O mundo é tão bem feito que tudo vem evoluindo como por si mesmo.
Entre Ciência e Religião, entre fé e razão, onde está a Verdade? A evolução atual da ciência contradiz o ensinamento da Bíblia sobre a origem do mundo e do homem? Um leitor da “Superinteressante” faz a pergunta assim: “É coerente acreditar em Deus e também em Darwin?”
A revista responde: “Na comunidade científica, o consenso é de que a evolução é autossuficiente, exclui a figura de um criador.”
Tal resposta genérica é mentira. A mesma revista traz logo depois a resposta diferente de um professor formado em física experimental e doutor em teologia. Não sei quantos cientistas são ateus ou agnósticos, mas sei que muitos cientistas sérios têm fé. Muitos acreditam na mensagem da Bíblia sobre Deus, o Criador do mundo.
Entre os habitantes atuais do planeta terra, os adeptos do monoteísmo são maioria. Mais de um bilhão de católicos e um bilhão de outros cristãos, e mais de um bilhão de maometanos e muitos milhões de judeus, acreditam na existência de um só Deus, Criador do mundo de matéria e energia regido por leis criadas por ele para organizar a evolução desde o início até a situação atual e futura.
Podemos entender a inteligência como dom de Deus que nos criou com a capacidade de sondar os mistérios do mundo e com a missão de cuidar da morada que criou para nós. Quanto ao futuro, depende também de nós que temos o dom da liberdade que cientistas preconceituosos querem enquadrar nos seus conhecimentos limitados ao mundo material.
Muitos cristãos reconhecem a importância dos fundamentos racionais da sua fé e não se deixam abalar por questionamentos superficiais. Em vez de criar dificuldades com pormenores dos textos bíblicas sobre a criação do mundo e sobre a história do povo judeu, entendem que a mensagem da Bíblia pode servir de fundamento para os acréscimos da ciência. Salmos escritos faz trinta séculos nos falam da beleza de Deus no Céu. A obediência aos 10 mandamentos melhora o convívio dos homens na terra.
Quem não quer saber de Deus aceita qualquer teoria “científica” que pretende explicar o mundo sem Deus. Desde meu tempo de menino procurei seguir o conselho de Paulo: “Examinai tudo, guardai o que for bom!” Já sou velho e não achei qualquer teoria racional razoável contra a existência de Deus, o Criador não feito por outro.
Entre aqueles que admitem que não existe prova científica contra a existência de Deus, muitos acham ou dizem que também não se pode provar que Deus existe.
Agnósticos céticos acham que nada se pode saber sobre Deus. Dizem que ninguém pode conhecer a verdade, que ninguém pode ter certeza de nada. Para os mais radicais, não existe verdade. Para esses, tenho uma pergunta: É verdade que não existe verdade? Outros admitem que possa existir alguma verdade, na filosofia e na religião, mas dizem que ninguém pode conhecer a verdade. Para esses, tenho duas perguntas: É verdade que ninguém pode conhecer a verdade? Como sabem?
Acontece que o conhecimento humano ultrapassa a ciência sobre as leis da natureza material. Somos capazes de filosofia. Só que muitos “filósofos” de hoje ficam filosofando sobre tudo, mas fogem da essência da filosofia que é a metafísica, a reflexão que ultrapassa os limites da matéria.
Alguns pretendem explicar a origem de tudo com a teoria do Big Bang, dizendo que tudo começou com a Grande Explosão. Tal teoria contradiz as leis mais elementares da ciência moderna e da filosofia. A ciência moderna afirma que na natureza nada se cria e nada se destrói. A filosofia diz que do nada não surge nada. A teoria do Big Bang não explica origem de nada.
Qualquer criança curiosa pergunta: O que foi que explodiu? De onde veio o material (massa/energia?) que explodiu? Pergunta parecida faz aos que dizem que Deus é o criador de tudo: E quem foi que fez Deus?
Acontece que tal pergunta sobre Deus tem resposta racional: Deus é aquele que existe por si mesmo, o único ser que não foi feito por outro. Segundo um texto da Bíblia, escrito muitos séculos antes do nascimento de Jesus, foi assim que Deus se deu a conhecer a Moisés: Eu sou aquele que é. Esse é o sentido da palavra hebraica Jahvé, já por três milênios o nome de Deus para o povo judeu.
