sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A ÁRVORE DO FUTURO.


Todas as situações de medo e sofrimento geram desistências, covardias, mas também atos de coragem e heroísmo antes impensáveis.

Os beduínos contam que em algum lugar do deserto existe uma árvore totalmente diferente das outras. O tronco é muito fino e liso como o vidro. No cume da árvore tem só uma única folha vermelha. Geralmente ela está envolvida por uma névoa dourada e, por isso, é muito difícil enxergá-la. Quem consegue tocá-la vai poder conhecer o seu destino. Vai ver, de maneira clara, a si mesmo, as situações pelas quais passará, os lugares de toda a sua existência. No entanto a pessoa vai também tornar-se infeliz. De repente a vida perde, para ela, a atração do desconhecido, o fascínio do mistério. Começa a julgar inútil qualquer ação, qualquer sacrifício e, muitas vezes, cai no desespero. Por causa disso, os sábios beduínos, quando enxergam de longe uma nuvem dourada, para não cair na tentação, mudam o rumo do seu caminho.

As culturas de todos os povos estão cheias de lendas, fruto do imaginário, mas também de uma experiência da vida milenar. Vale a pena refletir. Mais ainda porque no evangelho deste domingo parece que Jesus fale das coisas futuras, e os apóstolos querem saber quando acontecerá tudo aquilo que o Senhor está dizendo e quais os sinais que acompanharão aqueles acontecimentos.Sabemos que muitos dos fatos, dos quais os evangelhos falam, já tinham acontecido, quando eles foram escritos, como, por exemplo, a destruição do maravilhoso Templo de Jerusalém, levada ao fim pelos romanos no ano 70, e as perseguições dos primeiros cristãos. Nesse sentido, parece evidente que os evangelhos não estejam levantando questões a respeito somente daqueles eventos – a essa altura do passado - mas, em geral, sobre toda a história humana. Claramente, porém, a partir daquela experiência de destruição, perseguição, julgamento e morte que estavam vivenciando. Todas as situações de medo e sofrimento geram desistências, covardias, mas também atos de coragem e heroísmo antes impensáveis. Parece mesmo que perseguição e martírio nunca deixaram de acompanhar a vida dos cristãos e, no que entendemos, a história da humanidade inteira.Podemos dizer que Jesus, nas palavras dos evangelistas, não quis satisfazer a curiosidade dos apóstolos – e talvez também a nossa – sobre datas ou detalhes de acontecimentos de um futuro próximo ou remoto. Jesus, simplesmente, explicou o que os cristãos deviam fazer nessas horas e sempre ao longo do desenrolar da história humana.Primeiro: toda perseguição e provação é ocasião para testemunhar a própria fé. Quando todos aplaudem e o sucesso parece ao alcance da nossa mão é fácil fazer discursos e se achar importantes. Difícil é saber manter a clareza das idéias, e sobretudo da fé, nas horas das críticas e das acusações. Hoje podemos falar também da indiferença ou da zombaria a respeito de quem manifesta, corajosamente, a própria fé. Tudo isso acontece disfarçado de respeito e de tolerância, no entanto, em geral, os pensamentos e as atitudes são contrários à fé cristã e às normas morais ensinadas pela Igreja. Assim, quem procura viver mais coerentemente a plenitude da própria fé é olhado com comiseração, como um pobre coitado fora do tempo e do espaço.Segundo: Jesus garante dar aos seus amigos as palavras certas na hora da própria defesa nos julgamentos. Não preparar a própria defesa é, portanto, sinal de confiança no Senhor que irá ajudar.
De fato, como prever as perguntas dos inimigos e às suas artimanhas para nos confundir? Podemos também lembrar que as respostas às perguntas antigas podem não satisfazer perguntas novas, portanto: novas perguntas pedem novas respostas! Novos desafios e a novas situações exigem novas soluções! É a novidade Evangelho abrindo sempre novos caminhos.Enfim, as últimas palavras de Jesus: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”. Os nossos dias vão passando. Muitas coisas e pessoas mudam ao nosso redor. O que ficará mesmo? Tem algo, ou melhor, Alguém que não muda, porque é o Senhor do tempo e da história. Nós passamos. Ele permanece, e é nele que devemos acreditar. É junto com Ele que devemos trilhar o caminho da vida. O que sabemos é suficiente para acertar o rumo da nossa existência. É também para isso que serve a fé.Conhecer o futuro, portanto, se é que é possível, não é tão importante. É justamente porque não sabemos tudo o que irá acontecer que podemos arriscar, cair e levantar, responsáveis e conscientes do que fazemos. O que vale é buscar honestamente as decisões melhores e assumir as conseqüências. Somente assim a vida é uma aventura que vale a pena ser vivida. Com Jesus mais ainda.


Por Dom Pedro José Conti
Fonte: CNBB

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