Foi apresentado na Espanha no último dia 6 o livro “Tirem-me daqui”, dramático relato do cativeiro da cristã paquistanesa Asia Bibi, condenada à morte por uma blasfêmia que ela não pronunciou.
No lançamento, a jornalista francesa Anne Isabele Tollet, co-autora junto com a própria Bibi, anunciou que a França dará asilo político tanto a Asia como a toda a sua família, caso ela seja libertada do presídio onde espera pela execução.
Anne Isabele Tollet chamou a atenção para o fato de que essa eventual saída do país teria que ser imediata: da prisão direto para o aeroporto e dali para a França. Motivo: a vida de Asia Bibi corre menos perigo dentro da cadeia do que fora dela, onde muitos fanáticos estão dispostos a executá-la, como já executaram um governador e um ministro que se pronunciaram em sua defesa.
Na apresentação do livro, publicado pela editora Libroslibres em colaboração com a fundação Ajuda à Igreja que Sofre, a jornalista explicou como foi o processo que tornou a obra possível. Ela acompanhava Ashiq, o marido de Asia, em sua visita semanal ao presídio. Ashiq repetia para Asia as perguntas da escritora e lhe trazia as respostas. Tollet anotava imediatamente o relato, já que nem Ashiq nem Asia poderiam fazê-lo. Eles não sabem escrever.
O relato da vida de Asia Bibi é o de uma mulher do campo, simples, analfabeta, que nunca teria imaginado o pesadelo que está enfrentando.
Acusada injustamente de blasfêmia contra o profeta Maomé por algumas mulheres muçulmanas, ela foi condenada à morte e se consome à espera da execução, por enforcamento.
A jornalista usa as palavras de Asia Bibi para relatar os fatos que a levaram à condenação e descreve o ódio que ela suscita em fanáticos islâmicos, que, mediante uma sentença claramente política, a transformaram na bandeira da lei anti-blasfêmia. O livro também conta como ela passa os dias na cadeia esperando um possível indulto presidencial que nunca chega.
Muitas personalidades se pronunciaram em favor de Asia, incluindo a secretária de estado norte-americana Hillary Clinton e o papa Bento XVI. Além disso, duas pessoas já pagaram com a vida por terem-na defendido: o governador Salman Taseer e o ministro para as minorias Shabaz Batti, assassinados por fanáticos.
O livro relata a grande surpresa de Asia quando soube que o papa tinha falado em sua defesa. Disseram-lhe: “O papa Bento XVI falou de você na praça de São Pedro, em Roma”.
Bento XVI afirmou: “Penso em Asia Bibi e na sua família e peço que a sua liberdade seja devolvida o quanto antes”. O papa pediu ainda pelo conjunto dos cristãos do Paquistão, frequentemente vítimas da violência e da discriminação.
“De volta à minha cela, não consigo voltar a mim. O papa em pessoa pensa em mim e reza por mim! Eu me pergunto se mereço tanta honra e atenção. Por que eu? Não passo de uma pobre agricultora, e no mundo existem outras pessoas que sofrem como eu e que precisam mais ainda. Pela primeira vez, durmo na minha cela com o coração sossegado”, relata a autora.
Mas Bibi teve na prisão outras notícias, nada agradáveis. Um dia, o carcereiro muçulmano lhe disse: “O seu anjo da guarda acaba de ser assassinado por culpa sua. O seu amado governador Salman Taseer, esse traidor dos muçulmanos, já foi banhado em sangue. Levou vinte e cinco tiros em Islamabad porque defendeu você”.
“Meu coração treme e se encolhe, e os meus olhos se enchem de lágrimas. Imploro a Deus. Por quê?”, reage Asia Bibi.
A prisioneira se questiona ainda sobre a impossível situação dos cristãos no Paquistão: “O que eles podem e devem responder se um muçulmano lhes pergunta se eles acreditam em Alá e em Maomé, seu profeta? Eu fui educada na fé de Cristo, da Virgem Maria e da Santíssima Trindade. Eu respeito o islã e a fé dos muçulmanos, mas o que posso responder diante dessa pergunta? Se eu digo que não acredito em Alá, mas em Deus e em Cristo, sou considerada blasfema. Se digo que acredito, sou considerada traidora, como São Pedro, que negou Jesus três vezes. Coisas como estas eu nunca me perguntei antes…”.
“Eu lamento tanto ter sido transformada no emblema da lei da blasfêmia! As manifestações são contra mim, mas o que eles querem, na verdade, é manter esta lei que se tornou intocável, parece, desde a morte do governador”.
Outra notícia terrível ainda encheria Asia Bibi de amargura: “Shahbaz Bhatti foi morto. Foi assassinado há três dias”. “Nesse momento”, relata Asia, “eu sinto um aperto muito forte no coração. Fico petrificada, as pernas me abandonam, me escondo no travesseiro, a respiração me treme. Vejo as paredes da minha prisão racharem e se derrubarem sobre mim.Tenho a impressão de viver um pesadelo acordada, há tempo demais, e o último resquício de esperança que fazia o meu coração bater acaba de se apagar com a morte de Shahbaz Bhatti. O ministro sabia que estava sendo ameaçado, os jornais diziam que ele se arriscava a morrer, como o governador (…) Estou fulminada, destruída pela injustiça da morte do ministro (…) Ele morreu mártir”.
A coragem e a resistência desta aparentemente frágil mulher é assombrosa. Ela poderia ter evitado tudo isto se, quando pressionada, tivesse se convertido ao islã para evitar a condenação.
“Enquanto eu tiver reflexo para respirar, vou continuar lutando para que Salman Taseer e Shahbaz Bhatti não tenham dado a vida à toa. Quero que o governo saiba que, mesmo se me trancar numa tumba, eu continuarei fazendo a minha voz ser ouvida enquanto o meu coração bater”.
No final do seu relato dilacerante, Asia Bibi faz um apelo aos leitores: “Vocês leram a minha história (…) Agora que vocês me conhecem, contem o que me aconteceu para todos à sua volta. Divulguem. Acredito que é a única oportunidade que eu tenho de não morrer no fundo desta masmorra. Preciso de vocês! Salvem-me!”.
carmadelio
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