípulos ficaram com Jesus.

Sobre o que conversaram? Não sabemos. O que sabemos é que este encontro com Jesus transformou completamente a sua existência.

Os que estão prontos a abrir a suas vidas podem encontrar alguém que modifica o curso da sua história.

Quando sentiste Deus «passar» à tua frente? O que descobriste sobre ele através dessa experiência?

Os discípulos ouviram alguma coisa sobre Jesus e começaram a segui-lo. Quando ouviste verdadeiramente alguma coisa sobre Jesus pela primeira vez? O que vês em Jesus que permita que tu o sigas?

Que resposta terias dado à pergunta «o que procuras?»

com minha benção
Pe.Emílio Carlos
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fonte: Taizé.

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