Séculos depois, filósofos gregos deram definições semelhantes: Deus é aquele que é. Aquele que existe por si mesmo, que não é feito por outro. O primeiro motor de tudo que se move, de toda mudança. Causa primeira de tudo que existe. A origem. Antes da filosofia grega já estava escrito na Bíblia: No início Deus criou o céu e a terra. As dificuldades entre cientistas e biblistas têm sua causa principal nos mal-entendidos de muitos cientistas e religiosos sobre a mensagem da Bíblia, e em conclusões precipitadas nada científicas de cientistas metidos a filósofos.
O que existiu primeiro, o sol ou o dia?
Quanto à Bíblia, a dificuldade maior está no fundamentalismo que pretende enquadrar no rigor da linguagem da ciência de hoje a descrição poética da criação do mundo nas páginas da Bíblia, escritas em linguagem acessível aos leitores de todos os tempos. Sua mensagem é feita para ser entendida no tempo que foi escrita e no nosso tempo cheio de ciência, e nos tempos de futuras evoluções do conhecimento.
Para fundamentalistas que apresentam a interpretação literal de qualquer texto bíblico como questão de fé, tenho uma pergunta: O sol foi mesmo criado no quarto dia? Como é que podiam existir dias quando não existia sol?
Quanto à criação dos seres vivos, a descrição bíblica não está distante da teoria da evolução. Apenas acrescenta que tudo que conhecemos tem origem divina e passa por mudanças de acordo com leis que regem a natureza, leis também criadas por Deus desde o começo: “Que a terra produza seres vivos, plantas e animais.”
Se a dificuldade maior se refere à criação dos seres humanos, é preciso reconhecer a diferença essencial entre eles e os outros seres que andam na terra, nadam no mar e voam no ar. A Bíblia explica: “E Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.” Tal semelhança não pode estar no corpo. Se estivesse no corpo, macacos também seriam semelhantes a Deus. Uns mais, outros menos.
Podemos combinar as teorias sobre a evolução do corpo humano, passando por antepassados semelhantes a macacos, com a mensagem da Bíblia que diz que Deus formou o homem do pó da terra. Pela ciência sabemos que o macaco também é feito do pó da terra. Dos mesmos elementos que formam o corpo humano.
O mundo é tão bem feito que tudo vem evoluindo como por si mesmo, sustentado por leis naturais criadas junto com este mundo de matéria e energia.
E a criação da mulher, apresentada como tirada da costela do homem? Quero apenas lembrar que a Bíblia traz duas descrições sobre a criação dos seres humanos. A segunda é bem diferente: “Deus disse: Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança ... Homem e mulher os criou.” Nada diz sobre costela de Adão. Pergunto aos fundamentalistas que dizem que devemos tomar tudo ao pé da letra: Qual das duas descrições é verdadeira? “Nenhuma,” dizem ateus e agnósticos.
Com boa vontade, dá para entender a mensagem da Bíblia sobre Deus e sobre nós. Dá para ver que Deus confiou a terra aos nossos cuidados. Cumprindo bem a nossa missão, podemos viver e conviver em paz. Se fizermos os estragos dos pecados no convívio da nossa morada, não adianta reclamar de Deus.
Podemos entender também que a semelhança com Deus não nos é dada como coisa pronta e acabada, mas como vocação a realizar. Somos colaboradores de Deus na sua obra. De maneira especial na sua obra prima que somos nós mesmos.
Somos chamados a colaborar com Deus em três dimensões: Organizando nossa própria vida, cuidando do mundo onde fomos colocados, e prestando serviços na comunidade, em qualquer lugar que nos foi dado para viver.
O mesmo número daquela revista tem um artigo de capa com a pretensão de apresentar uma “Biografia de Deus”. Tal artigo traz uma escolha arbitrária de idéias sobre seres mitológicos chamados de deuses, mitos surgidos em culturas anteriores ao conhecimento do único Deus verdadeiro. Tais religiões têm seus valores, mas não têm os fundamentos racionais que o monoteísmo tem.
Muitos judeus se deixavam contaminar por tais idéias, combatidas na Bíblia como idolatrias incompatíveis com a fé. O texto da revista desconsidera toda evolução da religião a partir de acontecimentos da história do povo judeu que grande parte da humanidade de hoje considera como intervenções de Deus na história dos homens. Cremos que Deus falou pelos profetas para quem o procura com sinceridade, e que veio estar conosco para que possamos estar com ele.
Por: Dom Cristiano Jakob Krapf
Fonte: CNBB
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