Leitura da terceira carta de São João - 5Caríssimo, fazes obras de fé em tudo o que realizas para os teus irmãos, mesmo para os irmãos estrangeiros. 6Estes, perante a comunidade, deram testemunho do teu amor. Farás bem em provê-los para a sua viagem, de um modo digno de Deus. 7Pois por amor do seu nome partiram, sem nada receber dos pagãos. 8Devemos, portanto, receber a tais homens, para cooperar com eles pela verdade. - Palavra do Senhor.
Evangelho: Lucas 18, 1-8
- Naquele tempo, 1Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que é necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo. 2Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava pessoa alguma. 3Na mesma cidade vivia também uma viúva que vinha com frequência à sua presença para dizer-lhe: Faze-me justiça contra o meu adversário. 4Ele, porém, por muito tempo não o quis. Por fim, refletiu consigo: Eu não temo a Deus nem respeito os homens; 5todavia, porque esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, senão ela não cessará de me molestar. 6Prosseguiu o Senhor: Ouvis o que diz este juiz injusto? 7Por acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por ele dia e noite? Porventura tardará em socorrê-los? 8Digo-vos que em breve lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra? - Palavra da salvação.
Essa parábola forma um par com a Parábola do amigo importuno (Lc 11,5-13), e também ensina a necessidade de oração paciente, persistente e perseverante. Ambas se harmonizam em sua estrutura, embora tenham sido proferidas em circunstâncias diferentes. Em ambas existe um raciocínio baseado no contraste completo e infinito entre Deus e o homem, e a evidência de que o Senhor cede aos argumentos e persuasão dos santos. Portanto as duas parábolas são estreitamente semelhantes por fazerem a mesma comparação e o mesmo contraste entre o que esperamos da natureza humana, mesmo imperfeita, e o que podemos esperar de Deus. Ambas nos conduzem à mesma conclusão que Deus não falha para conosco, como os amigos fazem às vezes.
Na parábola do juiz duro de coração e insensível, ele é apresentado como um homem sem princípios. Ele não temia a Deus nem tinha consideração pelos homens. Uma viúva da mesma cidade fora tratada injustamente por um inimigo e veio a ele pedir justiça. Embora a sua causa fosse justa, ele não deu atenção ao seu caso. Mas ela persistiu, voltando sempre com o mesmo pedido, até que finalmente o juiz decidiu fazer-lhe justiça, não porque ele se importasse com a justiça, mas simplesmente para livrar-se daquela viúva que o importunava tanto. Não houve outro motivo que o fizesse agir a não ser esse. Grandes contrastes são apresentados aqui! Arrogância e impotência extremas — e, no entanto, a impotência venceu no final. Quando procuramos dividir a parábola temos: A Viúva Importuna, O Juiz Injusto, O Juiz Divino e Justo.
Viúva importuna. As viúvas têm um lugar de destaque na Bíblia. Na época de nosso Senhor eram, até certo ponto, desprezadas, e constituíam presa fácil para qualquer homem que não tivesse princípios. Eram pobres e portanto não tinham alguém para protegê-las e resgatá-las. Sua única esperança era recorrerem aos que administravam a justiça para que interviessem a seu favor. Quase sempre despertavam pena e, por isso, a sua impotência em defender-se era reconhecida com misericórdia pela lei judaica. “A nenhuma viúva afligireis” (Êx 22:22-24; Dt 10:18; 24:17). A religião pura inclui o cuidado para com as viúvas em sua aflição (Tg 1:27).
Não nos foi revelado qual era a sua causa urgente. Ela fora injustiçada e buscava apenas justiça na questão com o seu adversário. O juiz era insensível e não tinha pena; no entanto, a viúva “ia ter com ele” — “vinha continuamente” (Lc 18:3), como devemos ir ao trono da graça se o nosso pedido inicial não for atendido. Insistia tanto que, finalmente, o juiz sem coração cedeu e resolveu atendê-la, “para que enfim não volte, e me importune muito”. Os discípulos provavelmente riram, quando ouviram esse toque de humor. Bem, a sua persistência prevaleceu e, no final, conseguiu do relutante juiz a justiça de que precisava e merecia.
Juiz iníquo. A conduta desse juiz testifica “A desorganização e corrupção generalizadas da justiça que prevaleciam sob o governo da Galiléia e Peréia na época”. Não há dúvida de que o caso que Jesus apresentou aqui tenha sido extremo. Porém havia representantes da lei cuja consciência estava morta. O que temos aqui era um homem que não tinha Deus. Ele não era religioso e nem mesmo humanitário. Nunca se preocupava com Deus ou com os homens. Cuidava apenas de si mesmo. Como judeu ele agia em contradição à lei, a qual decretava que se estabelecessem juizes nas cidades, em todas as tribos, e proibia rigorosamente juízos distorcidos, acepção de pessoas ou subornos (Dt 16,18-19). Esse juiz era descaradamente corrupto. Ele justificou a viúva somente porque o importunava e ele não queria ser molestado fisicamente.
