“Meus
irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações”
(Tiago 1,2).
Meus
amados como nos é difícil compreender que as provações fazem parte do plano de
Deus para promover a nossa maturidade cristã.
As
fontes que promovem as provações são muitas e variadas. As provações podem vir
diretamente de Deus, a exemplo do que ocorreu com Abraão em Gênesis 22; de
Satanás, no caso de Jó (Jó 1,6-12); do nosso semelhante, como no episódio em
que os irmãos de José lhe intentaram o mal (Gn 37,14-28; 50.20); e das mais
diversas circunstâncias desencadeadas nos planos religiosos, políticos, sociais
e econômicos, dentre tantos outros. Não obstante, uma coisa é absolutamente
certa, Deus está monitorando cada uma delas visando nossa edificação.
Até
o presente momento, ainda não me chegou nenhum irmão pulando de contentamento e
em brados de alegria, confessando: “Padre, estou muito feliz porque a minha
vida está cheia de provações!”
Imagine alguém chegando a você e dizendo: “À
medida que os meus problemas aumentam, a minha alegria transborda.” Talvez
ficássemos assustados; acharíamos estranho, por uma razão muito simples: não
estamos observando nem obedecendo o imperativo do “tende por motivo de toda
alegria o passardes por várias provações” (Tg 1,2). Pulamos, sim, de
contentamento quando recebemos as “bênçãos”. Entenda-se por “bênçãos” tudo
aquilo que sacia o nosso desejo de ter e possuir, além do que proporciona
bem-estar. As bênçãos de Deus na nossa vida incluem tanto aquelas que produzem
prazer, como aquelas que causam dor.
Quando Paulo recebeu o “espinho na carne”,
este causava-lhe dor e sofrimento, mas era bênção de Deus na vida do apóstolo.
Sem a bênção do espinho ele poderia se ensoberbecer e, consequentemente,
envergonhar o evangelho. Quando a fonte da nossa alegria consiste nas bênçãos
que Deus oferece e não no Deus que oferece as bênçãos, a nossa alegria está
fadada à instabilidade; a nossa fé, à fraqueza; e o nosso relacionamento com
Deus à confusão. Infelizmente, em nossos dias, muitas pessoas vão aos templos
com um único objetivo: receber bênçãos de Deus.
Desejam
a cura de uma enfermidade, um emprego, a restauração da empresa que está às
portas da falência, um livramento, enfim, a solução de problemas que atingem a
todos os mortais. Não constitui pecado buscar as bênçãos de Deus. Jesus mesmo
nos incitou a pedir. Porém erramos o alvo quando fazemos da dádiva divina o
nosso deus. Erramos, também, quando a busca da bênção é o fator que motiva
nossa ida aos cultos , as missas.
Deus deve ser a razão do nosso culto, da
nossa vida, a finalidade exclusiva do nosso serviço, o motivo supremo da nossa
alegria.
“Homem
de dores e que sabe o que é padecer”, assim era Jesus de Nazaré. Sofreu
rejeição. Padeceu por fazer a vontade de Deus. Foi perseguido e desprezado. Mas
não perdeu a doçura em meio às lutas. As provações não deixaram Jesus
amargurado. Continuava sereno. Mesmo tendo uma “agenda apertada”, atraía as
crianças e lhes dispensava atenção.
Apesar das dificuldades, contemplava e ensinou
os Seus discípulos a contemplar os lírios do campo e as aves do céu.
Instruiu-os a cultivar a arte da contemplação. Ensinou-lhes a vencer as
inquietações do cotidiano tirando lições da natureza. Jesus tinha motivos para
a amargura, para o ódio. Foi traído pelo preço de um escravo, trocado por um
homicida e crucificado como um malfeitor. Senhor das Suas emoções e fiel
guerreiro contra o ódio e a amargura, Jesus optou pelo amor.
Mesmo crucificado,
sofrendo as mais terríveis dores, não Lhe faltou ternura para transmitir graça
e perdão àqueles que só lhe causaram males. Seguimos os passos do nosso Mestre
quando temos alegria, serenidade e ternura nas provações.
Fé
aprovada é aquela que produz perseverança. A fé genuína, resultado direto dos
testes de que Deus faz uso para promovê-la, induz o fiel a continuar caminhando
mesmo quando as circunstâncias não lhe são favoráveis. Ela induz o fiel a
continuar crendo em Deus e em Sua Palavra mesmo quando a dor não passa, quando
a doença prevalece sobre a saúde, quando o emprego não vem; embora haja perdas
e danos, sua fé permanece inabalável.
Evidentemente
o poder transformador não está na dureza das tribulações, mas no Espírito Santo
que age. Este, sabiamente, faz uso das circunstâncias e dos acontecimentos para
nos instruir e nos moldar.
Pe.Emílio
Carlos+ Sacerdote Diocese de São Carlos
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