sexta-feira, 31 de março de 2017

A DEPRESSÃO E A RELIGIOSIDADE.

75% das pessoas com depressão não sabem que estão doentes e por isso sofrem sem tratamento adequado.

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Uma silenciosa epidemia está assustando cientistas do mundo todo. Estima-se que só no Brasil 10 milhões de indivíduos sofrem com a doença já considerada o “Mal do Século XXI”.
Estamos falando da “depressão”, uma moléstia que, segundo a Organização Mundial da Saúde, é avaliada como uma das doenças mais caras para a sociedade, pois o consumo de antidepressivos no País movimenta cerca de 140 milhões de dólares por ano, além dos prejuízos decorrentes da perda de produtividade e dos afastamentos no trabalho, sem contar os custos do sofrimento humano que não podem ser mensurados.
Estima-se que devido ao desconhecimento das pessoas sobre o tema, somente 1 em cada 4 indivíduos com depressão tem conhecimento do transtorno que o aflige e consegue buscar auxílio. Ou seja, 75% das pessoas com depressão não sabem que estão doentes e por isso sofrem sem tratamento adequado, apresentando perda da autoestima e da capacidade de se concentrar, o que leva a dificuldades profissionais e familiares.
É natural que as atribulações do dia a dia, os acertos e erros, os problemas comuns no trabalho e nos relacionamentos causem variações temporárias no humor de um indivíduo. É também normal e até esperado que um indivíduo fique alguns dias sem ânimo e triste após perder um ente querido ou ir mal em uma prova. Isso, porém, não significa que a pessoa está com depressão. Vivenciar e lidar com esses períodos de tristeza ou de luto fazem parte do desenvolvimento da personalidade humana.
Entretanto, em certos indivíduos ocorrem algumas alterações químicas no cérebro – substâncias responsáveis pela alegria e equilíbrio do humor –, pois a serotonina, a noradrenalina e a dopamina estão em desequilíbrio e isso desencadeia a depressão: um estado de humor acabrunhado e de tristeza, que não estão diretamente relacionados a experiências tristes.
Pessoas com depressão se sentem infelizes a maior parte do tempo, apresentam interesse diminuído ou perda de prazer para realizar as atividades de rotina (estado conhecido como anedônia), sensação de inutilidade ou culpa excessiva, dificuldade de concentração, fadiga ou perda de energia, distúrbios do sono (tanto pode ocorrer insônia como sono excessivo), perda ou ganho significativo de peso, mesmo em alteração na alimentação, bem como ideias recorrentes de morte ou suicídio. 
Conhecer esses sintomas é importante para que o indivíduo possa sair do grupo dos 75% desconhecedores da doença e consiga buscar tratamento que consiste em psicoterapia e, nos casos graves, no uso de medicamentos conhecidos como antidepressivos.
É importante ressaltar, por fim, que diversos estudos e pesquisas científicas estão evidenciando a importância da religiosidade na prevenção da depressão. Um interessante trabalho publicado no Journal of Adolescent Health, em 2005, demonstrou o seguinte: indivíduos que relatam ter uma religião e frequentam serviços religiosos (como a Santa Missa) apresentam menos depressão e menos comportamentos de risco à saúde (como consumo de substâncias ilícitas). Tais estudos sugerem que a religiosidade promove a resiliência (capacidade de lidar com situações adversas) e hábitos de vida mais seguros, o que interfere positivamente na saúde mental da pessoa.  
Mais: um estudo publicado no periódico Jama Psychiatry, em 2013, realizado na Universidade de Columbia (EUA), com 103 pessoas com idades entre 18 e 54 anos, demonstrou que os indivíduos com chances de desenvolver depressão têm a espessura do córtex cerebral mais fina, ao passo que as religiosas, por isso com menor risco de depressão, têm uma espessura mais grossa.
Trabalhos anteriores a esse já haviam demonstrado que entre pessoas com predisposição genética à depressão aquelas que são religiosas podem ter um risco até 90% menor de desenvolver o transtorno do que as que não são religiosas.
Note-se que são dados oferecidos pela ciência experimental e não pela fé.



Vanderlei de Lima é filósofo; Igor Precinoti é médico, pós-graduado em Medicina Intensiva (UTI), especialista em Infectologia e doutorando em Clínica Médica pela USP.

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