quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O QUE É UM RETIRO ESPIRITUAL?


“Solidão, recolhimento, vida interior. Queres encontrar a Deus?” “Afasta-se das criaturas”.
São Maximiliano Maria Kolbe-Sacerdote e Mártir
Buscar um tempo para si mesmo junto ao bom Deus. Um retiro espiritual deve ser marcado por este principal objetivo. Vivemos hoje num mundo de grande velocidade, agilidade de informação e compromissos diversos, onde, quase sempre, não temos tempo para nada e se não tiver tempo para Deus à morte espiritual é absolutamente certa! O ser humano, em especial os dedicados à vida religiosa, necessita de uma parada nas atribuições do dia-a-dia para ampliar esse contato ardente com o Pai celestial. O retiro torna-se este momento no qual paramos para refletir sobre nós mesmos, sobre a nossa condição de vida; para pensar em como estamos vivendo, quais motivações para as tarefas que realizamos e para o modo de vida que temos; como estamos agindo e nos comportando no meio da sociedade. Enfim, uma série de questionamentos que podem ser respondidos por meio do silêncio, da oração e de um aproximar-se mais intenso ao Senhor Deus.
O silêncio e o recolhimento na oração foram e são marcas constantes na Tradição da Igreja. Diversos exemplos de retiro e tempo para um encontro espiritual aparecem na Sagrada Escritura e na história da vida orante ao longo dos séculos. Os apóstolos permanecem no Cenáculo, por nove dias, na oração e no silêncio e esperaram a manifestação do Espírito Santo. Os eremitas, os monges até hoje seguem para o deserto onde se entregam ao conhecimento de si próprios e a união com Deus, para irradiarem a vida na Igreja e na sociedade com sua profunda sabedoria e mística.
Nos Santos Evangelhos, o exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo que se afastava das multidões que o seguiam e retirava-se para um ermo onde pudesse entregar-se a contemplação. Antes de iniciar a sua vida pública, recolheu-se a um deserto onde sua natureza humana foi posta a prova, sem que o demônio a pudesse dominar. Com seus discípulos, igualmente, ao voltarem da missão, retirava-se com eles para que pudessem, na solidão, estar a sós com Deus. (Cf. Mt 4,1-11; 14,23; Mc 1,35).
O santo retiro, o recolhimento e a oração tornam-se mais necessários para superarmos as forças e nos realizarmos como pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus, nos tornar à imagem de Cristo. É num retiro que somos convidados a nos entregarmos nos braços do bondoso Deus, confiarmos a ele toda a nossa vida. O retiro é um momento rico e oportuno para renovarmos a nossa vida de oração e nossa espiritualidade.
“A pratica do silêncio, da meditação e da oração favorecem diversas áreas cerebrais, tornando-as mais pacientes e altruístas”, afirmou a Dra. Adriana Gini, neurorradiologista italiana.
NOSSO DESEJO PARA DEUS
A grande mística e Doutora da Igreja Santa Teresa de Ávila disse: “A alma sente um desejo irresistível de Deus”.
O ser humano foi constituído com desejos, conhecimentos e transcendências. O nosso desejo atua de várias formas, porque somos carentes de tudo e estamos aspirando ao incomensurável. O nosso anseio é de fato e de verdade pelo impossível e pelo desconhecido da eternidade. Arde dentro de nós a vontade revelativa do segredo, do misterioso.
“O ínclito mestre da espiritualidade cristã Santo Agostinho de Hipona, a partir de sua abissal experiência com Deus, escreveu: ‘Fizeste-nos para ti e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em Ti”. Daí entendemos que o ser humano tem profunda fome e sede de Deus. Somente Deus pode satisfazer todos os nossos desejos. Ele colocou dentro de nós a eternidade (Ecl 3,11).
Temos a capacidade nata de comunhão com Deus. Cada ser humano traz no seu coração a marca de pertença ao Senhor Deus e atração do seu infinito amor. O maior desejo do ser humano é ver seu Criador, estar com Ele e viver para sempre com Ele.
Deus é amor, e viver esse amor é viver a infinidade da felicidade.
O DESERTO
Disse o Senhor: “Vou conduzi-la ao deserto e falar-lhe ao coração’ (Os 2,16). O retiro espiritual no deserto é uma modalidade específica a certas pessoas que o Senhor Deus direciona para uma intimidade abissal e uma missão grandiosa em prol da restauração individual e coletiva. Moisés (Ex 3,1-12); Elias (1 Rs 19, 4-8); João Batista Lc 1,80; 3,2); Jesus (Mt 4,1); Paulo (Gl 1,17.21; 2,1; (2 Cor 11,26). Os Padres do deserto, os eremitas, os monges, e os místicos.
Deserto é fator de solidão e silêncio. Solidão aqui é o todo ser da pessoa com a Santíssima Trindade e os anjos. Na solidão tomamos distância de toda materialidade e do contexto geográfico. É a dimensão absoluta do espírito, ou seja, liberdade da sua autêntica imaterialidade. O lugar, o tempo e a missão são por conta de Deus.
O silêncio é o colóquio da alma é a comunicação mais hipotalássica comigo, com Deus e com o próximo. Capacidade profunda de escuta que flui em nossa consciência a nossa realidade. O silêncio interior é o espaço total para a nossa alma e o silêncio exterior é a ausência total do barulho e de todo atrapalho.
CONCLUSÃO
Precisamos bastante de retiros espirituais. É uma excelente prática para cura, libertação e salvação. Fonte de saúde física, emocional e espiritual. Buscar conhecer vários tipos de retiros para crescer na graça e na sabedoria espiritual. Retiro é o mar de bênção que podemos mergulhar a alma com profundidade.
De todas as nossas atividades o tempo para o nosso retiro é sagrado. Nada, absolutamente nada, é mais importante do que o tempo de comunhão com Deus. O retiro é o tempo sacramentado para o alimento da nossa fé, robustez do amor, fortaleza de nossas virtudes e a gloriosa paz de espírito.
Sem tempo para Deus a pessoa vive rasa, vazia, superficial, virtual, parcial e infernal.
O retiro espiritual é graça abundante para todo o nosso ser.



por
Pe. Inácio José do Vale, Professor de História da Igreja - Faculdade de Teologia de Volta Redonda

Nenhum comentário: