Bendize, ó minha alma, ao Senhor, não te esqueças de nenhum de seus favores! Pois ele te perdoa toda culpa (Sl 102,2s).
Diante da imensidão do amor do
Senhor, coloquemo-nos, de coração contrito e humilde, na sua presença.
Somos convidados a reconhecer nossas faltas contra Deus e contra o
próximo e fazer o firme propósito de progredir sempre mais numa vida de
oração coerente com os ensinamentos de Jesus.
Primeira Leitura: Oseias 6,1-6
Leitura da profecia de Oseias – 1“Vinde, voltemos para o Senhor, ele nos feriu e há de tratar-nos, ele nos machucou e há de curar-nos. 2Em dois dias nos dará vida e, ao terceiro dia, há de restaurar-nos, e viveremos em sua presença. 3É
preciso saber segui-lo para reconhecer o Senhor. Certa como a aurora é a
sua vinda, ele virá até nós como as primeiras chuvas, como as chuvas
tardias que regam o solo.” 4Como vou tratar-te, Efraim? Como vou tratar-te, Judá? O vosso amor é como nuvem pela manhã, como orvalho que cedo se desfaz. 5Eu os desbastei por meio dos profetas, arrasei-os com as palavras de minha boca, mas, como luz, expandem-se meus juízos; 6quero amor e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais do que holocaustos. – Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial: 50(51)
Eu quis misericórdia e não o sacrifício!
1. Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! / Na imensidão de vosso amor, purificai-me! / Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai completamente a minha culpa! – R.
2. Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, / e, se oferto um holocausto, o rejeitais. / Meu sacrifício é minha alma penitente, / não desprezeis um coração arrependido! – R.
3. Sede benigno com Sião, por vossa graça, / reconstruí Jerusalém e os seus muros! / E aceitareis o verdadeiro sacrifício, / os holocaustos e oblações em vosso altar! – R.
Evangelho: Lucas 18,9-14
Honra, glória, poder e louvor / a Jesus, nosso Deus e Senhor!
Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: / Não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8) – R.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo
segundo Lucas – Naquele tempo, 9Jesus contou esta parábola para alguns
que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10″Dois
homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de
impostos. 11O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu
te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos,
adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por
semana e dou o dízimo de toda a minha renda’. 13O cobrador de impostos,
porém, ficou a distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o
céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou
pecador!’ 14Eu vos digo, este último voltou para casa justificado, o
outro não. Pois quem se eleva será humilhado e quem se humilha será
elevado”. – Palavra da salvação.
Reflexão
O Evangelho de hoje nos traz uma belíssima parábola, presente no
evangelho de S. Lucas, em que Jesus nos fala do publicano e do fariseu.
Estamos diante de um homem que, aos olhos do povo e da sociedade, é
justo: o fariseu se apresenta no Templo com toda a sua justiça,
cumpridor minucioso das Leis de Deus. Aliás, não só aos olhos da
sociedade ele é justo; ao que parece, também aos seus próprios olhos ele
se julga muito bom, porque diz: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou
como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros”. Sim, ele mostra
seguir os Mandamentos — não roubar, não cometer adultério etc. —, então,
até aqui, parece estar tudo muito bem. Há mais, porém: ele cumpre ainda
os Mandamentos religiosos e os preceitos rituais. Ele jejua duas vezes
por semana, paga o dízimo… Mas tudo aparência! Por quê? Porque, por
dentro, quem fala ali é um coração soberbo, que chega a olhar para o
publicano de cima para baixo, esquecido de que também ele, o fariseu,
tanto quanto o outro, vive da misericórdia de Deus. O publicano, por seu
lado, parece ter consciência plena de viver dela. Ele bate no peito,
dizendo: “Meu Deus, tem pena de mim, que sou pecador”. A conclusão de
Jesus é clara: “Um voltou para casa justificado”, o publicano, “e o
outro não, porque quem se eleva será humilhado e quem se humilha será
elevado”. Entendamos melhor. Com o pecado de Adão e Eva, todos nós somos
réus de morte, merecedores da condenação. Uma vez adultos ou
conscientes, isto é, a partir do momento em que distinguimos o certo do
errado, se agimos deliberadamente contra um preceito divino e pecamos,
tornamo-nos réus de morte eterna, sim, merecedores do inferno. Mas, por
misericórdia, Deus nos dá o perdão e a fé, dizendo: “Obedece aos meus
Mandamentos”. Deus nos oferece a salvação, foi para isso que Cristo
desceu do céu, para morrer na cruz por nós e nos abrir as portas da
bem-aventurança. E todos os que lá entrarem entrarão por misericórdia.
Mas às vezes nos esquecemos disso. Não fosse a misericórdia divina,
estaríamos perdidos. Esquecidos disso, começamos a nos comportar como o
fariseu, que já não se lembra que também ele foi objeto de piedade. Por
isso pensa que Deus não faz nada mais do que sua obrigação: “Vede,
Senhor, como não sou como os outros homens”, como se dissesse: “Que Deus
me dê o céu, isso é de justiça, e que dê o inferno ao publicano, isso
também é de justiça!” Loucura e insensatez! Quando nos ofendem ou vemos a
falta de outra pessoa, qual deve ser a nossa atitude? Olhar para o
pecador e dizer: “Meu Deus, como fostes misericordioso comigo! Se
tivesses dado a ele a graça que destes a mim, ele certamente não teria
caído. Ó meu Jesus, dai-lhe a graça para que se converta”. Se não
estamos em estado de pecado, devemo-lo tão-somente à graça e à
misericórdia divinas. Esquecer isso e achar-se, por si só, merecedor do
céu é cair numa liberdade luciferina, porta de entrada para a perdição!
Quem acha que, por seus próprios méritos e esforços, sem a ajuda da graça,
pode merecer o céu, esse já o perdeu, esse é o que volta para casa não
justificado. A palavra “não justificado” parece simples, mas é terrível.
O que Jesus está dizendo é que o fariseu voltou para casa merecendo o inferno, ao passo que o publicano, humilde, contando com a misericórdia de Deus, voltou para casa digno do céu.
Entendamos, em resumo, o Evangelho de hoje. Deus quer, sim, que
cumpramos a sua Lei. Os Mandamentos são para todos. Não devemos roubar
nem cometer adultério, e temos de jejuar em dia de jejum, pagar o dízimo
quando for obrigação: fazer, numa palavra, o que mandam os preceitos
divinos. Mas que isso não nos faça esquecer que fomos, antes e sempre,
objetos de misericórdia. Se hoje estamos em graça, cumprido como é
devido os Mandamentos, é pela infinita bondade do Senhor, cujas
misericórdias devemos cantar para sempre. O crime do fariseu foi
esquecer a misericórdia e achar, por loucura de seu coração, que nunca
precisou dela, que Deus tem uma “dívida” para com ele e que sozinho, por
sua “própria” justiça, é merecedor do céu. Loucura e insensatez! Todos vivemos de misericórdia.
https://padrepauloricardo.org
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