Há teólogos e exorcistas que divergem sobre o tema
Almas
errantes que vagam sobre a terra: será que elas existem? O pe. Marcello
Stazione e a co-autora Enrica Perucchietti abordam o tema no livro “Anime Vaganti” (“Almas Errantes”, ainda não publicado em português). Mas que almas seriam essas?
A perspectiva dos que acreditam na existência das “almas errantes”
Teólogos e exorcistas católicos que acreditam na existência das assim
chamadas “almas errantes” as vinculam a pessoas que morreram sem terem
rejeitado a Deus consciente e voluntariamente a ponto de selarem a
própria condenação eterna, mas que também não praticaram o bem em grau
suficiente a ponto de merecerem imediatamente o paraíso com Deus.
Esta situação, em seu ponto de partida, é a mesma que embasa a
doutrina sobre o purgatório: a necessidade de uma etapa de purificação
para que as almas que ainda não estão “prontas” possam chegar à
felicidade eterna de viver na presença de Deus.
No entanto, a hipótese das “almas errantes” ou “penadas” não explica
por que elas estariam vagando a esmo pela terra em vez de completarem
essa purificação no purgatório.
O exorcista espanhol pe. José Antonio Fortea, baseando-se na própria
experiência, defende a possibilidade da existência de “almas errantes”
como sendo almas do purgatório que, em alguns casos misteriosos
permitidos por Deus, se manifestam a pessoas vivas.
Em sua obra “Summa daemoniaca”, o pe. Fortea argumenta que,
ao lado de fenômenos como a possessão e a infestação, haveria um
terceiro caso: o das “presenças”. A possessão ocorreria quando o diabo
“possui” uma pessoa; a infestação, quando o diabo “possui” um local; já a
“presença” não seria manifestação do diabo, mas sim de almas em
processo de purgação. Segundo o sacerdote, essas manifestações são muito
diferentes daquelas do diabo por uma série de características, como o
fato de não mostrarem o grau de agressividade e ira dos anjos caídos,
mas sim uma espécie de tristeza e melancolia.
A perspectiva dos que negam a existência das “almas errantes”
Já os teólogos e exorcistas que negam a existência de tais “almas
penadas” apontam a doutrina da Igreja sobre o juízo particular, exposta
no número 1021 do Catecismo da Igreja Católica. O texto, baseado nos
Evangelhos, afirma que a morte põe fim à vida humana como o tempo aberto
ao acolhimento ou à rejeição da graça divina manifestada em Cristo.
O Novo Testamento fala do juízo principalmente como o encontro final
com Cristo na Sua segunda vinda, mas também afirma, em várias ocasiões, o
imediato julgamento individual após a morte, quando cada um receberá o
destino que tiver merecido com base nas suas obras e na sua fé: a
entrada na glória do céu (paraíso), a purificação (purgatório) ou a
condenação eterna (inferno). Não parece haver espaço, portanto, para a
situação incerta das supostas “almas errantes” sobre a terra.
Desta perspectiva, as supostas manifestações atribuídas a “presenças”
de “almas errantes” seriam na verdade fenômenos naturais ou psíquicos
que ainda não são plenamente explicáveis pela ciência, mas que podem
chegar a ser desvendados à medida que os conhecimentos humanos
progridem; ou, em casos de fato sobrenaturais, modalidades de ação
diabólica visando enganar e manipular sob as aparências de uma suposta
manifestação de almas do purgatório.
Gelsomino Del Guercio
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