quarta-feira, 20 de março de 2024

5ª Semana da Quaresma - A virtude liberta.

 Evangelho (Jo 8,31-42) – Comunidade Luz

Vós me libertais, Senhor, da ira dos meus inimigos; vós me fazeis triunfar sobre os meus agressores e do homem violento me salvais (Sl 17,48s).

O seguimento do Evangelho não aceita meios-termos nem admite a obediência a princípios que escravizam as pessoas e as distanciam da liberdade de servir o verdadeiro Deus. Celebrando este forte momento da nossa fé, sejamos libertos pelo Senhor das idolatrias e mentalidades que impedem nosso caminho de conversão rumo à Páscoa da vida nova e do amor.

Primeira Leitura: Daniel 3,14-20.24.49.91-92.95

Leitura da profecia de Daniel – Naqueles dias, 14o rei Nabucodonosor tomou a palavra e disse: “É verdade, Sidrac, Misac e Abdênago, que não prestais culto a meus deuses e não adorais a estátua de ouro que mandei erguer? 15E agora, quando ouvirdes tocar trombeta, flauta, cítara, harpa, saltério e gaitas, e toda espécie de instrumentos, estais prontos a prostrar-vos e adorar a estátua que mandei fazer? Mas, se não fizerdes adoração, no mesmo instante sereis atirados na fornalha de fogo ardente; e qual é o deus que poderá libertar-vos de minhas mãos?” 16Sidrac, Misac e Abdênago responderam ao rei Nabucodonosor: “Não há necessidade de te respondermos sobre isso; 17se o nosso Deus, a quem rendemos culto, pode livrar-nos da fornalha de fogo ardente, ele também poderá libertar-nos de tuas mãos, ó rei. 18Mas, se ele não quiser libertar-nos, fica sabendo, ó rei, que nós não prestaremos culto a teus deuses, tampouco adoraremos a estátua de ouro que mandaste fazer”. 19A essas palavras, Nabucodonosor encheu-se de cólera contra Sidrac, Misac e Abdênago, a ponto de se alterar a expressão do rosto; deu ordem para acender a fornalha com sete vezes mais fogo que de costume 20e encarregou os soldados mais fortes do exército para amarrarem Sidrac, Misac e Abdênago e os lançarem na fornalha de fogo ardente. 24Os três jovens andavam de cá para lá no meio das chamas, entoando hinos a Deus e bendizendo ao Senhor. 49Mas o anjo do Senhor tinha descido simultaneamente na fornalha para junto de Azarias e seus companheiros. 91O rei Nabucodonosor, tomado de pasmo, levantou-se apressadamente e perguntou a seus ministros: “Porventura, não lançamos três homens bem amarrados no meio do fogo?” Responderam ao rei: “É verdade, ó rei”. 92Disse este: “Mas eu estou vendo quatro homens andando livremente no meio do fogo, sem sofrerem nenhum mal, e o aspecto do quarto homem é semelhante ao de um filho de Deus”. 95Exclamou Nabucodonosor: “Bendito seja o Deus de Sidrac, Misac e Abdênago, que enviou seu anjo e libertou seus servos, que puseram nele sua confiança e transgrediram o decreto do rei, preferindo entregar suas vidas a servir e adorar qualquer outro deus que não fosse o seu Deus”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: Dn 3

A vós louvor, honra e glória eternamente!

1. Sede bendito, Senhor Deus de nossos pais. / A vós louvor, honra e glória eternamente! / Sede bendito, nome santo e glorioso. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

2. No templo santo onde refulge a vossa glória. / A vós louvor, honra e glória eternamente! / E em vosso trono de poder vitorioso. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

3. Sede bendito, que sondais as profundezas. / A vós louvor, honra e glória eternamente! / E superior aos querubins vos assentais. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

4. Sede bendito no celeste firmamento. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

5. Obras todas do Senhor, glorificai-o. / A ele louvor, honra e glória eternamente! – R.

Evangelho: João 8,31-42

Honra, glória, poder e louvor / a Jesus, nosso Deus e Senhor!

