sábado, 3 de março de 2012

QUARESMA, TEMPO DE CONVERTIMENTO.

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A conversão, ou mudança de vida, se liga o tema da misericórdia de Deus pelo ser humano sujeito a imperfeições e até capaz de cometer faltas. Sejam elas, porém, quais forem como é bom e é consolador contar a certeza da ternura de Deus, Pai sempre pronto a vir ao encontro da fragilidade humana! A prova evidente e palpável dessas atenções divinas para salvar o homem foi a redenção operada por Cristo que veio para oferecer a vida divina a todos que buscam o reino dos céus. Ele instituiu sacramentos que purificam e santificam as almas, concedendo-lhes o perdão dos pecados e que sustentam o cristão na luta árdua e contínua contra o mal. A vida humana é um caminhar para a eternidade, e neste peregrinar está Cristo, o qual, sem forçar a liberdade de cada um, sem contrariar o seu proceder, mostra aos de boa vontade os riscos que convém evitar, os perigos dos quais se deve fugir, como indica ainda onde está a segurança, a paz e a felicidade.

O grande mal dos homens é de viverem como se tudo acabasse com a morte, como se todo destino humano se passasse entre o berço e a sepultura, entre o nascimento e o falecimento, como se tudo acabasse nesta terra em que se vive. Sendo este mundo o reino do pecado, as paixões prendem o homem, assenhoream-se dele, e não lhe permitem pensar em seus destinos imortais. Então tudo o que exige o esforço, a privação e o sacrifício, causa horror ao ser humano e muitos, de fato, se entregam às comodidades da existência e se esquecem dos bens eternos. A quaresma então leva o cristão a considerar a sua vida, o que tem feito realmente para se salvar a exemplo de tantos santos que tudo sacrificaram para não colocarem em cheque uma ventura sem fim na Casa do Pai. Entretanto, a voz da consciência é sempre um aviso de Deus chamando à santidade, à fuga do mal.

Quaresma é o tempo de preparação para a Páscoa, precedida da comemoração da Paixão e Morte de Cristo. Diante do Crucificado se percebe melhor o significado da salvação da alma. Um Deus pregado na cruz, a cabeça coroada de espinhos, o rosto desfigurado, os lábios lívidos, o peito lanceado, o corpo coberto de chagas, as mãos e os pés traspassados mostram claramente o valor imenso de um sangue divino que foi derramado para reabrir as portas do céu . É ele o valor da nossa salvação eterna. Por tudo isto, a Quaresma é o período propício para a metanoia, ou seja, a unificação da inteligência e do coração pela qual se volta sinceramente para Deus, para as coisas do alto, para a luz divina, rejeitando as obras das trevas, do diabo e do pecado. É este desejo de aprimoramento espiritual contínuo que conduz à prática da perfeição humanamente possível e que deve acompanhar a vida cristão desde o batismo até o último suspiro. Sem tal propósito há o perigo de se cair nas trevas do pecado. Trata-se da real conversão do espírito no mais profundo sentido espiritual. Neste processo cumpre não confundir arrependimento e culpabilidade.

Se o arrependimento verdadeiro é o retorno da alma para Deus, estando o fiel confiante que o Deus misericordioso perdoa as faltas, a culpabilidade é um enclausuramento do espírito sobre si mesmo, sobre suas falhas e pode levar à baixa-estima, à dúvida com relação à comiseração divina e, até, ao desespero. A auto-incriminação é uma falsa humildade, uma vez que a verdadeira humildade reconhece o erro, mas confia no perdão do Ser Supremo. Deste modo, se verifica a distinção também entre responsabilidade pela qual cada um assume sua falha e a culpabilidade é um estado morboso. Uma é salutar, a outra diabólica.

O “homem novo” de que fala São Paulo se purifica no sangue de Cristo pelo Espírito Santo e marcha resoluto para frente, tirando lições das próprias fraquezas. O verdadeiro discípulo de Jesus sabe que até o término da caminha neste mundo há obstáculos, dificuldades a serem vencidas, mas repete sempre a Deus “Tua graça me basta, é ela que eu imploro” e com este auxílio sobrenatural se torna um vencedor e se aprimora dia a dia. Durante a quaresma a Igreja através da Liturgia oferece aos fiéis inúmeras oportunidades para que se possa viver a Paixão de Cristo e ressuscitar com Ele na manhã de Páscoa inteiramente renovados. Pesar, sim, pelos pecados leves ou graves, mas também uma iluminadora alegria pela consciência do perdão de Deus. Isto anima o cristão em vista de sua conversão quaresmal. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

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