sábado, 6 de novembro de 2010

LITURGIA DIÁRIA - AS BEM AVENTURANÇAS


Primeira Leitura: Apocalipse 7, 2-4; 2, 9-14

Leitura do livro do Apocalipse - Eu João, 2Vi ainda outro anjo subir do oriente; trazia o selo de Deus vivo, e pôs-se a clamar com voz retumbante aos quatro Anjos, aos quais fora dado danificar a terra e o mar, dizendo: 3Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que tenhamos assinalado os servos de nosso Deus em suas frontes. 4Ouvi então o número dos assinalados: cento e quarenta e quatro mil assinalados, de toda tribo dos filhos de Israel; 9Eu conheço a tua angústia e a tua pobreza - ainda que sejas rico - e também as difamações daqueles que se dizem judeus e não o são; são apenas uma sinagoga de Satanás. 10Nada temas ante o que hás de sofrer. Por estes dias o demônio vai lançar alguns de vós na prisão, para pôr-vos à prova. Tereis tribulações durante dez dias. Sê fiel até a morte e te darei a coroa da vida. 11Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor não sofrerá dano algum da segunda morte. 12Ao anjo da igreja de Pérgamo, escreve: Eis o que diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes. 13Sei onde habitas: aí se acha o trono de Satanás. Mas tu te apegas firmemente ao meu nome e não renegaste a minha fé, mesmo naqueles dias em que minha fiel testemunha Antipas foi morto entre vós, onde Satanás habita. 14Todavia, tenho alguma coisa contra ti: é que tens aí sequazes da doutrina de Balaão, o qual ensinou Balac a fazer tropeçar os filhos de Israel, para levá-los a comer carne imolada aos ídolos e praticar imundícies. - Palavra do Senhor.

Segunda Leitura: 1º João 3, 1-3

Leitura da primeira carta de São João - Caríssimos, 1Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato. Por isso, o mundo não nos conhece, porque não o conheceu. 2Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é. 3E todo aquele que nele tem esta esperança torna-se puro, como ele é puro. - Palavra do Senhor.

Evangelho: Mateus 5, 1-12

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Naquele tempo, 1Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele. 2Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo: 3Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus! 4Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! 5Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! 8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! 9Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! 10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! 11Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. 12Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós. - Palavra da salvação.


Hoje celebramos a solenidade de todos os santos e a liturgia da Palavra enriquece e dá cor à esta festa, pois traz a essência da santidade: santidade é ter Deus como nossa única riqueza, primeira bem-aventurança. Aliás, sem esta - por isso é apresentada como sendo a primeira - tanto para Mateus quanto para Lucas, sem ser pobre - primeira bem-aventurança, jamais viveremos as demais, pois todas dependem da primeira. Os santos são bem -aventurados porque assumiram a principal bem-aventurança: a pobreza evangélica: ter Deus como sua única riqueza. As demais foram e são consequência desta.
Diante da bem-aventurança da pobreza, a sociedade consumista proclama a sua própria bem-aventurança: Bem-aventurados os que têm e podem gastar, porque são felizes. É a mensagem incluída em toda a publicidade, verdadeiro “cavaleiro do apocalipse”, que tudo arrasa semeando escravidão e insatisfação. Na base de se criarem necessidades fictícias, o homem atual está acorrentado a uma corrida sem fim, condenado a não descansar em nenhuma meta. Como não se fica nas necessidades reais, todo o salário lhe é insuficiente, todo trabalho é pouco, qualquer nova aquisição é incapaz de lhe dar a felicidade sonhada. Confunde o ter com o ser; confunde o acumular de bens com o ser pessoa e ser feliz; o ter meios de vida com o ter razões para viver.
Quando a nossa atitude pessoal diante do dinheiro e dos bens nos desvia dos “meios” de subsistência dignos e humanos: alimentação, vestuário, casa, família, estudo, educação, cultura, para os converter em “fim” obsessivo da nossa vida, começamos a soldar os elos da cadeia que nos amarra à tirania de um novo ídolo: o consumismo.
Não é verdade que conhecemos pouca gente feliz? Parece mentira que o homem atual, sabendo tanto e tendo tantas coisas, não tenha aprendido a ser feliz.
Mais do que coisas, necessitamos de razões para viver e partilhar, pois a felicidade não pode estar fora de nós, nas coisas, mas há de brotar de dentro. A felicidade é um estado de alma e uma possessão do espírito, os quais se baseiam na realização do indivíduo como pessoa.
Há gente muito feliz com muito poucas coisas. São os que assimilaram a bem-aventurança da pobreza afetiva e efetiva e sabem ser solidários com os outros no partilhar. São os que se dão conta de que a sociedade do bem-estar, da abundância e do desenvolvimento econômico ilimitado dá, efetivamente, meios de vida ao homem, coisas e mais coisas; mas não lhe dá razões para viver, nem lhe pode dar a sabedoria da vida que nos faz descobrir os motivos para trabalhar e lutar, sofrer e gozar, esperar e amar, inclusive a fundo, o perdido.
Jesus proclamou bem-aventurados e felizes os pobres de bens e despojados de si mesmos, que são solidários e partilham com os irmãos o que têm, pouco ou muito, porque assim estão em condições de ser cumulados por Deus e enriquecidos com os dons do Seu Reino. Ao dizer-nos hoje: “Não amontoeis tesouros perecíveis”, convida-nos para viver em liberdade com o coração posto no tesouro secreto da verdadeira felicidade: amar a Deus sobre todas as coisas e os nossos irmãos como a nós mesmos.


Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova

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