segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Liturgia Diária - "Dai-lhe vós mesmos de comer"

 Jogral para 02-08-2020 - A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES

Leitura (Números 11,4-15)

Leitura do livro dos Números.

Naqueles dias, 114a população que estava no meio de Israel foi atacada por um desejo desordenado; e mesmo os israelitas recomeçaram a gemer: "Quem nos dará carne para comer?", diziam eles. 5"Lembramo-nos dos peixes que comíamos de graça no Egito, os pepinos, os melões, os alhos bravos, as cebolas e os alhos. 6Agora nossa alma está seca. Não há mais nada, e só vemos maná diante de nossos olhos." 7O maná assemelhava-se ao grão de coentro e parecia-se com o bdélio. 8O povo dispersava-se para colhê-lo; moía-o com a mó ou esmagava-o num pilão, cozia-o numa panela e fazia bolos com ele, os quais tinham o sabor de um bolo amassado com óleo. 9Enquanto de noite caía o orvalho no campo, caía também com ele o maná. 10Ouviu Moisés o povo que chorava, agrupado por famílias, cada uma à entrada de sua tenda. A cólera do Senhor acendeu-se com violência. Moisés entristeceu-se. 11E disse ao Senhor: "Por que afligis vosso servo? Por que não acho eu favor a vossos olhos, vós que me impusestes a carga de todo esse povo?"

Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial 80/81
Exultai no Senhor, nossa força.
 
Mas me povo não ouviu a minha voz,
Israel não quis saber de obedecer-me.
Deixei, então, que eles seguissem seus caprichos,
abandonei-os ao seu duro coração.
 
Quem me dera que meu povo me escutasse!
Que Israel andasse sempre em seus caminhos!
Seus inimigos, sem demora, humilharia
e voltaria minha mão contra o opressor.
 
Os que odeiam o Senhor o adulariam,
seria este seu destino para sempre;
eu lhe daria de comer a flor do trigo
e, com o mel que sai da rocha, o fartaria.
 
Evangelho (Mateus 14,13-21)

Aleluia, aleluia, aleluia.
O homem não vive somente de pão, mas de toda palavra da boca de Deus (Mt 4,4).
 

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.

14 13Ao saber da morte de João Batista, Jesus partiu dali numa barca para se retirar a um lugar deserto, mas o povo soube e a multidão das cidades o seguiu a pé. 14Quando desembarcou, vendo Jesus essa numerosa multidão, moveu-se de compaixão para ela e curou seus doentes. 15Caía a tarde. Agrupados em volta dele, os discípulos disseram-lhe: "Este lugar é deserto e a hora é avançada. Despede esta gente para que vá comprar víveres na aldeia". 16Jesus, porém, respondeu: "Não é necessário: dai-lhe vós mesmos de comer". 17"Mas", disseram eles, "nós não temos aqui mais que cinco pães e dois peixes". 18"Trazei-mos", disse-lhes ele. 19Mandou, então, a multidão assentar-se na relva, tomou os cinco pães e os dois peixes e, elevando os olhos ao céu, abençoou-os. Partindo em seguida os pães, deu-os aos seus discípulos, que os distribuíram ao povo. 20Todos comeram e ficaram fartos, e, dos pedaços que sobraram, recolheram doze cestos cheios. 21Ora, os convivas foram aproximadamente cinco mil homens, sem contar as mulheres e crianças.

Palavra da Salvação.

Reflexão

O trecho do Evangelho de hoje vem logo após a história da morte de João Batista, ligada à festa de aniversário do Tetrarca Herodes Antipas. Ou seja, Mateus contrasta o “Banquete da Morte” promovido por Herodes, com “O Banquete da Vida”, protagonizado por Jesus!

Na realidade, os Evangelhos transmitem-nos muitas vezes os sentimentos de Jesus para com as pessoas, especialmente doentes e pecadores. Ele exprime, através dum sentimento profundamente humano, a intenção salvífica de Deus que deseja que todo o homem alcance a verdadeira vida. Cada celebração eucarística atualiza sacramentalmente a doação que Jesus fez da sua própria vida na cruz por nós e pelo mundo inteiro. Ao mesmo tempo, na Eucaristia, Jesus faz de nós testemunhas da compaixão de Deus por cada irmão e irmã; nasce assim, à volta do mistério eucarístico, o serviço da caridade para com o próximo, que “consiste precisamente no fato de eu amar, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou que nem conheço sequer.