A característica notável dessa parábola, a essa altura, é que o juiz viu a si mesmo da mesma maneira que Cristo se referiu a ele. Jesus disse sobre ele: “Certo juiz que não temia a Deus nem respeitava o homem”. Levado a agir por causa da persistência da viúva, lemos que o juiz “disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens”. Disse consigo! Esse juiz injusto não pensava em Deus nem na viúva —apenas em si mesmo, preocupado em não ser forçado a fazer o que quer que fosse. Esse homem tinha prostituído uma posição privilegiada.
Juiz divino e justo. Examinando como nosso Senhor aplicou essa sua parábola, torna-se surpreendente que ele tenha comparado os negócios de Deus não com os de um bom homem, mas com os de um homem mau e sem Deus, e essa característica apenas dá ainda mais poder à parábola. Há um contraste muito grande entre tudo o que o juiz era e o que Deus não é. Tudo o que Deus é, o juiz não era. Deus é exatamente o oposto em caráter a tudo o que o juiz era. Quando dividimos o ensinamento da parábola em partes menores, temos, primeiramente, a boa vontade de Deus em ouvir e responder aos pedidos dos que lhe pertencem. “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que os faça esperar?” Por causa da soberania e onisciência de Deus, ele responde às orações segundo a sua própria vontade. Ele se restringe à “perfeição do seu próprio Ser e pela permissão humana”. A expressão “fazer justiça”, referindo-se ao juiz injusto, e aqui a Deus, significa a efetivação de sua vingança, não no sentido de vingança, mas de justificação ou justiça. Quando tratados injustamente, os seus eleitos podem estar certos de que ele os justificará.
“Clamam de dia e de noite” expressa a mesma idéia da ordem do Senhor sobre “o dever de orar sempre”. Se o injusto juiz, por fim, reagiu ao lamento da viúva simplesmente para se ver livre dela, não responderá Deus, que é completamente justo, às orações dos que lhe pertencem, que trabalham debaixo da injustiça e opressão? Se um simples sentimento egoísta prevaleceu sobre o homem perverso, muito mais ainda os santos podem esperar de Deus. Se a importunação e a perseverança da viúva finalmente prevaleceram, muito mais ainda essas virtudes prevalecerão com relação a Deus. Se estivermos bem com Deus, saberemos que da mesma forma que ele nos elegeu, também nos fará justiça e nos responderá. Podemos esperar um tratamento melhor da parte de um Deus de amor, do que de um juiz sem coração.
“Ainda que os faça esperar”. O juiz suportou por muito tempo a viúva e, às vezes, Deus parece também estar indiferente às nossas petições. George Müller orou por mais de cinqüenta anos pela salvação de um amigo, até que ele se converteu. Muitas vezes a interferência humana é o maior obstáculo para que as nossas orações sejam respondidas. Além disso, um dos propósitos da oração que Deus demora a atender, é a fortificação da nossa fé e da nossa paciência. Não sabemos o tempo e os caminhos de Deus. “Ele tudo fará” (SI 37,5). Deus não tem que acordar no meio da noite; ele também não é egoísta; ele não se nega a ajudar de forma abundante. Quando aparentemente Deus segura a reposta aos pedidos de seus filhos, ele faz isso com sabedoria e amor.
“Quando, porém, vier o Filho do homem, achará fé na terra?” Aqui o Senhor retorna à mensagem profética do capítulo anterior. Quando ele voltar para destruir toda a injustiça do mundo, será que encontrará ainda alguma fé na terra? Com Certeza! Haverá muita fé depositada em objetos falsos. A fé entregue aos santos será um artigo raro. Nosso dever supremo, apesar de toda oposição e tribulações, é manter a fé —”tende fé em Deus” (Mc 11,22-24).
Nossa palavra final é que a viúva não prevaleceu por causa de sua eloqüência ou por sua elaborada petição. Suas palavras foram poucas, somente seis: “Faz-me justiça contra o meu adversário”. Seu clamor foi curto e explícito. Ele nada disse sobre a sua condição como viúva, sua família ou sua opinião sobre o juiz iníquo, Tudo que ela queria era justiça contra o seu adversário. Deus nos assegura que ouve e responde nossas orações e isso deve nos incentivar a pedir insistentemente. Os elos da corrente que nos ligam ao céu e traz o céu até a terra, são os elos das nossas orações.
Pe Bantu
Nenhum comentário:
Postar um comentário