Felizes os que observam / a Palavra do Senhor de reto coração / e que produzem muitos frutos, / até o fim perseverantes! (Lc 8,15) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, 31Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, 32e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. 33Responderam eles: “Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: ‘Vós vos tornareis livres’?” 34Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35O escravo não permanece para sempre numa família, mas o filho permanece nela para sempre. 36Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. 37Bem sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque a minha palavra não é acolhida por vós. 38Eu falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai”. 39Eles responderam então: “O nosso pai é Abraão”. Disse-lhes Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão! 40Mas agora vós procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isso, Abraão não o fez. 41Vós fazeis as obras do vosso pai”. Disseram-lhe, então: “Nós não nascemos do adultério, temos um só pai: Deus”. 42Respondeu-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso Pai, vós certamente me amaríeis, porque de Deus é que eu saí e vim. Não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
Nesta semana, estamos meditando sobre os mistérios da Paixão e já nos aproximamos da Semana Santa. Hoje, Jesus nos fala da liberdade que Ele quer conquistar para nós com sua morte na cruz. Sim, precisamos ser salvos e libertos da escravidão do pecado. Jesus o ensina com toda a clareza ao dizer: “Todo aquele que comete pecado é escravo do pecado”. E isso que Jesus diz aos fariseus, Ele o diz também a nós, para que possamos compreender que o pecado apenas promete liberdade. O que sempre se ouve por aí? “Ah! Eu sou livre, faço o que bem quiser”, e o sujeito, usando de sua suposta liberdade, envereda pelo mundo das drogas, e torna-se escravo das drogas; envereda pelo mundo do álcool, e torna-se escravo do álcool; envereada pelo mundo do sexo desregrado, e torna-se escravo do sexo desregrado… É tudo propaganda de Satanás, que promete liberdade, dizendo: “Tu és livre! Vai, quebra os laços, arrebenta as correntes com que Deus te está amarrando e impedindo de ser feliz! Deus oprime com os seus Mandamentos”. É só ilusão, mentira de Satanás. Nunca se ouviu dizer que uma pessoa que, por exemplo, amasse se tenha tornado escrava do amor. Não, quem ama é livre e pode a qualquer momento realizar um ato de egoísmo. Quando alguém pratica a virtude do amor, está livre; mas o contrário não é bem verdade, pois quem está viciado no egoísmo não consegue a qualquer momento realizar um ato de amor. Do mesmo modo, quem é casto pode a qualquer momento cair em pecado contra a castidade, mas quem vive no pecado contra a castidade não pode a qualquer momento viver a virtude da pureza. Somente a virtude liberta, o pecado escraviza. Ora, a técnica de Satanás para nos escravizar no pecado é a mentira. Se continuássemos a leitura o evangelho de S. João, no versículo 44 desse mesmo capítulo encontraríamos a seguinte ideia: Satanás é homicida desde o princípio, quer dizer, sua finalidade é matar-nos, levar-nos para a morte eterna. Satanás, que é homicida desde o princípio, é também o pai da mentira.
 
O que ele fez com Adão e Eva? Mentiu. Deus dissera a Adão e Eva no paraíso: “Podeis comer de todas as árvores que quiserdes”. Que liberdade, que maravilha! “Só que, por minha bondade”, Ele avisa, “sabei que esta árvore aqui é veneno: não comais dela”. Mas Satanás, homicida, queria que eles comessem da árvore que trazia morte. Ele mente, dizendo: “Não! Deus vos está enganando! Se comerdes desta árvore, sereis como deuses!” É a mentira que leva ao pecado, e o pecado à escravidão e à morte. É o método de Satanás. Jesus, ao contrário, quer-nos libertar, e a liberdade que Ele quer-nos dar nasce, em primeiro lugar, da verdade: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Ora, conhecer a verdade significa o seguinte. Você, que está lendo essa meditação aqui, essa homilia, o que você tem de fazer? “Ah! Vou fechar o livro e procurar outras coisas que ler ou ouvir na internet”. Não, não faça isso. Aquilo que nos alimenta ou nos chama a atenção, temos de levá-lo depois para a oração. É importante que, na oração, ao virmos a verdade de Cristo, a deixemos brilhar dentro de nós. Temos de meditar sobre ela, “ruminar” a verdade. Trata-se de ir cavoucando, até que, um belo dia, as coisas floresçam; trata-se de ir ruminando, até que, um belo dia, estejamos nutridos da verdade. Em outras palavras, é importante dar tempo a Deus para que Ele ilumine nossa inteligência. Quando Deus a ilumina, Ele convida a vontade, e a vontade fica livre para amar. Eis o caminho da nossa salvação: precisamos conhecer a verdade — Deus ilumina a inteligência e convida a vontade! É o que Deus faz na vida de oração e é o que Jesus veio fazer conosco. Ele veio trazer-nos a verdade para que, conhecendo-a, saíssemos do reino da mentira que leva à escravidão do pecado, pois a verdade que ilumina, dá força e fortalece a vontade. Mas devemos lembrar o seguinte: a vontade (que é a faculdade que ama, também chamada “coração”) é uma potência cega, ou seja, ninguém pode amar sem antes conhecer. É necessário, pois, que as coisas passem primeiro pela inteligência, brilhe nela a verdade, para então brotar na vontade o ato de amor. É o caminho de Jesus, é o caminho da salvação. À medida que nos aproximamos da Semana Santa, meditemos mais sobre o amor com que Jesus nos amou na cruz. Assim, essa verdade irá brilhar e, brilhando, nos fará livres — livres para amar.


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