terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A IMITAÇÃO DE CRISTO - I


Segue-me", nu, segue o nu, despojado, segue o despojado.

1. Naquele tempo: Disse Jesus a Pedro: "Segue-me" (Jo 21, 19) etc.
Neste evangelho, duas coisas serão explicadas: a imitação de Cristo, e o amor deste para com o seu fiel.

I. DA IMITAÇÃO DE CRISTO

Imitação de Cristo, como está escrito: "Segue-me". Isso disse a Pedro; isso diz também a todo cristão: "Segue-me", nu, segue o nu, despojado, segue o despojado.
Por isso diz Jeremias III: "Chamar-me-ás Pai, e não cessarás de seguir após mim" (Jer 3, 19).

"Segue-me", portanto, larga a bagagem, porque, carregado, não consegues seguir a mim, que vou correndo. "Corri para a sede" (Ps 61, 5), isto é, para a salvação do homem, diz ele.

Para onde correu? Para a cruz. Corre também tu após ele, e como ele carregou a sua cruz por ti, toma também tu a tua por ti mesmo. Por isso Lucas IX: "Se alguém quiser seguir-me, abnegue-se a si mesmo", na renúncia à própria vontade, "e tome a sua cruz", na mortificação da carne, "todo dia", isto é, continuamente, "e assim me siga" (Lc 9, 32).

"Segue-me", portanto, "assim". E, se quiser vir a mim e encontrar-me, "segue", que em latim, "sequere", vem de "seorsum quaere", isto é, busca separadamente.

Por isso falou aos discípulos em Marcos VI: "Vinte à parte, a este lugar deserto, e descansai um pouco. Porque havia muitos que iam e vinham, e não tinham nem tempo para comer" (Mc 6, 31).

Ai! Quantos afetos e barulhos de pensamentos carnais vão e vem pelo nosso coração, de modo que nem temos tempo para comer o alimento da doçura eterna, e de sentir o sabor da contemplação interior.

E, assim, diz o piedoso mestre: "Vinde à parte" da turba tumultuosa, "para este lugar deserto", isto é, para a solidão da mente e do corpo, "e descansai um pouco". Deveras "um pouco" porque, como diz o Apocalipse VIII: "Fez-se silêncio no céu, por cerca de meia hora" (Apoc 8, 1). "Quem me dará penas como a pomba" (Ps 54, 7) etc.

Por isso Oseias II diz: "Eis que eu o aleitarei, e conduzi-lo-ei para a solidão, e falarei ao seu coração" (Os 2, 14).

Note-se que, nessas três palavras, apontam-se os três estados: incipientes, proficientes e perfeitos.

O incipiente aleita-se, quando a graça o ilumina, para que cresça e aproveite de virtude em virtude; e então se o conduz, do barulho dos vícios, do tumulto dos pensamentos, para a solidão, isto é, para a quietude da alma; e aí, já perfeito, fala-se-lhe ao coração; isso se dá quando sente a doçura da inspiração divina, e suspende-se totalmente na alegria da alma. Ó quão grande é, então, a devoção, admiração e exultação no seu coração! A grandeza da devoção o eleva sobre si mesmo, a grandeza da admiração o conduz para cima de si mesmo, a grandeza da exultação o torna alheio a si mesmo. "Segue-me", pois.
Fala como uma mãe piedosa, que, quando ensina a criança a andar, mostra-lhe um pão ou uma maçã, dizendo: Vinde atrás de mim, e dar-te-ei isso. E, quando ela se aproxima, e quase o toma, a mãe afasta-se um pouco, e mostra a coisa, dizendo: Segue-me, se queres recebê-la. Algumas aves também tiram os seus filhotes dos ninhos, e ensinam-lhes o seu voo, e a seguir-lhes (cf. Deut 32, 11).

Assim Cristo, para que o sigamos, mostra-se como exemplo, e promete um prêmio no reino.


"Segue-me", pois, porque eu conheço um bom caminho, pelo qual te conduzirei.

Desse se fala nos Provérbios IV: "Mostrar-te-ei o caminho da sabedoria; conduzir-te-ei pelas veredas da equidade: quando entrares por elas, os teus passos não se estreitarão, e, correndo, não acharás tropeço" (Prov 4, 11-12).

O caminho da sabedoria é o caminho da humildade; todo o mais é caminho da estupidez, posto que de soberba. Isso explicou-nos dizendo: "Aprendei de mim" (Mt 11, 29) etc. A vereda tem a largura de dois pés, de modo que não se pode passá-la a dois; é chamada, em latim, "semita", que vem de "semi iter", ou seja, meio caminho. As veredas da equidade são a pobreza e a obediência, pelas quais Cristo conduz o pobre e obediente com o seu exemplo. Nelas não há tortuosidade, mas tudo é equidade e retidão.

Mas, vede que coisa admirável: sendo elas estreitas, diz-se que os passos, nelas, não se estreitam. A estrada do mundo é larga e espaçosa, cuja largura os mundanos, como bêbados, conseguem medir, porque para o bêbado toda largura é estreita. Porque a malícia tem angústia, ao passo que a pobreza e a obediência, naquilo mesmo que tiram, aí dão liberdade, porque a pobreza torna o homem rico, e a obediência, livre.

Quem corre atrás de Jesus por essas veredas não tem o tropeço das riquezas ou da própria vontade.

"Segue-me", pois, e mostrar-te-ei "o que olho nenhum viu, nem ouvido ouviu, nem ninguém imaginou no seu coração" (1Cor 2, 9). "Segue-me, e dar-te-ei", como diz Isaías XLV, "os tesouros escondidos, e os mistérios dos segredos" (Is 45, 3); e no mesmo livro, LX: "Então verás e afluirás, e o teu coração admirar-se-á e dilatar-se-á" (Is 60, 5).

Verás Deus face-a-face como ele é (cf. 1Cor 13, 12; 1Jo 3, 2); afluirás às delícias e riquezas da dupla estola da alma e do corpo; o teu coração admirará as ordens angélicas, as mansões dos bem-aventurados, e assim se dilatará de alegria, em voz de exultação e confissão. "Segue-me", pois.

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SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA

Traduzido por

http://www.santantonio.org/portale/sermones/indice.asp?ln=LT&s=0&c=0&p=0


com minha benção
Pe.Emílio Carlos+
pemiliocarlos.blogspot.com

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