Isto só é possível realizar-se a partir do encontro íntimo com Deus, um encontro que se tornou comunhão de vontade, chegando mesmo a tocar o sentimento. Então aprendo a ver aquela pessoa já não somente com os meus olhos e sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo”. Desta forma, nas pessoas que contacto, reconheço irmãs e irmãos, pelos quais o Senhor deu a sua vida amando-os “até ao fim” (Jo 13, 1).

Por conseguinte, as nossas comunidades, quando celebram a Eucaristia, devem consciencializar-se cada vez mais de que o sacrifício de Jesus é por todos; e, assim, a Eucaristia impele todo o que acredita n’Ele a fazer-se “pão repartido” para os outros e, consequentemente, a empenhar-se por um mundo mais justo e fraterno. Como sucedeu na multiplicação dos pães e dos peixes, temos de reconhecer que Cristo continua, ainda hoje, exortando os seus discípulos a empenharem-se pessoalmente: “Dai-lhes vós de comer” (Mt 14, 16). Na verdade, a vocação de cada um de nós consiste em ser, unido a Jesus, pão repartido para a vida do mundo.

Neste Evangelho Jesus nos dá uma grande lição de solidariedade humana, quando rejeitou a idéia dos Seus discípulos para que “despedisse as multidões”. Quantas vezes nós queremos nos ver livres dos problemas e também “despedimos” as pessoas porque elas são empecilhos à nossa missão, à nossa caminhada. As pessoas vêm famintas, precisando da nossa ajuda e nós fazemos vista grossa às suas dificuldades, achando que não somos capazes de ajudá-las porque temos muito pouco tempo ou mesmo porque nos achamos pequenos e limitados. Jesus diz hoje à nós também: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer! ” O Senhor nos manda sentar para que possamos parar e refletir sobre a nossa vida, partilhando e dividindo com as outras pessoas os nossos planos e sonhos. Tudo isso, dentro da perspectiva de Deus e à luz da Sua Palavra e dos Seus ensinamentos. Hoje também, como ontem, há muita relva, isto é, espaço, ocasião, oportunidade para que, reunidos, nós possamos descobrir os nossos dons, talentos, aptidões, riquezas e bens espirituais, que são os nossos cinco pães e dois peixes. Ao tomar os pães e os peixes nas mãos e dar graças ao Pai, Jesus nos deu o exemplo de como poderemos fazer aumentar os nossos talentos. Trazemos primeiramente, a vida para agradecer a Deus e a Ele oferecer em favor do irmão. Além disso, temos a doar saúde, paz, alegria, juventude e a nossa capacidade de olhar, de sorrir, de cantar, de amar, de sonhar e de desejar.

Mateus nos lembra que a participação eucarística exige compromisso com uma visão social baseada na partilha dos bens necessários para a vida, e não na acumulação da parte de alguns junto com a falta do básico para muitos. É claro que diante do enorme sofrimento da maioria da população do mundo, a gente pode sentir-se tão impotente como se sentiram os discípulos no Evangelho de hoje. Mas o texto nos ensina que não devemos cair na cilada de aceitar as saídas falsas propostas pela sociedade vigente e hegemônica – de “lavar as mãos” ou de cair somente num simples assistencialismo. O cristão, sustentado pela eucaristia, a Mesa da Palavra e a Mesa do Pão, deve se comprometer com uma visão cristã da sociedade, que exige que a gente faça o que é possível para a construção de um mundo de justiça e fraternidade.

Há dois mil anos, Jesus olhou a multidão, teve compaixão dela e agiu. Com certeza ele olha hoje a situação de tantos irmãos e irmãs e pede que os seus seguidores façam algo para mudar a situação. Paira sobre nós cristãos do fim do milênio o desafio do texto de hoje: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” O que significa isso na prática para mim, para você, na nossa situação concreta de vida? Meu irmão, minha irmã, o cristão não pode compactuar-se com uma sociedade organizada conforme os princípios de Herodes, mas deve lutar para a construção de uma sociedade em favor da vida, seguindo as pegadas do Jesus de Nazaré. Jesus imperando nos está ordenando: Dai-lhe vós de comer! É você, sou eu, que temos de dar de comer às cinco mil pessoas que vivem a nossa volta. Você tem sentado com as pessoas para partilhar a sua vida? Você tem colocado nas mãos do Senhor os seus talentos e os seus dons? Saiba. O que tens é pouco. Mas colocado nas mãos de Jesus chega para matar a fome e a sede de milhares de milhares de pessoas.

 

Pe Bantu 

CN 

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