Deus chama e depois se põe a fazer extravagâncias.
Assegura a Abrão uma descendência e depois lhe pede que sacrifique o filho.
Deus chama e depois nos desconcerta com pedidos imprevisíveis, absurdos, como que para provar a nossa disponibilidade, para experimentar a consistência da nossa entrega.
Abrão crê nas “loucuras” de Deus. Convence-se, à luz da fé, que das entranhas estéreis um filho lhe há de nascer, E nasce Isaac.
Cristo, no Evangelho, aumenta a dose e nos garante que um grão de mostarda é capaz de deslocar uma montanha, ou que cinco pães são capazes de matar a fome de cinco mil pessoas.
Os discípulos acreditam e os pães se muItiplicam.
Enquanto não aceitarmos as loucuras de Deus, não seremos pessoas de fé.
A fé consiste em acreditar que a lógica absurda de Deus é uma lógica possível. Não pertenceremos a Deus enquanto não superarmos esta prova, enquanto não nos anularmos até o paradoxo.
Não encontraremos a Deus enquanto não nos perdermos com nosso dosadíssimo bom senso.
De Deus podemos esperar tudo, e os santos sabe disso. Mas não se assustam. Sabem que o que Deus lhe pedir será sempre para o seu bem.
Um pai pode ser extravagante, mas nunca há de prejudicar o próprio filho. “Deus é meu Pai e qualquer decisão que tomar a meu respeito será vantajosa para mim”
Com esse estratagema, os santos se entregam confiantes e dão passos de fé como gigantes e se precavém contra os “absurdos” de Deus.
Seu coração não se engana. Deus lhe pede sacrifício, vazio; mas para en¬chê-los de felicidade, de si mesmo.
Deus aponta perspectivas excitantes para Abrão: uma descendência numerosa como as estrelas, uma terra onde corre leite e mel. Como que para assegurar que quem confia n’Ele não se frustrará ou para fortalecê-lo nas provações da fé que ocorrerem durante a caminhada no deserto.
Deus é um excelente pedagogo. Sabe quanto podemos dar, por isso nos estimula a realizar as nossas potencialidades, deixando-nos a satisfação de pensar que alcançamos sozinhos.
E, quando correspondemos a seus “maus tratos , Ele nos recompensa com provações ainda mais árduas, mas ao mesmo tempo mais exaltantes.
É a metodologia do amor: uma pedrada e uma caricia.
Henriqueta experimenta escuridão, deserto, lutas, aridez, salas de espera. Mas também êxtases, paz, satisfação, e felicidades íntimas, que quase não pode suportar. “Sofri mais naqueles dois dias de júbilo extraordinário... que nos dias de obscuridade.
Por isso fui obrigada a exclamar: Basta, meu Deus, basta. E supliquei ao Senhor compartilhar dom tão extraordinário com outras pessoas dignas de tal favor”’ (V. H., p. 2W).
Deus contempla-a com esse júbilo, porque quer conduzi-la a calvários e a tabores ainda maiores.
Quando Deus encontra espaço, age. Que lindo encontrar um bom metal, bate forte. Quando encontra um coração bem disposto, aproveita.
Beata Henriqueta possui uma alma vigorosa. À proporção que se aprofunda em seu deserto, vai se dando conta de que Deus é exigente, exclusivo, despótico,
Por isso, Henriqueta não se entrega. Avança no espaço de Deus, caminhando ao seu lado, gritando-lhe um amor impetuoso. “Corta, destrói, queima, satisfaze-te e não me poupes em nada” (V. H., p. 276). “Bondade divina de meu Deus, diante de vós está a mais miserável e mesquinha das criaturas, sabedora das muitas maravilhas operadas pela vossa bondade; queria dar-me totalmente a vós.., queria destruir-me, aniquilar-me como penhor de vosso Amor” (V. H., p. 380).
Onde outros se retraem, ela insiste. Onde outros fogem, ela vai em frente. Correspondendo à iniciativa de um Deus terno e insaciável, doce e tirânico. Exatamente como pode e deve ser o Amor.
Com minha benção
Pe.Emílio Carlos+
( em Rendição Total um caminho para a santidade)
pemiliocarlos.blogspot.com
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