O Concílio de Trento ensina que podemos receber o Santíssimo Sacramento de três modos.
A
respeito da comunhão espiritual, apresentamos o seguinte texto de São
Leonardo de Porto Maurício (1676-1751), em “As Excelências da Santa
Missa”.
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Quanto à maneira de fazer a comunhão espiritual de que falei antes, é preciso conhecer a doutrina do santo Concílio de Trento, o qual ensina que se pode receber o Santíssimo Sacramento de três modos:
- Sacramentalmente;
- Espiritualmente;
- Sacramentalmente e espiritualmente ao mesmo tempo.
Não se fala aqui do primeiro modo, que se verifica também nos que
comungam em estado de pecado mortal, como fez Judas; nem do terceiro,
comum a todos os que comungam em estado de graça; mas trata-se aqui do
segundo, adequado àqueles que, tomando as palavras do santo Concílio,
impossibilitados de receber sacramentalmente o Corpo de Nosso Senhor, “o
recebem em espírito, fazendo atos de fé viva e ardente caridade, e com
um grande desejo de se unirem ao soberano Bem, e, por meio disto, se
põem em estado de obter os frutos do Divino Sacramento” – “Qui voto propositum illum caslestem panem edentes fide viva quae per dilectionem operatur, fructum ejus et utilitatem sentium” (Sess. XIII, c.8.).
Para facilitar-vos tão excelente prática, pesai bem o que vou
dizer-vos. No momento em que o sacerdote se dispõe a comungar, na Santa
Missa, recolhei-vos no vosso íntimo, tomando a mais modesta posição;
formulai em seguida, em vosso coração, um ato de sincera contrição e,
batendo humildemente no peito, em sinal de que vos reconheceis indignos
de tão grande graça, fazei todos os atos de amor, oferecimento,
humildade e os demais que costumais fazer quando comungais
sacramentalmente: desejai, então, vivamente receber o adorável Jesus,
oculto por vosso amor, no Santíssimo Sacramento.
Para excitar em vós o fervor, imaginai que a Santíssima Virgem ou um
de vossos santos padroeiros vos dá a santa comunhão: suponde recebê-la
realmente e, estreitando Jesus em vosso coração, repeti-Lhe muitas e
muitas vezes com ardente amor: “Vinde, Jesus adorável, vinde ao meu pobre coração; vinde saciar meu desejo; vinde meu adorado Jesus, vinde ó dulcíssimo Jesus!”
E depois ficai em silêncio, contemplando vosso Deus dentro de vós, e,
como se tivésseis todos os atos que habitualmente fazeis depois da
comunhão sacramental.
Ora, sabei que esta santa e bendita comunhão espiritual, tão pouco
praticada pelos cristãos de nossos dias, é um tesouro que cumula a alma
de bens incalculáveis; e, no sentir de muitos autores, é de tal modo
eficaz que pode produzir as mesmas graças que a comunhão sacramental.
Com efeito, se vê que a comunhão sacramental, na qual se recebe a santa
Hóstia, seja por sua natureza de maior proveito, porque como sacramento
age “ex operare operato”, é possível, no entanto, que uma alma
faça a comunhão espiritual com tanta humildade, amor e fervor, que
obtenha mais graças que não obteria outra, comungando sacramentalmente,
mas com disposição menos perfeita.
Nosso Senhor, outrossim, ama tanto este modo de fazer a comunhão
espiritual, que muitas vezes se dignou atender com milagres visíveis os
piedosos desejos de seus servos, dando-lhes a comunhão ou por sua
própria Mão, como fez à bem-aventurada Clara de Montefalco, a Santa
Catarina de Sena, e a Santa Lidvina; ou pela mão dos santos anjos, como
aconteceu a São Boaventura e aos santos bispos Honorato e Firmino; ou
ainda, mais frequentemente, por meio da augusta Mãe de Deus, que se
dignou dar a comunhão ao bem aventurado Silvestre.
Não vos admireis desta condescendência tão terna, pois a comunhão
espiritual abrasa a alma no Amor a Deus, une-a Ele, e dispõe-na a
receber as graças mais insignes.
Se refletísseis, portanto, nestas coisas, seria possível
permanecerdes frios e insensíveis? Que desculpa poderíeis invocar para
isentar-vos de tão devota prática? Tomai a resolução de vos habituardes a
ela; e notai que a comunhão espiritual tem sobre a sacramental esta
vantagem, que esta só se pode fazer uma vez ao dia, enquanto aquela
podeis fazê-la em todas as Missas que quiserdes, e ainda, de manhã, à
tarde, o dia todo ou de noite, em casa como na igreja, sem necessitar
permissão de vosso confessor.
Em resumo, quantas vezes fizerdes a comunhão espiritual, outras
tantas vos enriquecereis de graças, de méritos e de toda sorte de bens.
Ora, o fim deste pequeno livro é despertar no coração de todos os que
o lerem um santo ardor para que se introduza entre os fiéis o costume
de assistir todo dia piedosamente à Santa Missa e de fazer ai a comunhão
espiritual. Oh, que felicidade, se fosse obtido este resultado! Teria,
então, a esperança de ver refletir em toda a Terra este santo fervor que
se admirava na Idade de ouro da primitiva Igreja. Nesse tempo os fiéis
assistiam diariamente ao Santo Sacrifício, e diariamente recebiam a
comunhão sacramental. Se dignos não sois de imitá-los, ao menos assisti a
todas as Santas Missas que puderdes e comungai espiritualmente. Se eu
tivesse a dita de persuadir-vos, creria ter ganho o mundo inteiro, e
daria por bem recompensados os meus débeis esforços.
Enfim, para desfazer todos os pretextos que se apresentam
ordinariamente, a fim de não assistir à Santa Missa, darei nos capítulos
seguintes diversos exemplos que interessam a toda sorte de pessoas. Por
aí cada um compreenderá que, se se priva de tão grande bem, é por sua
culpa, por sua preguiça e seu pouco zelo pelas coisas santas, e que
assim se prepara amargo arrependimento na hora da morte.
Aleteia Brasil
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