Tudo o que se pode pensar, ver, falar e tocar com as mãos nada é diante do que não se pode pensar, ver, falar e tocar com as mãos.
Todos os sábios e santos do passado, do presente e do futuro que falaram ou falarão de Deus não disseram, nem jamais dirão, o que Deus realmente é nem tanto quanto a ponta de uma agulha é em relação à terra e ao céu e a todas as criaturas que neles existem, e mil vezes menos. De fato, toda a Sagrada Escritura nos fala como que balbuciando. Como a mãe faz com seu filhinho, que de outra forma não entenderia as palavras.
Uma vez, Frei Egidio disse a um juíz secular; 'Crês que sejam grandes os dons de Deus?' 'Creio que sim', respondeu o juiz. E Frei Egidio: 'Pois vou mostrar-te que não crês". E acrescentou: 'Quanto valem todos os teus bens?' Ele respondeu: 'Talvez mil moedas de ouro'. Frei Egidio disse: 'Trocá-las-ias por cem mil?' E o outro: 'Com muito prazer'. Então disse Frei Egidio: 'A verdade é que as coisas deste mundo nada são diante das coisas do céu. Por que, então, não trocas as coisas do mundo pelas do céu?' O juíz replicou: 'Pensas que um homem realmente ponha em prática aquilo que crê?' E frei Egidio concluiu: 'Os santos e as santas procuraram praticar as coisas em que acreditavam e que podiam realizar. As que não puderam praticar de fato, praticaram-nas pelo desejo. E assim o santo desejo cumpriu o que faltou à ação. Se alguém tiver uma fé integra, chegaria ao ponto de ter certeza absoluta. Portanto,se realmente crês, deves agir bem'.
Ao homem que tem certeza de receber um grande e eterno bem, que dano pode causar um breve mal? E de que serve um breve bem a quem espera um grande e interminável mal? Que bem poderão dar os anjos e os santos do céu a quem perde o maior de todos os bens? Como e quem poderá consolá-lo? Ninguém, senão a presença divina.
Todavia,enquanto viver, o pecador jamais deve perder a esperança na misericórdia de Deus. Pois simplesmente não existe tronco tão áspero e nodoso que os homens não consigam aplainar, polir e embelezar. Muito menos existe no mundo um pecador tão grande que Deus não possa enriquecer com as mais variadas graças e virtudes.
Frei Ary E. Pintarelli, OFM. Sabedoria de um simples: os ditos do Beato Egídio de Assis. Petrópolis: Vozes, 1997
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