Segundo o filósofo Francesc Torralba Roselló
Você
já se perguntou como anda a sua inteligência espiritual? Neste
bate-papo com a Aleteia, o filósofo Francesc Torralba fala sobre o que é
a inteligência espiritual. O especialista, consultor do Pontifício
Conselho para a Cultura, resumiu o tema no livro “Inteligencia
Espiritual”.
- Vale a pena viver?
Seja qual for a definição concreta de vida, “viver faz sentido”? O
que eu posso esperar da vida? Estas perguntas deixam claro o caráter
misterioso das criaturas.
O ser humano sempre está em busca de algo. Em virtude de sua inteligência espiritual, ele é capaz de se perguntar sobre o sentido da existência, tem o poder de se perguntar por que vai realmente preencher de valores sua passagem neste mundo.
O ser humano sempre está em busca de algo. Em virtude de sua inteligência espiritual, ele é capaz de se perguntar sobre o sentido da existência, tem o poder de se perguntar por que vai realmente preencher de valores sua passagem neste mundo.
Em graus diferentes, podemos distinguir nos mamíferos superiores
formas de inteligência linguística, emocional e interpessoal. Mas a
inteligência espiritual é uma modalidade específica do ser humano.
- Perguntas e respostas
Que tipo de interrogações são produtos da inteligência espiritual?
Para que estou no mundo? Que sentido tem minha existência? O que posso
esperar depois da morte? Que sentido tem o mundo? Por que sofrer? Para
que lutar? O que merece ser vivido?
Não temos respostas evidentes a tais perguntas. Mas a busca dessas
respostas constitui um estímulo para o desenvolvimento filosófico,
científico e tecnológico da humanidade.
A inteligência espiritual não se satisfaz com o “como” nem com o “porque”. Ela precisa conhecer o para que.
- A capacidade de distanciamento
A inteligência espiritual oferece o poder de tomarmos distância da
realidade circundante. Mas também de nos distanciarmos de nós mesmos.
Não se deve entender esse distanciar no sentido físico. A
inteligência espiritual permite que nós nos separemos do mundo, do nosso
próprio corpo. Mas tal operação é unicamente mental. Consiste, pois, em
se separar sem deixar de ser, sem abandonar o mundo.
A distância é, em paradoxo, o único modo de compreender realmente
algo. Para poder valorizar a textura e a qualidade de um vínculo, de uma
relação e de uma amizade, é essencial tomar distância e, depois,
contidas as paixões e emoções, julgar com imparcialidade.
- A autotranscendência
Transcender consiste em ir além, em não se contentar com o que é, com
o que se tem, com o que se sabe. Transcendência expressa carência, mas
também esperança.
Além do significado religioso da palavra transcendência, a capacidade
de transcender não é algo que acontece somente com pessoas religiosas,
mas com qualquer ser humano, pois a as pessoas querem superar seus
limites.
- A admiração
Uma coisa é existir; outra, muito diferente, é dar-se conta de que
alguém ou alguma coisa existe. A planta existe, ocupa um lugar no espaço
e dispõe de tempo de vida. Mas ela não sabe que existe. Não experimenta
a surpresa de existir nem a vertigem da passagem do tempo.
A admiração requer a distância física. Para se admirar uma pintura,
uma paisagem, o céu estrelado ou um corpo belo, deve-se tomar distância
física, afastar-se.
Quando alguém tem a certeza de que existe, podendo não ter existido,
experimenta uma surpresa. E esta surpresa o leva a amar a vida e a gozar
intensamente dela; a transformar o fato de estar no mundo em um
projeto.
- O autoconhecimento
A inteligência espiritual nos proporciona o conhecimento de nós mesmos.
Os grandes mestres da história da humanidade, de Sócrates a Confúcio,
mostraram que o grande objetivo da educação é o conhecimento de si
próprio.
Quando uma pessoa cultiva a inteligência espiritual, obtém a
capacidade de distinguir o personagem do ser, a representação da
essência. Então, pode-se chegar a desprender-se do que alguns autores
chamam de “ego” e abrir-se à dimensão transcendente do chamado “self”.
- La capacidade de dar valor
A tarefa de valorizar algo ou alguém é exclusivamente humana e
transforma o ser humano em um sujeito ético. A experiência ética
encontra seu fundamento na inteligência espiritual. Somos seres capazes
de ter experiência ética, porque temos capacidade nos distanciar e
julgar.
Só o ser humano é capaz de construir sua própria pirâmide de valores e viver conforme ela.
- O gozo estético
Um ser espiritualmente sensível deleita-se com a beleza natural, com
as manifestações artísticas e com a simplicidade das pequenas coisas.
A experiência estética é uma vivência específica do ser humano, uma
peculiaridade de seu ser no mundo, que não se detecta em nenhum outro
ser.
O animal procura a presa e, quando ela está a seu alcance, ataca. O
ser humano é capaz de se distanciar dos impulsos primários, de contê-los
e canalizá-los oportunamente. Ao ser humano basta viver, desejando o
bem, a bondade, a unidade, a beleza e, antes de tudo, viver uma vida com
sentido.
- O sentido do mistério
O mistério circunda o ser humano, é insondável, vai além do
desconhecido ou do que se mal conhece. Em um sentido estrito, significa o
que está oculto, o que não se percebe com os sentidos nem se esclarece
com o razão.
O ser humano, ao longo da história, sente-se constantemente convidado a desvendar o mistério do mundo de das pessoas.
A inteligência espiritual nos dá a capacidade de fazer perguntas. Uma
pessoa profunda aprende a conviver com as perguntas finais.
- A busca de uma sabedoria
Os conhecimentos científicos não satisfazem o ser humano. Toda pessoa deseja uma orientação que lhe permita viver feliz.
A inteligência espiritual proporciona o trabalho de síntese, o olhar
em conjunto. O fato de não existirem respostas conclusivas no plano
científico não significa que não existam respostas inteligentes com
plenitude de sentido.
Miriam Diez Bosch
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