domingo, 21 de agosto de 2011

HOMILIA DOMINICAL - ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA.


Outros Santos do Dia: São Pio X, Papa (Memória), Anastácio de Savona (mártir), Balduíno (abade), Bassa e seus três filhos: Teogônio, Agapito e Fidelis (mártires), Bernardo Tolomei (abade, fundador do Mosteiro de Monte Olivetto), Ciríaco e Hilário (mártires), Ciselo, Camerino e Luxório (mártires), Euprépio de Verona (bispo), Maximiano e Bonoso de Antioquia (mártires), Paterno de Fondi (mártir), Privado de Mende (bispo, mártir), Quadrato de Utique (bispo, mártir), Sidônio Apolinário (bispo de Clermont), Umbelina (monja, irmã de São Bernardo de Claraval).
Primeira leitura: Apocalipse 11, 19; 12,1.3-6.10
Uma mulher vestida como sol, tendo a lua sob os pés.
Salmo responsorial: 44
À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir.
Segunda leitura: 1 Coríntios 15, 20-27
Primeiro Cristo, que é as primícias, depois os que pertencem a Cristo.
Evangelho: Lucas 1, 39-56
O Todo-poderoso fez grandes coisas por mim.
Pela metade do mês de agosto a liturgia da Igreja se enche de alegria. No hemisfério norte, coincide, ou se fez coincidir, com as festas ancestrais da canícula do verão boreal. A alegria do auge das colheitas à sua plenitude agora ao celebrar a Assunção da Virgem Maria. Ela, a mãe de Jesus, é a "primeira cristã", deverá ser também a primeira a chegar até Jesus.
A fé da Igreja quis ver nela a confirmação definitiva de que nossa esperança tem sentido. Esta vida, ainda que nos pareça que está enferma de morte, na realidade está grávida de vida, de uma vida que se manifesta já em nós e que devemos celebrar já aqui e agora. E em primeiro lugar em Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe.
Na primeira leitura, encontramos um combate frontal entre a debilidade de uma mulher a ponto de dar a luz e a crueldade de um monstro perverso e poderoso que se apropriou de uma boa parte do mundo e quer arrebatar o filho à mulher. O Apocalipse faz um relato rico em simbologia no qual as comunidades cristãs podem estar representadas na mulher, reconhecendo que um setor do cristianismo dos primeiros dias teve um alto influxo da pessoa de Maria e da presença feminina em seu meio, como sustentador da fé da radicalidade.
Por outra parte, o monstro é sinônimo do aparato imperial. Com suas respectivas cabeças e chifres representa os tentáculos do poder civil, militar, cultural, econômico e religioso, empenhado em eliminar o cristianismo, por sua coragem profética já que se tornou incomodo para os poderosos da terra.
A segunda leitura abre belamente com a metáfora da ressurreição de Cristo como primeiro fruto da colheita. Em seguida esclarece que todos os que em vivem em Cristo, morrem em Cristo e também nele vão ressuscitar. Trata-se de uma afirmação da vida plena para os que assumem o projeto de Jesus como próprio e, nesse sentido, se fazem participantes da Gloria da ressurreição.
No evangelho, o canto de alegria de Maria proclamado no evangelho se faz nosso canto. Temos poucos dados sobre Maria nos evangelhos. Os estudiosos dizem que certamente esse cântico, o Magnificat, não foi pronunciado por Maria, mas que é uma composição do autor do evangelho de Lucas. Porém, não resta dúvida de que, ainda que não seja histórico, recolhe o autêntico sentir de Maria, seus sentimentos mais profundos diante da presença salvadora de Deus em sua vida. É cântico de louvor.
É a resposta de Maria diante da ação de Deus: Louvor e ação de graças. Ela não se sente grande nem importante por si mesma, mas pelo que Deus está realizando através dela. "Minha alma proclama a grandeza do Senhor".
Maria goza dessa vida em plenitude. Sua fé a fez viver já em sua vida a vida nova de Deus. Há um detalhe importante. O que o evangelho relata não acontece nos últimos dias de vida de Maria, quando já supomos que havia experimentado a ressurreição de Jesus, mas antes do nascimento de seu Filho. Já então estava tão cheia de fé que confiava totalmente na promessa de Deus. Maria tinha a certeza de que algo novo estava nascendo. A vida que ela levava em seu seio, ainda que em embrião, era o sinal de que Deus estava chegando e havia começado a agir em favor de seu povo.
Mais de uma vez, em certas ditaduras, este canto de Maria foi considerado revolucionário e subversivo, por isso censurado. Certamente o cântico é revolucionário e sua mensagem tende a reverter a ordem estabelecida, a ordem que os poderosos tentam manter a todo custo. Maria, cheia de confiança em Deus, anuncia que ele se colocou a favor dos pobres e deserdados deste mundo.
A ação de Deus muda totalmente a ordem social de nosso mundo: derruba do trono os poderosos e enaltece os humildes. Não é isso que estamos acostumados a ver em nossas sociedades, tampouco nos tempos de Maria. A vida de Deus é oferecida a todos, porém somente os humildes, os que sabem que a salvação vem somente de Deus, estão dispostos a acolhê-la. Os que se sentem seguros com o que possuem, esses perdem tudo. Maria soube confiar e estar aberta à promessa de Deus, confiando e crendo para além de toda esperança.
Hoje Maria anima nossa esperança e nosso compromisso para transformar este mundo, para torná-lo mais de Deus: um lugar de fraternidade, onde todos tenhamos um posto na mesa que Deus nos preparou. Porém, neste dia Maria anima sobretudo nosso louvor e ação de graças.
Maria nos convida a olhar para a realidade com olhos novos e descobrir a presença de Deus, talvez em embrião, porém já presente, ao nosso redor. Maria nos convida a cantar com alegria e a proclamar, com ela, as grandezas do Senhor.
Nota crítica: A esta altura é importante não falar da Assunção de Maria simplesmente como quem dá por suposto uma viagem quase sideral de Maria ao céu. Não é necessário deter-se uma vez mais na análise do tema dos "dois pisos" da cosmovisão religiosa clássica. Porém é necessário, ainda que seja só de passagem, lembrar os leitores que não estamos descrevendo uma anunciação literal, um transporte físico, mas uma expressão metafórica, para que não se entenda mal tudo o que com uma bela estética bíblico-litúrgica possamos dizer a respeito.


Missionários Claretianos

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